sábado, agosto 23, 2008

Umas no cravo e outras tanta na ferradura

FOTO JUMENTO

Vitral do Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[T. Coex-AFP]

«Le président américain George W. Bush regarde l'entraînement des beach volleyeuses américaines à Pékin, le 9 août 2008. » [20 Minutes]

JUMENTO DO DIA

Manuela Ferreira Leite

Criticada por Menezes e pelos muitos militantes do PSD que estranham a sua ausência prolongada, que quase configura uma licença temporária, Manuela Ferreira Leite apareceu para, supostamente, fazer oposição. Deu uma vista de olhos pelos jornais e o melhor que encontrou foram uns quantos assaltos, exigindo a demissão do ministro da Administração Interna. Ainda pensei que a líder do PSD suspeitava de que o ministro era o autor dos roubos, o que justificaria tão drástica exigência, mas não, o mal do ministro é não ter vindo a público.

Na opinião da líder do PSD o ministro deveria fazer uma conferência de imprensa sempre que ocorre um assalto, exigência que, no mínimo, é ridícula, só compreensível porque vem de alguém que há três meses que não sabe o que há-de fazer da liderança do PSD. Mas foi mais longe, acusou o ministro de não apoiar as polícias, o que não é verdade, quando a falta desse apoio se fez sentir, no caso do assalto à agência do BES, o ministro até deu a cara em defesa da actuação da PSP.

Afinal Manuela Ferreira Leite está mais preocupada com as críticas de Menezes do que quer dar a entender, só isso explica esta aparição desastrosa e vazia de qualquer afirmação política.

O DIVÓRCIO DA REALIDADE

«Cavaco Silva vetou o novo regime do divórcio (que acaba com o divórcio litigioso), prevendo "consequências graves" caso seja posto em prática. Essas consequências teriam a ver, para o PR, com "a desprotecção do cônjuge que se encontre numa situação mais fraca" ou "mais débil" - que para o presidente é "em regra a mulher". Para começo de conversa, portanto, o veto presidencial informa que as mulheres são fracas e débeis. E que, "em regra", quem se quer divorciar são os homens. » [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «»

"O IDEAL OLÍMPICO"

«No meio da tanta conversa sobre os Jogos de Pequim, quase não se falou dos Jogos de Pequim. Primeiro, da cerimónia inaugural (que vi em repetição), que lembrava irresistivelmente o congresso de Nürnberg de 1934, na versão de Leni Riefenstahl. A coreografia militar daquela massa indistinta e obediente não celebrava qualquer espécie de acontecimento desportivo, celebrava o novo poder da China e prometia o "triunfo" de uma nova "vontade". Sempre foi assim? Não exactamente. Apesar de tudo, nunca a América se atreveu a ir tão longe. Nem o Ocidente democrático era susceptível de engolir sem protesto aquele espectáculo. A conversa, evidentemente, mudou (como não mudaria?), mas não mudou a ameaça implícita da ordem, do número e da superioridade rácica.

Também não se disse uma palavra sobre o aberração em que pouco a pouco se tornaram os Jogos. O interminável aumento das "modalidades" levou a extremos de ridículo e desequilíbrio. A maior parte das provas "clássicas" só tem uma justificação "arqueológica" (e mesmo essa ténue: quem se interessa hoje pelo lançamento do dardo, do peso ou do martelo?). Outras disciplinas (a natação, a ginástica e o mergulho, por exemplo) são tão minuciosamente divididas, que um único atleta, como Phelps, consegue apanhar oito medalhas. Pior ainda: alguns "desportos" mais recentes (o triatlo, para começar) não fazem o mais vago sentido, excepto provavelmente comercial. E, como se isto não chegasse, o golfe (com dezenas de milhões de praticantes no mundo inteiro) não aparece e o futebol é um campeonato fictício entre equipas de terceira ordem.

Falta acrescentar o mais desagradável: os Jogos não aperfeiçoam o corpo, nem o espírito. O corpo é sistematicamente deformado a benefício dos resultados. Há "modalidades" que produzem monstros: montes de músculo ou de gordura, ou de músculo e gordura; esqueletos a que se pendurou um torso e umas pernas; máquinas concebidas para meia dúzia de gestos, sem beleza e sem uso. De resto, quanto ao espírito, e já para não mencionar as pré-adolescentes da ginástica (um verdadeiro abuso de menores), basta lembrar aquele nadador que ganhou, aos 21, uma medalha para que se tinha preparado 15 anos. Não se imagina nada de mais triste. O "ideal" olímpico acabou num horror sem alívio.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Vasco Pulido Valente.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

