terça-feira, setembro 25, 2007

A política como bolsa de valores

Talvez em resultado de uma ditadura ou porque desde que foi instituída a democracia ocorreram numerosas crises políticas, designadamente quando os governantes foram de qualidade duvidosa, os portugueses olham para a actividade política como quem olha para os indicadores da bolsa. Os governantes tendem a ficar nervosos mal as suas “acções” descem ainda que ligeiramente, os da oposição olham para as “cotações” com maior ansiedade do que os especuladores da Wall Street. Os próprios órgãos de comunicação multiplicam os barómetros e as sondagens e avaliam-na com a mesma seriedade com que analisam as sondagens feitas à boca das urnas.

A oposição convive mal com a estabilidade política, uns porque precisam do acesso ao poder para manter o seu rebanho unido e bem nutrido, outros porque ter um governo estável é uma derrota das suas ideologias. A direita julga-se com o direito natural ao exercício do poder. A extrema-esquerda, seja a do fato-macaco ou da Façonnable, porque a realidade é a negação do que definiram como “socialismo científico”, segundo o qual há muito que o paraíso terrestre não deveria estar confinado a Pyongyang, Xangai, Luanda ou Havana.

A extrema-esquerda reserva o seu projecto político para quando a democracia for de qualidade superior, ou seja, quando o poder emanar de uma vanguarda eleita por si própria. A extrema-esquerda não pretende o governo, quer que todo o progresso tenha a aparência de conquistas

sociais, o mundo evolui porque ela existe.A direita perde a convicção na democracia quando esta a remete para a oposição, essa situação é a excepção à regra, um defeito do sistema político que por ser insuportável é para suportar o menos possível. A história da democracia deu-lhe razão, a regra é os governos do PS caírem prematuramente, de preferência quando tiverem resolvido as crises financeiras. O PSD chegou ao poder várias vezes antes do que era suposto, a estratégia da direita deu resultado com Cavaco Silva e Durão Barroso.

Como o exercício do poder é um direito natural da direita esta dispensa-se de ter programa, entretém-se fazendo unas propostas de circunstância, procura deslizes dos governantes para fazer chacota política, inventa alcunhas para os primeiros-ministros. Em vez de propor soluções alternativas limita-se a desvalorizar o que se faz, e quando são incapazes de contestar optam pela situação cómoda de dizer que o governo se apropriou das suas ideias.

Se nos palácios quer a direita quer a extrema-esquerda comem de faca e garfo, fora dos palácios o nível baixa, recorre-se à insinuação, ao adjectivo ofensivo, à baixa política. Com ou sem faca e garfo todos desejam o crash, todos anseiam que os governos façam as asneiras, que o país se afunde, incapazes de propor melhor limitam-se a esperar pelo pior, para que um povo desesperado volte a ter esperança nas suas soluções que apresentam como mal menor.