terça-feira, janeiro 22, 2008

Discurso político: da depressão à ilusão


Os políticos portugueses ainda não perceberam que os seus discursos optimistas pouco influenciam a economia, poderão enganar os eleitores mais descuidados ou ignorantes ou distraídos, mas pouco influenciam as decisões dos investidores e agentes económicos e, em particular, dos investidores. Ninguém aguarda pela mensagem de Natal do primeiro-ministro para decidir um investimento nem deixa de o fazer porque Menezes descobre todos os dias que o país está à beira da falência.

Os políticos portugueses insistem no erro de tentarem confundir os ciclos políticos com os ciclos económicos, como pouco podem fazer com os parcos instrumentos de política económica que lhes resta têm a ilusão de que o discurso político pode influenciar a realidade. O resultado é desastroso, durante a primeira metade das legislaturas os governantes recorrem a um discurso deprimente para na fase final exagerarem no optimismo. Os líderes dos partidos da oposição têm a mesma atitude, só que preferem recorrer ao discurso deprimente durante toda a legislatura, numa lógica de quanto pior melhor.

No actual contexto económico mundial o governo pouco mais pode fazer do que evitar as asneiras e promover as reformas económicas que assegurem a competitividade externa da economia. O recurso a políticas expansionistas assentes na despesa pública não só poderão revelar-se desastrosas como têm menos resultados a longo prazo do que, por exemplo, boas políticas de educação e formação profissional.

Décadas de keynesianismo combinado com uma ditadura economicamente paternalista habituaram os portugueses a esperar do Estado a adopção das soluções para todos os seus males, os consumidores esperam que o Estado assegure preços baixos, os investidores esperam ajudas ao investimento, os desempregados contam com a criação de emprego. Uma boa parte do discurso político dos partidos do poder encaixa neste modelo e os partidos mais à direita ou à esquerda são mesmo os grandes defensores de que é no Estado que está a solução de todos os nossos males.

O momento actual evidencia bem a dicotomia entre a realidade económica e o discurso político. De um lado temos a alta dos preços dos produtos agrícolas e do petróleo, a crise nas bolsas e a perda de competitividade face às economias emergentes. Mas para os nossos políticos Portugal vive em autarcia, para o governo todos os sinais são positivos enquanto para a oposição da quebra do investimento ao aumento do preço do pão, tudo é resultado de más políticas.

Entre uma realidade que ninguém explica e um discurso político desfasado dessa realidade os portugueses vivem num mundo de sonhos e depressões, num dia dizem-lhes que são uns malandros pouco produtivo, no outro prometem-lhes o oásis.