terça-feira, dezembro 19, 2006

A Minha Utopia: Portugal Pode fazer Melhor

Eu sei que é uma utopia, mas penso convictamente que Portugal pode fazer melhor. E é uma utopia porque cada português tem um responsável para os seus males, mas pio do que isso, para as suas incapacidade ou mesmo para a sua cobardia. Os alunos não aprendem por culpa dos ministros da Educação, falta produtividade porque os patrões são maus gestores, o país atrasa-se porque temos maus políticos, os tribunais não andam porque precisam de funcionários judiciais, a sinistralidade na estrada mata-nos porque a BT tem poucos carros, ara todos os problemas há algures um responsável que nos iliba da mais pequena culpa.

Talvez seja a herança de uma ditadura que nos marcou culturalmente com o seu paternalismo, ou uma história que nos habituou a esperar oportunidades fáceis, ou porque o clima nos estimula a preguiça, quem sabe se o facto de o país nunca ter sido destruído por uma guerra nunca nos obrigou a romper com o marasmo, e quando o terramoto nos fez ruir tivemos a sorte de os cofres ainda estarem cheios com o ouro do Brasil que deu para reconstruir Lisboa e ainda sobrou para a enchermos de igrejas.

Lembro-me da anedota do pescador do Algarve que já aqui contei:

  • O turista chegado de Lisboa perguntou ao pescador, que descansava deitado na praia, porque não ia pescar.
  • Para quê, perguntou-lhe o pescador.
  • Porque pescando mais podia comprar o seu próprio barco e a resposta foi a mesma, para quê?
  • Porque com um barco poderia comprar outro barco disse-lhe o turista que voltou a ouvir a mesma resposta, para quê?
  • Com dois barcos já ganhava o suficiente e nem precisaria de trabalhar e volta a ouvir o mesmo para quê?
  • Se não precisasse de pescar poderia vir para a praia deitar-se.
  • E o que é que estou fazendo? Perguntou-lhe o pescador?

É assim que pensamos e só quando o nosso orgulho é ferido é que nos revoltamos, somos os últimos em quase tudo o que é bom e os primeiros no que é mau, e quando não somos a tendência é para irmos parar à posição a que o destino nos condenou. Durante dois dias discutimos o ssunto, para eleger o culpado dos nossos males e aproveitamos o acontecimento seguinte para voltar à nossa rotina.

Não faltam culpados, para a direita há Estado a mais, para a esquerda Estado a menos. Para os trabalhadores o mal é dos salários baixos e da má gestão dos patrões, para estes o mal está nos salários altos e na legislação laboral. Para os médicos a culpa é dos ministros da Saúde, para o ministro a culpa é das farmacêuticas, para as farmacêuticas a culpa é das farmácias, para as farmácias a culpa é dos genéricos, para os genéricos a culpa é da falta de publicidade, para os publicitários é culpa dos consumidores, os consumidores queixam-se dos impostos e estes da evasão fiscal, a evasão fiscal resulta das leis, os juízes dizem que as leis não se aplicam porque são muitas, o ministro da justiça acha que o mal é das férias judiciais. Os portugueses em vez de encontrarem as causas tentam resolver todos os problemas da forma mais cómoda, identificando o culpado que, devido a uma estranha coincidência colectiva, é sempre do parceiro que está ao lado.

Somos um país de culpados incapazes de encontrar um objectivo comum, somos vítimas colectivas do parceiro ao lado, apenas nos unimos no futebol, mas mesmo aí a culpa é inevitável, de não for do frango do Ricardo é do árbrito que prejudica o país pequeno, e no dia seguinte regressamos às culpas domésticas.

Mas ninguém me tira da cabeça que se cada português fizer melhor Portugal vai lá.

Pura utopia dir-me-ão, os trabalhadores porque não estão dispostos a enriquecer o patrão, os patrões porque estão fartos de pagar impostos, os funcionários públicos porque depois alunos ficariam a mais, os médicos do SNS porque depois não podiam ter o part-time no privado, os magistrados porque a sua profissão perdia protagonismo, e os políticos porque os eleitores poderiam ficar mais exigentes.

Foi assim que Deus quis justificam os católicos, é azar justificam os ateus, é uma tristeza de povo arrisco eu.