quarta-feira, junho 04, 2008

A geriocracia à portuguesa


Ligo a televisão na SIC Notícias e vejo Miguel Urbano Rodrigues percorrer o mundo das maldades acabando por parar em Cuba, onde viveu quinze anos de quase felicidade. Diz-nos que, ao contrário do que sucede na Europa, todos encontram no desconhecido com que se cruzam um potencial amigo. Provavelmente nunca manifestou solidariedade com que eram presos por não encontrarem em Cuba a felicidade que ele viu, senão perceberia que esses receiam que cada desconhecido com que se cruzam é um potencial delactor ou polícia à civil. No seu mundo não existe Pol Pot, gulags, Coreia do Norte, e o melhor que nos tem para sugerir é o chavismo.

Mudo para outro canal e aparece-me Manuela Alegre a dizer que é possuidor de uma golden share da democracia portuguesa porque a Pide lhe deu uns tabefes antes de ir para Argel, um discurso para velhos já que as gerações mais dinâmicas da sociedade portuguesa, os que nasceram depois de meados dos anos 50 têm acções sem direito a voto na democracia que, pelos vistos, devemos e temos de agradecer a Manuel Alegre. E o que tem Manuel Alegre mais alguns ofendidos por não estarem no governo para propor ao país? Meia dúzia de banalidades ditas com voz poéticas, que temos de ter ideias novas, novos projectos, bla, bla, bla. Só que aquilo que vou ouvindo não passa do modelo de capitalismo paternalista do corporativismo devidamente recauchutado por Abril.

Pouco depois fico a saber que Manuela Ferreira Leite, uma avó tardia que se desdobra entre o PSD e o neto recém-nascido, lá conseguiu adiar a escolha do novo líder parlamentar do PSD, enquanto garante que a sua prioridade é a oposição a Sócrates, como se pudesse ser outra coisa estando o seu partido na oposição. Quanto a ideias novas já sabemos, é a preocupação com os pobres, ao que parece uma matriz do seu PSD porque de alguma coisa serve a designação de sociais-democratas escolhida por esta herdeira da ala liberal, mesmo que essa designação lhe fique tão bem como o casado de inverno que usou na apresentação da candidatura e no discurso de vitória.

Preocupado também com os pobres está Mário Soares mais um “mais velho” deste país, que não dispensa a sua função paternalista sobre a sociedade portuguesa, já mais não pode fazer já que outro velhote cá do sítio ficou-lhe com o Palácio de Belém.

Enquanto o país exclui os mais jovens por não confiar neles, porque prefere tentar repetir o passado em vez de arriscar no futuro, porque opta por défice públicos a pagar pelas novas gerações em vez de lhes dar uma oportunidade, resta-me as notícias as notícias do estrangeiro. Enquanto cá os septuagenários não desgrudam do poder o Partido Democrata dos EUA, vai apostar num jovem que por cá estaria destinado a andar armado em verde-eufémio ou tentando pedinchar o lugar de assessor de um qualquer obscuro secretário de Estado.

É assim a geriocracia à portuguesa, estamos condenados a modelos e conceitos dos anos 60 para evitarmos os problemas do século XXI, porque uma geração que falho se recusa a abandonar o teatro do poder.