quarta-feira, junho 20, 2007

Mude-se o modelo de gestão do sistema de ensino

Agora que Sócrates já se deve ter recomposto das eventuais ofensas à progenitora, proferidas por um qualquer subversivo ex-deputado do PSD que se esqueceu das pastilhas Rennie, talvez mereça questionar para quer serve tal o serviço da zelosa directora, onde os directores pedagógicos podem ser suspensos na hora. Incidente à parte, a verdade é que ficámos a saber que pagamos impostos para manter uma estrutura inútil, como ainda se anda a perder tempo e dinheiro com palermices disciplinares, o processo disciplinar tem custos e é pago por todos (talvez por isso tenhamos o direito a um pouco de diversão à conta do incidente), para não falar do vencimento, aliás, cinco sextos do vencimento, que será pago a um funcionário que não está a trabalhar porque isso colide com o funcionamento do fígado da zelosa directora.

Ficámos a saber que essas estruturas regionais têm gestores de recursos humanos, de pedagogia e sabe Deus de que mais, que nelas trabalham professores que apesar de o serem não devem gostar de ensinar pois metem cunhas para se refugiarem em gabinetes de boys.

Para se servirão estas estruturas?

Dir-me-ão que serve para gerir as escolas porque estas não têm autonomia, funcionam como meras repartições que fazem o que podem ser recursos e com os professores que são lá colocados. Enquanto a zelosa directora anda preocupada com a honorabilidade das progenitoras da Nação e gasta dinheiro em processos disciplinares, há escolas onde falta o papel para fotocópia, onde a fotocopiadora já devia ter sido substituída, onde o professor não pode usar o projector porque a lâmpada está fundida ou onde o pátio tem mais buracos do que uma rua de Bagdad. Nesta estrutura piramidal os últimos a aceder à mesa do orçamento da educação são as escolas, onde se passa mais frio e calor do que nos gabinetes centrais e regionais.

Aposto que no gabinete onde ocorreram os factos tem mais conforto que qualquer sala de aula, não está sujeito a restrições de consumos, está quentinho no Inverno e fresquinho no Verão. Aposto que antes de os recursos chegarem às escolas já a tal direcção regional aplicou a regra de que quem parte e reparte ou é estúpido ou não tem arte. Aposto que manter um dirigente destas estruturas do ministério custa quase tanto ou mesmo mais que uma turma de uma escola do ensino básico.

Quanto pouparia o país se as escolas fossem geridas localmente, se pudessem escolher criteriosamente os seus professores, se reutilizassem os recursos gastos pelo imenso aparelho do ministério da Educação, se fosse geridas por gestores (ainda que fosse prioritariamente escolhidos entre os professores com vocação e habilitações)?

A verdade é que o imenso aparelho do ministério da Educação serve para gerir um modelo de gestão de recursos megalómano e centralizado, a verdade é que este aparelho não visa os alunos mas sim alimentar uma estrutura de que os alunos são beneficiários. A verdade é que esta estrutura consome uma boa parte dos recursos que o país investe na educação.

Talvez seja tempo de mudar o modelo de gestão das escolas, dando a estas o protagonismo e os recursos de que carecem. Desta forma, a zelosa directora mais o ex-deputado estariam a fazer aquilo para que foram contratados, a dar aulas, em vez de andarem a usar o dinheiro dos contribuintes com guerrilhas de boys. Esta seita só é necessária porque os muitos milhares de professores e gestores competentes têm as suas funções condicionadas apenas para manter a sua existência, um modelo de ensino bem gerido deve centrar-se na escola e não em gabinetes inúteis onde se concentram boys sem habilitações e competência, que se entretêm a gastar o dinheiro do Estado com espectáculos tristes.