terça-feira, fevereiro 19, 2008

A culpa foi da chuva


A meteorologia tem destas coisas, às vezes chove demais em muito pouco tempo e como se isso não bastasse o período de mais precipitação coincide com a preia-mar. Quando assim sucede não há infra-estruturas que cheguem para fazerem escoar milhões de litros de água. Pode-se dizer que em Sacavém há problemas de ordenamento no território, mas isso não explica o caso de Setúbal cuja baixa da cidade têm uma cota inferior à o mar.

As recentes cheias evidenciaram a forma como os políticos e jornalistas reagem a situações difíceis, em vez de responderem à situação, para depois avaliarem as causas e, eventualmente, apurar culpas, fazem o contrário, ainda a situação não se tinha resolvido já os jornalistas estavam em busca de culpados e o ministro do Ambiente apressou-se a dizer que a culpa era das autarquias.

Entretanto o problema passou, o ministro segue a sua agenda e os jornalistas andam em busca de novas notícias para alimentar a primeira página, sorte teve Santana Lopes, Durão Barroso e Telmo Correia que se sentiram um pouco aliviados graças a uma benesse inesperada que lhes foi proporcionada pelo mau tempo. Entretanto, as vítimas, do tempo ou das asneiras alheias, ficaram entregues a si próprios e ao azar de viver num país desorganizado e pouco solidário.

A forma como se reagiu à situação também mostra o que somos enquanto povo, ao princípio da manhã, horas depois de muita gente ter abandonado as suas casas, as televisões andavam por Lisboa a entrevistar automobilistas zangados porque iam chegar atrasados ao emprego. Longe do centro da cidade houve quem morresse numa estrada que deveria ter sido encerrada.

Foi evidente a reacção tardia da coordenação da Protecção Civil de Lisboa, que parece ter sabido da situação pela rádio, mas desta vez talvez seja razoável aceitar que choveu demasiado, em muito pouco tempo e à hora errada. Em vez de procurar culpados para sacudir eventuais responsabilidades, como fez o ministro do Ambiente, talvez fosse a hora de procurar soluções para ajudar as vítimas a reconstruírem as suas vidas.

Desta vez tivemos alguma sorte, o tempo melhorou. E se não tivesse melhorado?