terça-feira, junho 24, 2008

A política por medida

Um dos aspectos mais criticáveis das propostas de Manuela Ferreira Leite reside no facto dessas propostas não terem sido elaboradas em função dos interesses do país, mas sim a pensar nas eleições ou, pior do que isso, nas sondagens da semana seguinte. Esta postura de Manuela Ferreira Leite não é nova nela nem na generalidade dos partidos portugueses, até o PCP já faz reivindicações a pensar mais nas necessidades do seu calendário de agitação do que na sua exequibilidade, e do programa eleitoral de Sócrates nem vale a pena dizer.

O que surpreende em Ferreira Leite é o facto de representando o passado da direita portuguesa ter abandonado o mais importante dogma desta, a seriedade e a competência na governação. A mesma Ferreira Leite que questiona as obras públicas sancionou projectos mais megalómanos (como o TGV de Durão Barroso) num passado recente, tendo mantido o silêncio em relação a estes projectos ao longo desta legislatura. A mesma Ferreira Leite que propõe uma política fiscal a pensar nos pobres e na classe média aumento o IVA em dois pontos, não actualizou os escalões do IRS e abusou das tabelas de retenção na fonte para se auto-financiar à custa da classe média e, como se não bastasse, atrasou os reembolsos para ajeitar as consta.

Um país com os problemas de Portugal requer políticos e políticas corajosas, capazes de recuperar o atraso e encontrar soluções, não pode viver em função de eleições e, pior ainda, das sondagens semanais. Condicionar grandes projectos ou políticas importantes como a política fiscal a sondagens eleitorais é uma irresponsabilidade inaceitável, agravada pelo facto de Manuela Ferreira Leite olhar para as sondagens por estar mais preocupada com a sua liderança partidária do que com próximas eleições legislativas.

Este país está a tornar-se num teatro de mentiras em que os políticos treinam no seu exercício na esperança de serem os que os eleitores preferem por se sentirem mais felizes com as mentiras propostas. Deixou de haver objectivos nacionais, os políticos confundem o seu futuro político com o do país. O curioso em Manuela Ferreira Leite é que sabendo desta realidade começou por falar em rigor e credibilidade, disse que ia tentar chegar ao poder dizendo a verdade. Desistiu depressa, percebe-se agora que essa afirmação não passou de uma tentativa de fazer passar a mentira por verdade.

As propostas deixaram de ser feitas a pensar no país para serem determinadas em função das sondagens, coisas sérias como infra-estruturas e política fiscal, o pouco que resta à autonomia dos governos da EU, passaram a estar condicionadas às sondagens de imagem dos líderes. Manuela Ferreira Leite recorre ao populismo na esperança de enganando o país convencer os quase 70% de militantes do PSD que não confiaram nela, tenta convencer os seus militantes da pior forma, mostrando-lhes que mente melhor do que Sócrates.

A política da mentira deu um salto qualitativo, agora já não está condicionada aos actos eleitoriais, já é desenvolvida a pensar nas sondagens semanais e até nas sondagens internas dos líderes partidários. Alguém falou em rigor e credibilidade?