sábado, março 08, 2008

Vitória política e derrota de uma reforma

Independentemente do número dos manifestantes que amanhã se manifeste em Lisboa sabe-se que serão os suficientes para que a Fenprof reivindique uma vitória política. É aí que reside a derrota política da Fenprof e, consequentemente, a derrota dos professores, a partir do momento em que a estratégia do PCP foi aproveitar o autismo da equipa do ministério da Educação para extremar posições a sua derrota política tornou-se inevitável. O PCP pode criar um ambiente de instabilidade e de oposição às reformas lançadas pelo governo mas o facto é que em democracia é a vontade dos eleitores que conta e não a capacidade de mobilização de um partido da oposição.

Realizada a manifestação pouco restará depois das notícias do dia, a manifestação não passou de uma borrasca que será esquecida a partir de segunda-feira. O PCP poderá cantar vitória e esperar que nas próximas legislativas consiga deixar o Bloco de Esquerda para trás, mas será os professores que perdem quando os seus sindicatos são tão autistas como a ministra.

O controlo partidário deste processo atingiu o limiar da pouca vergonha com o apoio oportunista do PSD e a reacção dos sindicalistas da Fenprof que num dia denunciaram o aproveitamento partidário e no seguinte sentaram-se numa sala de um hotel de Lisboa para ouvirem Jerónimo de Sousa falar em nome dos professores. Até parece que a Fenprof tinha vendido o exclusivo do oportunismo partidário ao PCP.

Os sindicatos descuidaram o apoio da população que tem virado as costas à luta dos professores, basta ouvir as conversas de rua ou os telefonemas dos espectadores nos programas em que estes são possíveis. Este facto não surpreende, uma pequena minoria de professores prejudica a imagem de toda uma classe onde a competência não tem sido reconhecida pelos governos, as greves à sexta-feira ou aos exames foram uma machadada na relação entre pais e professores.

Mas se a ministra pode averbar uma vitória política sobre os sindicatos que apostaram no aproveitamento político também deve perceber que uma reforma que não foi aceite ou compreendida pelos seus intervenientes é questionável. O seu autismo não lhe permitiu obter apoios junto dos professores ou de sindicatos independentes, a sua incapacidade de recuar um milímetro levou à hostilização da generalidade dos professores. Agora vai pensar que o temporal passou e aumentar o seu autismo se é que isso ainda é possível.

É tempo de a ministra perceber que o facto de uma reforma ser necessária ou mesmo indispensável torna bom qualquer projecto, o ensino é demasiado importante para o país para que se possa pensar que a solução dos seus problemas passa pela derrota e humilhação dos professores ou de quase todos os professores.

Se a vitória dos sindicatos só é aparente sendo uma derrota para os professores, a vitória política da ministra pode vir a ser uma derrota para o país. Este processo vai pôr à prova a grandeza da ministra.