quarta-feira, novembro 14, 2007

Deus nos livre de torres de escritórios

Autarca que queira ficar bem na chapa faz um discurso contra as torres, pode não dizer nada, explicar ainda menos, mas fica tão bem visto como se lutar contra a extinção do lince da Serra da Malcata ou, o que agora está a dar, do lince ibérico. Em Portugal e, em particular, em Lisboa há um complexo anti-torres, sempre que se fala do tema tememos logo que nos tirem a vista, mesmo que moremos num rés-do-chão da Rua de São Bento.

Como não podia deixar de ser, António Costa que está mais preocupado com os votos que vai ter nas próximas eleições do que com o governo da cidade fez o discurso anti-torres a propósito da zona ribeirinha e ouviu-se logo um bruá de admiração por parte dos seus admiradores, assessores e demais clientela da autarquia da capital.

Eu não sou nem contra, nem a favor das torres, sei que há cidades modernas que têm as suas zonas histórias protegidas, zonas de torres de escritórios e de habitação, excelentes espaços verdes cuidados e com segurança e zonas habitacionais onde se respira bem-estar. Em Lisboa não há nada disso, não há as malditas torres, os espaços verdes servem para levar o cão a fazer o serviço, os bairros históricos estão ao abandono, os bairros residenciais deixam muito a desejar (veja-se o desprezo a que tem sido votada a alta de Lisboa).

Pensar e governar a cidade é muito mais do fazer oratória ruralista, sugerir que todo o espaço disponível da cidade deverá servir para campos de golfe sem buracos, e transformar as tarefas da gestão corrente em grandes campanhas salvadoras, como sucedeu recentemente com a promessa de pintar meia dúzia de passadeiras antes do Natal ou de limpar algumas ruas que a própria autarquia deixou que ficassem encardidas.

Lisboa é demasiado importante para os seus cidadãos e para o país para que seja gerida com promessas de que não vão haver torres ou de criar uma região demarcada de vinho, de azeite ou de corvinas. Lisboa precisa de desenvolver-se, de criar emprego e riqueza, de gerir recursos financeiros que possibilitem a sua modernização. Para isso é importante ter uma visão ampla, ambição e uma estratégia assente no que se quer e não na mera afirmação do que não se quer só porque é isso que os eleitores querem ouvir.

Lisboa é uma cidade que está a empobrecer, que perde alguns dos seus melhores habitantes, que não tem tido capacidade para atrair e fixar empresas modernas, que não tem sido capaz de rentabilizar os seus recursos. Tem sido gerida por autarcas incompetentes, atrofiada pelas entidades gestoras de infra-estruturas de transportes, tem perdido competitividade.

Lisboa precisa de um governo e de uma visão de futuro, precisa de ser governada e não de ser gerida a pensar nos votos das próximas autárquicas, precisa de coragem na decisão e não de uma visão saloia e eleitoralista, precisa de governantes com coragem para fazer a diferença, mesmo que isso possa custar uma derrota eleitoral, Lisboa ganhou mais com os autarcas derrotados do que os que nos últimos anos recorreram ao voto fácil.