quarta-feira, outubro 18, 2006

Funcionários Públicos de Todos os Países Uni-vos


O que é feito da classe operária, a vanguarda do proletariado?

Em pouco mais de uma dúzia de anos os empresários portugueses, que nem são famosos pela sua inteligência, para se ver um sindicalista é necessário que encerre uma fábrica têxtil para que possamos ouvir falar de sindicalistas, e quando isso sucede lá aparece alguém com uma pasta e com ar de caixeiro-viajante a dar a entrevista da praxe.

Não há sinal de uma única luta sindical em empresas privadas, na banca (onde os lucros crescem na proporção inversa dos salários) o ambiente parece ser de harmonia, ó único metalúrgico no activo parece ser Jerónimo de Sousa, dos heróicos trabalhadores rurais da reforma agrária só se ouve falar quando as autarquias os leva a passear de avião, na construção civil (onde vale tudo menos tirar olhos) vive-se em paz laboral. Os grandes sindicatos são agora os dos trabalhadores do Estado.

O PCP tem hoje mais influência entre os polícias do que tinha no meio dos metalúrgicos, tem maior capacidade de mobilização de professores do que de trabalhadores rurais, que quando participam de manifestações é para conduzir os tratores dos proprietários rurais descontentes com o ministro da Agricultura. Mesmo em sectores onde o sector privado convive com o público, só ouvimos falar de sindicatos nas empresas públicas, como se os trabalhadores do sector privado vivessem no paraíso, os trabalhadores das empresas públicas de transportes fazem greve e são os trabalhadores das empresas privadas que conduzem os alternativos.

Os empresários portugueses, que nem são famosos pela inteligência, conseguiram derrotar o PCP e os seus sindicatos? A concentração de esforços do PCP nas estruturas do Estado resulta de um recuo e perda de influência no sector privado, de uma estratégia política ou dos dois fenómenos?

É evidente que é mais fácil enfraquecer governos com greves na Função Pública do que em empresas privadas, que é mais fácil manter estruturas laborais com sindicalistas pagos pelo Estado do que em empresas privadas, que se tem maior protagonismo nos médias provocando instabilidade no Estado do que com uma greve numafábrica de parafusos da Moita. Além disso, a fragilidade das nossas empresas privadas não permite grandes agitações e nos sectores que vivem desafogadamente o PCP (como a banca e os seguros) quase foi banido, nem mesmo numa PT e que nem se sabe qual vai ser o dono se vê grande actividade sindical, para além de umas audiências gentilmente concedidas pela ANACOM.

No Estado não há o risco de a fábrica fechar, nas traseiras do gabinete do ministro há uma imensa máquina de fazer dinheiro que trabalha dia e noite, os contribuintes suportam tudo, e quanto pior estiver a situação financeira maiores serão os motivos para desencadear lutas gloriosas. O Estado tem o patrão mais dócil e simpático, os contribuintes.

Até que venha um governo de direita arrumar a casa, fazer tudo o que o Compromisso Portugal exige, e quase aposto que nessa altura vai suceder ao sindicalismo do Estado o mesmo que já sucedeu na privada. E no fim ainda consegue duas maiorias absolutas, como sucedeu com Cavaco Silva.

É bom lembrar que quando a Manuela Ferreira Leite ameaçou avançar para os despedimentos dos funcionários não faltaram sindicalistas a fazer xixi nas calças e a recomendar calma aos funcionários públicos.