O RÂGUEBI NÃO FOI A PEQUIM

«Por isso ouso afirmar e faço-o de forma peremptória: ao contrário da selecção de râguebi (lembram-se?), os atletas representaram-nos perfeitamente, foram iguais a nós, revelam a nossa verdadeira face. São tão iguais a nós que atiramos para cima deles as nossas frustrações. Gostaríamos que eles fossem diferentes, que tivessem as qualidades que não possuímos, que fossem capazes de ultrapassar os defeitos em que nos atolamos. Queríamos que eles dessem de si (e nos dessem de nós...) uma imagem que sabemos falsa, mas que facilmente nos permitiria a ilusão de a acharmos verdadeira e de nela magicamente nos confortarmos. E, assim, evitarmos a maçada e o esforço de corrigirmos os nossos defeitos.O mal-estar que sentimos nestes dias devia servir para alguma coisa. Por exemplo, para que nas escolas o "direito dos alunos ao sucesso", de que falou um ensandecido (ir)responsável, seja substituído por uma cultura de exigência, rigor e avaliação que distinga e valorize os melhores e motive os piores para o valor do trabalho. » [Público assinantes]

Parecer:

Por José Miguel Júdice.

PS: Parece que Miguel Júdice esqueceu que o râguebi não ganhou propriamente uma medalha e que o seu feito é equiparável a muitos atletas que conseguiram os mínimos para irem aos jogos ou que chegaram às fases finais. Além disso, muitos dos atletas olímpicos tiveram que se esforçar e treinar mais ao longo dos quatro anos de preparação do que os nossos jogadores de râguebi. Pois, mas há uma coisa a favor dos jogadores da bola oval, pertencem a classes altas, têm profissões bem remuneradas.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Arquive-se.»

NADA REVISITADO

«Há um ano, no drama do nada se fazer e do nada acontecer de todos os Verões, falei do Nada. E, como salientei, "o que é o Nada? É a oposição em Portugal. Diria mesmo que é a prova da existência do Nada".

E desde há um ano o que aconteceu à oposição? Nada. Pelo menos, nada de assinalável. No PCP-BE-CDS continua tudo como dantes.

No PSD, partido da alternância ou do rotativismo moderno, vai já no terceiro líder e... nada. Nada de novo. Passaram seis meses e ainda não sabemos o que pensa o PSD sobre assuntos que a todos dizem respeito: crescimento da economia, crise política internacional e o reacender da guerra fria, controlo de grandes empresas portuguesas pelo Estado angolano, reforma das leis laborais, TGV, auto-estradas, barragens...

Acabámos de ver um anúncio de grande vitória por a economia ter registado um crescimento anual de 0,9 por cento, no ano terminado em Junho. Reacção da oposição: discurso de circunstância e mais nada. De facto, a economia, fruto das reformas já realizadas, comportou-se melhor do que no passado recente, quando a economia europeia desacelerou.

Mas, mesmo assim, o resultado deste trimestre mostra que a meta (ou será previsão?) de 1,5 por cento de crescimento para este ano está definitivamente afastada para aqueles que alguma vez quiseram acreditar. Para tal acontecer no segundo semestre o crescimento teria, necessariamente, que se situar acima dos 2 por cento, o que é impossível.

A oposição, e o PSD em particular, disse: nada. Mesmo a previsão do Banco de Portugal, de 1,2 por cento, será dificilmente alcançável, pois a economia, neste caso, teria de crescer no segundo semestre a 1,4 por cento. Não é impossível, mas é improvável.Quanto ao pacote em discussão pública sobre legislação laboral, a oposição do PSD disse nada. Pelo menos que se ouvisse.

O Estado angolano tem vindo a tomar conta de empresas do sistema energético e financeiro nacional. As dúvidas são pertinentes. Primeiro, a privatização de grandes empresas não tem como objectivo serem nacionalizadas por outro Estado, seja ele qual for. Segundo, no caso concreto, é um Estado não democrático e que não segue as regras do mercado na sua intervenção pública. Terceiro, as empresas portuguesas em Angola têm sofrido pressões públicas inadmissíveis para venderem parte do capital à nomenklatura, por preços por ela determinados, naturalmente, e com chantagens claras e credíveis. Em conclusão, será que os portugueses consideram razoável que empresas críticas ao regular funcionamento da nossa economia fiquem nas mãos do Governo angolano? Sobre isto o PSD nada disse. Eu pelo menos nada ouvi ou li.

Nos grandes projectos o PSD disse ter dúvidas e precisava de ver os estudos. Até aqui tudo bem, mas é pouco. Por um lado, já houve um milhão de portugueses (incluindo eu próprio) a fazer tal exigência. Por outro, é preciso dizer, caso a caso, o que pensa sobre o assunto. Quais os projectos em que não têm informação suficiente? Quais os que são para adiar ou para não fazer de todo? Quais os critérios de selecção? Sobre tudo isto o PSD disse: nada.Quando o Governo lança o primeiro (e pequeno) troço do TGV, da Margem Sul à margem mais a sul, o PSD nada disse. Ora, este pequeno facto torna irreversível a realização do TGV até Badajoz, o PSD disse: nada.

