domingo, março 16, 2008

Semanada


Na sequência da manifestação dos professores o país teve a oportunidade de viver um mini-PREC, com todos os ingredientes da época, mini-manifestações a chamar fascistas aos adversários políticos, Jerónimo de Sousa inchado por se sentir um ministro sem pasta, o líder da Fenprof a dar entrevistas a dizer o que a ministra da Educação tinha a fazer e a direita a afirmar a sua fidelidade e solidariedade com a rua.

O parlamento entrou em letargia, a democracia mudou a sua sede para a rua, os jornalistas apaixonaram-se pelos líderes sindicais, até o Público ficou tão empolgado com esta mini-revolução que se chegou a pensar que Belmiro de Azevedo iria aderir ao partido.

O país ficou a saber que havia uma nova forma de adultério, o adultério político, António Costa foi promovido pelo Diário de Notícias a primeiro cornudo da República, a fotografia da esposa na primeira página do DN, com uma bolinha à volta do rosto para que não houvesse confusão com as outras senhoras presentes, foi um escândalo, algo bem mais grave do que mostrar uma imagem da esposa de Jerónimo de Sousa a fumar com Paulo Portas dentro do seu famoso jaguar verde estacionado para os lados do El Corte Ingles.

.No meio de toda a confusão Menezes mudou a cor às laranjas do PSD optando por laranjas transgénicas azuis, ao mesmo tempo que se inspirava no momento político para iniciar a perseguição aos adversários internos, dando ordens ao Conselho de Jurisdição, (o equivalente à comissão de quadros do PCP ou à Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano) para perseguir os hereges.

Jerónimo de Sousa teve o seu gesto de generosidade para com a democracia, depois de meses a promover esperas a Sócrates e depois de ter andado preocupado com a democracia desmarcou-se e mandou a Fenprof desmarcar-se de mais uma manifestação espontânea destinada a boicotar a actividade do PS, algo que se esqueceu de fazer quando uma reunião de militantes do PS com a ministra da Educação foi alvo do mesmo tratamento.

E enquanto o sonho revolucionário teve um momento de sonambulismo quase ninguém reparou que os mesmos casinos onde se pode fumar e que beneficiam de despachos inócuos beneficiaram de mais uma abébia legislativa, desta vez em relação à legislação do branqueamento de dinheiro. Graças a mãos invisíveis que os protegem os casinos começam a parecer zonas francas de qualquer legislação incómoda.

Andámos tão distraídos que nem reparámos que a CGTP promoveu mais uma greve bem sucedida na Administração Pública que alcançou as taxas de adesão da praxe, desta vez um pouco abaixo da percentagem com que são eleitos os líderes cubanos. Nem sequer foi grande notícia o anúncio de nova greve geral, talvez porque Jerónimo, tal como sucedeu com as manifestações espontâneas, terá concluído que estava a exagerar na dose.