quarta-feira, agosto 27, 2008

A casta


Quando discutimos as causas dos nossos males acabamos invariavelmente por nos queixarmos da qualidade das nossas elites, a elite política é o que se sabe, a elite económica só o é à custa da mão de obra barata (o mesmo é dizer à custa da exploração no seu sentido puro e duro), a elite cultura é um feira de vaidades, etc., etc.. Já aqui se debateu várias vezes a questão sob esta perspectiva, mas cada vez tenho mais dúvidas de que temos elites no verdadeiro sentido na palavra, o que temos é uma casta.

O fenómeno não é novo, já no tempo do salazarismo e do marcelismo o país era governado por uma casta, em torno dessa casta dirigente sobreviviam vários grupos que a troco de não fazerem “ondas” viviam tranquilamente à custa do regime. Com o 25 de Abril assistiu-se a um período de confusão, uma boa parte da casta do regime fugiu, os mais ricos para o Brasil, Europa e EUA, os mais pobres para a África do Sul e outras paragens. Entretanto, surgiram novas caras e as cartas foram baralhadas, mas passados trinta anos o país volta a ser dominado por uma casta.

Nos partidos não há grandes roturas e quando acontecem sucede aquilo a que recentemente se assistiu no PSD, a velha casta aproveita a oportunidade para repor a ordem. Em torno do poder criou-se uma casta que não precisa de se esforçar muito para viver bem, para além dos números cargos do Estado e em empresas participadas existem os bancos que acolhem os filhos dessa casta, fundações como a Luso Americana asseguram elevados níveis de rendimentos os seus beneficiários, instituições como o Banco de Portugal distribuem pensões vitalícias aos seus responsáveis.

A existência dessa casta significa que os seus membros têm sempre o futuro assegurado, se alguma coisa corre mal há sempre uma mão amiga que resolve o problema, há sempre um alto cargo bem remunerado e que é pouco exigente intelectualmente, são lugares de direcção nas muitas fundações, são os cargos de administradores não executivos, membros das assembleias gerais ou dos conselhos fiscais dos muitos bancos e grandes empresas, são uma infinidade de cargos que se alimentam à custa da riqueza nacional. Se um filho chega ao mercado de trabalho há sempre uma vaga de assessor de um secretário de Estado ou de um director de um banco onde o rebento adquire a experiência necessária para novos voos.

Até já se arranjaram esquemas para assegurar tranquilidade à casta, para além de uns cruzamentos matrimoniais entre as diversas facções da casta, há acordos de cavalheiros, leis não escritas que asseguram uma distribuição equitativa dos cargos mais apetitosos. O provedor é do partido da oposição, a CGD e o Banco de Portugal são entregues a facções opostas, enfim, está tudo muito bem dividido.

Isso significa que as nossas elites não precisam de se esforçar muito, não precisam de desenvolver uma cultura de competitividade, entre dividir as patacas entre os amigos e atribuir os cargos aos mais capazes, a primeira solução é a mais confortável. É por isso que é mais próprio falar de casta do que de elites, se tivéssemos elites isso significava que o sistema premiava os mais capazes.