E se nada ouvimos sobre política nacional, então sobre política internacional é nada de nada. Como se vivêssemos fora da Europa, fora do mundo. A guerra na Geórgia nada mereceu da atenção do partido alternativo, o PSD. Nada.

Até agora, de Setembro a Março, o líder do PSD tinha opiniões avulsas sobre tudo e sobre nada (mais uma vez o nada), agora as tomadas de posição ficam para mais tarde, com o calendário que o PSD e a sua líder entenderem. Tudo bem! A versão oficial é que em Setembro (ou será em meados de Outubro, com a discussão do Orçamento do Estado?) vêm as ideias do PSD. Mas, uma coisa é certa, a possibilidade de Ferreira Leite causar uma primeira boa impressão perdeu-se. Será que haverá uma segunda oportunidade? Certamente, até finais de 2009 ainda há várias oportunidades, mas a exigência é crescente e cada vez maior.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Luís Cunha.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

NÃO EXISTO, LOGO PENSO

«A polémica à volta da selecção olímpica já deveria ter merecido uma palavra por parte de quem aspira a governar o país. Uma palavra de apoio a atletas como Gustavo Lima, Naide Gomes, Pedro Póvoa ou Francis Obikuelu, que merecem respeito e estímulo, uma palavra sob uma filosofia de formação que, apesar da postura positiva do actual secretário de Estado, ainda não entendeu que o princípio de tudo tem de estar num forte desporto escolar, uma palavra de regozijo dirigido a Nélson Évora e a Vanessa Fernandes, dois grandes campeões. Eu sei que a Vanessa é de Gaia, mas palavra de honra que o mérito do seu sucesso não é do presidente da Câmara. É só dela, do seu técnico, da sua família e das gentes de Perosinho. Eu sei que um dos actuais vice-presidentes do PSD foi um dos mais apagados e medíocres responsáveis pela pasta do Desporto. Mas isso é passado. Se fôssemos por aí, julgando o curriculum governativo das actuais Direcção e liderança do PSD, estávamos conversados.» [Jornal de Notícias]

Parecer:

Por Luís Filipe Menezes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

DECISÃO POLÉMICA DA JUSTIÇA

«Foram presos, libertados e novamente presos. Os brasileiros que assaltaram à mão armada a bomba de gasolina Alves Bandeira, na Pampilhosa, Mealhada, pouco tempo estiveram em liberdade. APJ foi obrigada a libertá-los – depois de uma decisão polémica do procurador de Anadia –, mas horas depois o trio foi detido. É suspeito de três assaltos à mão armada – o último crime com grande violência ocorreu no passado fim-de-semana, na loja Extra Carnes, da avenida D. João II, em Setúbal – e ontem foi ouvido em tribunal. Desconhece-se ainda as medidas de coacção aplicadas aos suspeitos.» [Correio da Manhã]

Parecer:

Começo a recear que alguns magistrados estão a ser permissivos, talvez para tentar culpar a lei e dessa forma atingir o governo, em defesa dos seus interesses corporativos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Avalie-se as decisões dos magistrados»

O JUMENTO NOS OUTROS BLOGUES

  1. O "Direito de Opinião" sugere a leitura do post "albarde-se o burro à vontade do dono".
  2. O "Café Margoso" destaca o comentário a propósito da medalha de Nelson Évora.
  3. A "Sombra do Convento" também acha que para o PCP está sempre tudo mal.

TERMINARAM AS FÉRIAS NO RAIM'S BLOG

Arrumadores de férias...

NO ÁGUA LISA

Fiquei a saber que a Yoani tem um elevador novo deixando de ter de subir a pé até ao 14.º piso. Está explicada a forma como os Fideis asseguram a boa saúde dos cubanos:

«Estoy feliz porque Reinaldo no tendrá que emplear tanto tiempo en remendar el prehistórico ascensor de Armenia. Gracias a quienes hace veinte años lo expulsaron de su profesión, los habitantes de ciento cuarenta y cuatro apartamentos hemos disfrutado de un periodista devenido mecánico que, al vivir en el piso catorce, ha tenido mucho interés en reparar el elevador. Sólo con el empeño de los vecinos ha podido extenderse la vida útil de algo que debió ser reemplazado hace muchos años. Las soluciones que aplican los ciudadanos son mostradas muchas veces como “logros del sistema”, cuando deberían inscribirse como desesperados pataleos de sobrevivencia.»

176 CARTAZES RELATIVOS AOS JOGOS [Link]

HOWARD SCHATZ

O QUE HÁ DE MAL EM OBAMA?

SNAP FILM