sábado, março 10, 2007

O cidadão modelo da RTP da Judite

Ontem ouvi Valentim Loureiro dizer, com aquele ar de cidadão moralmente superior que todos lhe conhecemos, que iria explicar tudo num canal de televisão. Fiquei meio atónito pois o “Perdoa-me” já acabou há muito tempo e não estava a ver o autarca de Gondomar pagar publicidade do seu bolso, não imaginava que um cidadão tão exemplar pudesse dispor de tempo de antena. Não podia crer que a RTP iria usar o dinheiro dos contribuintes para permitir a um sujeito que é suspeito de corrupção vir fazer campanha televisiva enquanto está envolvido com a justiça, nem imaginar o Pinto Balsemão metido com esta gente e para artista de reality show da TVI o Valentim já está tão gasto como o Marco do Big Brother.

Mas enganei-me, Valentim vai ter mesmo direito a prime time na televisão que pagamos com os nossos impostos e não só vai poder usar um bem que é público como se dá ao luxo de o anunciar com das semanas de antecedência como se fosse ele o dono da estação de televisão. Enquanto a justiça acusa a RTP antecipa a barra do tribunal com uma audiência conduzida pela Judite Sousa.

Não deveria ter ficado admirado, a "Grande Entrevista" da Judite de Sousa tem servido com frequência para fazer exercícios de reanimação de aflitos do PSD, se alguma personagem da direita ou do mundo da bola está em dificuldades é certo e sabido que na semana seguinte vai para tratamento naquele programa, uma verdadeira "ala dos queimados" da RTP. Sucedeu há pouco tempo com Carmona Rodrigues, vai voltar a ocorrer com Valentim Loureiro, como já aconteceu com outros.

Só que de Valentim Loureiro não há mais nada a saber e se o houver é mais do domínio da justiça do que da comunicação social. As únicas entrevistas úteis que Valentim Loureiro poderá dar neste momento serão aquelas que Manuela Morgada entender serem necessárias e não as da Judite Sousa. As primeiras servem para apurar a verdade, as segundas servirão apenas para iludir essa mesma verdade, as primeiras fazem parte da justiça enquanto as segundas só poderão ser úteis para dificultar a justiça.

Ao promover este tipo de entrevistas a RTP está a promover cidadãos que estão longe de terem demonstrado serem modelos de cidadania e, pior do que isso, está a interferir na opinião pública no meio de um processo judicial, dando ao mais conhecido dos arguidos a possibilidade de virar essa opinião pública contra a justiça.

Entrevistas como esta deveriam ser transmitidas a partir de Medelin, na Colômbia. Resta-nos a nós enquanto cidadãos responder não vendo a RTP nesse dia o que, aliás, já se está a tornar num hábito.