segunda-feira, junho 23, 2008

Populismo queque

«"Isto não é o reflexo da crise internacional. É sim o reflexo claro e inequívoco de políticas erradas e de insensibilidade social», disse. Manuela Ferreira Leite considerou que Portugal vive uma situação social «que exige uma acção imediata", que obriga a «intervir com urgência para combater os focos de pobreza e apoiar os novos pobres».

Segundo a presidente do PSD, devem ser orientados "desde já recursos de apoio às instituções de solidariedade social". "Esta situação de emergência pode justificar que se abdiquem de alguns investimentos para afectar recursos aos casos mais prementes", reforçou.» [Portugal Diário]

Pelo que ouvi na comunicação social as propostas de Manuela Ferreira Leite feitas durante o congresso do PSD resumem-se a estes dois parágrafos retirados do Portugal Diário.

Não vou questionar o motivo porque Manuel Ferreira Leite nunca criticou as opções de investimento do governo, certamente não foi por se ter retirado, a agora líder do PSD teve uma presença permanente na comunicação social, com lugar cativo numa rádio e num semanário. Que me recorde Manuela manteve uma postura simpática para com o governo e a sua preocupação com os pobres só emergiu já quando equacionava a sua candidatura à liderança do PSD.

Mas deixemo-nos de analisar Ferreira Leite na perspectiva do seu passado, não faltarão oportunidades para o fazer. Vejamos, portanto, o que Manuela Ferreira Leite propõe.

Só tenho que estar de acordo com a proposta de Manuela Ferreira Leite de apoiar as instituições de solidariedade social, já aqui o fiz, até acrescentei que o governo deveria considerar medidas de apoio aos que passam por mais dificuldades, designadamente um aumento das pensões de reforma mais baixas e do subsídio de desemprego.

Mas colocar em alternativa os investimentos e o combate à pobreza é uma falsidade populista, inadmissível em quem propõe rigor no discurso. Afirmando rigor e credibilidade Manuela Ferreira Leite vais bem mais longe no populismo do que alguma vez foi Luís Filipe Menezes ou Pedro Santana Lopes.

A despesa de combate à pobreza é para hoje, os investimentos são para a próxima década, os dinheiros para o combate à pobreza são os que estão disponíveis no Orçamento de Estado, os dinheiros para os investimentos serão necessários na próxima década e uma boa parte desses dinheiros são fundos comunitários que não poderão ter outra utilização. Manuela Ferreira Leite sabe muito bem disto e quando coloca as coisas como fez no congresso está não só a ser populista como está a enganar os militantes do PSD e os portugueses, está a ser o oposto da imagem que tenta cultivar.

Mas se é a pobreza que Manuela Ferreira Leite tenta combater ela sabe que apesar do importante papel desempenhado pelas instituições de solidariedade social, a sua acção não combate a pobreza, acorre com ajuda a uma pequena parte dos mais pobres.

A pobreza combate-se com mais emprego, se Manuela Ferreira Leite subsitui o investimento por apoio à caridade social não só não combate a pobreza como a promova a muito curto prazo. Aliás, bastam as suas declarações para criar instabilidade junto dos investidores, que ficarão inquietos com as incertezas criadas por Manuela Ferreira Leite.

O discurso político de Manuela Ferreira Leite teve pouco de sério ou de rigoroso, não passou de uma fórmula queque de populismo, que não ousa em apostar na instabilidade económica para obter votos, para Manuela Ferreira Leite chegar ao poder justifica tudo, isto é o populismo levado ao seu extremo.