sábado, setembro 20, 2008

Ano eleitoral


É uma infelicidade para os políticos que os ciclos económicos não coincidam com os ciclos eleitorais, seria mais fácil governar e fazer oposição. Veja-se o exemplo de Manuela Ferreira Leite, enquanto governou ao lado de Durão Barroso deitava-se e acordava a ver sinais de retoma que mais ninguém via, mesmo agora que aproveitou a vaga da crise financeira para se atirar à liderança do PSD tem tido azar nas sondagens. E o que dizer de José Sócrates, que tinha tudo preparado para o próximo anos e foi surpreendido pela crise económica?

O ano eleitoral desencadeia da parte da oposição a habitual crítica de eleitoralismo, Jerónimo de Sousa já avisou Sócrates que vai estar vigilante, Pacheco Pereira anda histérico contra o Magalhães, adivinhou que vai haver muito lar onde a entrada do pequeno computador terá tanto impacto como teve a primeira máquina de lavar.

Para a oposição o ideal seria que todas as desgraças ocorressem agora, já que a crise financeira não mexeu muito com as sondagens então que caia uma ponte ou ocorra uma qualquer desgraça colectiva, nem que fosse o Benfica ser despromovido para a Divisão de Honra. Para o Governo o ideal seria ver a receita fiscal continuar a crescer, as obras estarem prontas a tempo e horas para a inauguração e que só ocorressem coisas boas nos mercados internacionais.

Mas nem a oposição, nem o governo estão contentes. A oposição porque já aconteceu tudo de mau a Sócrates e o PS mantém-se relativamente perto da maioria absoluta. Em contrapartida, a crise económica trocou as voltas a José Sócrates, os juros não param de aumentar, a inflação nos produtos alimentares mantém-se relativamente alta, o crude hesita em descer de preços e a crise financeira está para durar, o que deveria ser o ano de fartura vai ser mais um ano de austeridade.

Longe vão os tempos em que Cavaco Silva conseguia uma maioria absoluta graças a um aumento de pensões feito nas costas de Mira Amaral, o então ministro do Trabalho que estava de férias enquanto Cavaco decidia tudo sozinho. Agora nem há margem para tais devaneios nem o povo se deixa ludibriar com tais manobras, da mesma forma que deixou de culpar os governos pelas consequências das crises internacionais.

A um ano de eleições seria interessante um debate sobre o que é legítimo a um governo antes das eleições. Nalguns países são os governos que podem antecipar as eleições, no nosso isso não é possível mas alguns anos eleitorais são transformados num verdadeiro carnaval. Um governo tem o direito de exibir o que fez ou faz, mas até onde pode ir?