sexta-feira, setembro 19, 2008

Balanço a um ano das eleições: a Saúde

Sempre que se fala de qualquer mudança no sector da saúde é inevitável que acabemos por discutir o bem-estar dos médicos, sindicatos e Ordem dos Médicos têm uma visão da saúde que nada tem que ver com o objectivo do sector, tudo se resume a saber se os médicos vão ganhar mais ou trabalhar menos. A primeira e quase única avaliação das medidas do sector resume-se a saber se os médicos estão contra ou se estão a favor, se a medida lhes traz benefícios pessoais estão a favor, se os incómoda estão contra.

A saúde é um sector prisioneiro de uma classe corporativa que considera que o canudo de uma faculdade de medicina confere ao seu titular o acesso a um elevado nível de vida. Foi isso que a Ordem dos Médicos conseguiu ao impor um numerus clausus draconiano no acesso aos cursos de medicina, o objectivo é que haja permanente médicos a menos para que a classe possa fazer chantagem sobre o país.

Se um hospital pretende o controlo electrónico do ponto a Ordem dos Médicos descobre que assim os médicos até vão trabalhar menos, se o médico espanhol faz num dia as operações às cataratas que um oftalmologista português faz num mês no hospital público é porque o espanhol viola as regras deontológicas, se querem mudar a maternidade para Braga são os obstetras que se opõem pois não estão dispostos a mudar de local de trabalho, nada se faz sem primeiro assegurar que os médicos vão trabalhar menos e ganhar mais.

Não é o único sector dominado pelas corporações, sucede o mesmo com a justiça e com o ensino. Mas ao contrário dos médicos os professores ganham mal, estão sujeitos a piores condições de trabalho, não beneficiam de subsídios de exclusividade.

A verdade é que um hospital português custa tanto ao erário público como um hospital da maioria dos países desenvolvidos e por cá é a desgraça que se conhece, muitos cidadãos pagam os seus impostos, têm direito ao SNS mas acabam por recorrer ao sector privado, onde os mesmo médicos que são ineficazes nos hospitais públicos passam a ser exemplares, os oftalmologistas improdutivos passam a afazer operações sucessivas.

Por isso no sector da saúde antes de discutir qualquer medida defendo duas coisas muito simples: retirar uma boa parte dos poderes a uma absurda Ordem dos Médicos e o aumento exponencial do número de alunos de Medicina. Depois discutiremos o resto.

Este governo deu passos nesse sentido ainda que tímidos, mas Sócrates acabou por ceder aos médicos e substituiu um dos seus melhores ministros, para o substituir pró alguém que tinha as qualidades que habitualmente são exigidas aos ministros da Saúde, serem aceites pelos autarcas e pelos médicos, a actual ministra tem essas duas qualidades, tem tiques populistas e é médica.