sexta-feira, março 16, 2007

A (não) propaganda de Sócrates

Muito se tem dito da propaganda feita por este Governo, quando a agenda política não fornece melhores argumentos, como sucede actualmente com a questão da segurança, regressa a acusação de que Sócrates recorre à propaganda. Não me parece que esta crítica seja certeira, mais do que recorrer à propaganda o primeiro-ministro é um especialista da não propaganda, mais do que fazer barulho José Sócrates é um exímio gestor do silêncio. Fala pouco, diz o que quer, onde quer e quando quer e ainda estamos a pensar no que ele disse e já desapareceu, o que é notável pois o que José Sócrates diz tem pouco para pensar.

Compare-se, por exemplo o ruído que houve com o projecto de lei do arrendamento urbano do tempo de Santana Lopes com a que foi aprovada por este Governo. Com Santana durante algum tempo não se falou doutra coisa, o país quase parou para discutir o projecto governamental, com este governo a lei foi aprovada e quase nem se deu por isso.

Veja um outro exemplo, a actuação do ministério das Finanças no domínio das mexidas do estatuto dos funcionários públicos, ou mesmo do estatuto dos professores, alguém pode criticar Sócrates? Não, ninguém ouviu o primeiro-ministro dizer uma única palavra sobre estas matérias, aliás, nem sequer o ministro se pronuncia.

Nunca ouvi o ministro anunciar uma única medida soube-as sempre por uma notícia da comunicação social anunciando que o governo tem a intenção de adoptar uma determinada medida, notícia que prontamente é desmentida pelo Governo. Pelo sim, pelo não desatamos a discutir essa suposta medida mas sem qualquer participação do Governo que diz nada ter com o assunto já que foi coisa de um qualquer jornal. Quando já estamos cansados de discutir, depois de termos dito tudo sobre o assunto, eis que a tal medida é adoptada discretamente num Conselho de Ministros cujo principal ponto da ordem de trabalhos era o problema da reprodução das gaivotas das Berlengas.

Sócrates é um especialista da não propaganda, os portugueses discutem cada vez menos pois começam a ficar descansados de discutir medidas hipotéticas, programas eleitorais que não contam para nada e programas de governo que só serviram para abater os pinheiros necessários para o papel do Diário da República.

Sócrates está bem visto não pelo que diz mas sim porque nada dizendo não assume quaisquer riscos. Marques Mendes ainda não encontrou solução para esta “defesa em linha” e acaba pró ser o bombo da festa, o principal alvo da crítica deslocou-se de quem governa para quem faz oposição.