quinta-feira, março 08, 2007

Violência nas escolas: o que mudou em 40 anos?



Entre aquilo a que assisto agora e o que conheci quando andava na escola primária passaram quarenta anos e as escolas mudaram para muito melhor, não tanto como deveria ter sucedido mas mudaram. Os professores estão melhor preparados (mas duvido que se dediquem ou ensinem tanto quanto os meus), as escolas estão melhor equipadas, os programas são mais modernos, tudo mudou para melhor menos a disciplina, a democracia e a infinidade de experiências pedagógicas não souberam substituir os métodos do tempo da ditadura.

Não basta dizer que há pobres, nesse tempo os pobres eram muitos mais e os problemas dos pobres eram os mesmos de hoje mas sem qualquer ajuda do Estado, assistentes sociais era profissão que quase não existia, não havia realojamentos, aqui e acolá construía-se um bairro operário, o desemprego abundava, os ciganos estavam mais marginalizados do que hoje. Portanto a culpa não deverá ser da pobreza, até porque a violência na escola não é exclusivo dos pobres.

Da falta da palmatória também não deve ser, naquele tempo eram muitos os professores que não a usavam e não deixavam de ter turmas sem problemas de violência ou de indisciplina. É evidente que se o papá de um aluno que vai agredir um professor soubesse que levaria um murro na cara perdia a vontade de o fazer.

Aliás, a escola não têm o exclusivo da violência, ele existe em todas as repartições públicas e quando não é notícia a violência na escola é a que se regista nos hospitais, onde médicos e enfermeiros são tão agredidos quanto os professores. Então o que está mal?

Basta olhar para as notícias e percebemos, alguém vê o ministro das Finanças preocupado com os modelos de gestão dos serviços públicos? Alguém viu a ministra da Educação perguntar aos professores o que precisam para melhorar a qualidade no ensino? Não, desde há meses que a culpa de todos os males do país é dos funcionários públicos, a regras para despedir quem não cumpre dão mais votos do que a nomeação de chefias competentes.

Os mesmos portugueses que nunca se lembrariam de gritar numa loja da Vodafone, até porque cada loja conta com o segurança, acha que por pagar (os que pagam) impostos pode desancar no primeiro funcionário público, seja médico, professor ou mesmo polícia, nem os magistrados se escapam. E sabem que se o funcionário reagir pede logo o livro amarelo e parte descansado, a vingança fica completa com um processo disciplinar, e nos tempos que correm é melhor para o funcionário “abaixar a bola” do que reagir, ninguém o vai proteger. Aos políticos o que dá votos e a demissão de funcionários públicos.

E se os pais não respeitam os funcionários públicos os filhos, que quantos mais mal-educados mais bem tratados são pois ganham o estatuto privilegiado de “crianças vulneráveis”. Se eu fosse fazer queixa de um professor à minha mãe teria que ter muita razão, se não a tivesse ainda levava para não repetir a brincadeira, agora a “criancinha vulnerável” queixa-se do professor aos pais e a família vai à escola meter o professor na linha.

Se ninguém neste país trata bem os funcionários públicos, começando pelos próprios políticos, porque hão-de ser as crianças a dar o exemplo tratando bem os professores? A relação entre o Estado e a sociedade está cada vez mais doente, esta não será a única causa mas a solução do problema da violência nos serviços públicos, sejam escolas ou hospitais, também passa por aqui.