segunda-feira, setembro 15, 2008

Semana de balanços


Mais do que a Festa do Pontal, as Novas Fronteiras, as marchas do BE ou a Festa do Avante, o que marca o novo ano político e o fim do “Verão” é o início do novo ano escolar. Os transportes públicos voltam a abarrotar, os serviços e empresas recomeçam a funcionar em pleno, o trânsito torna-se caótico e passamos a ver os telejornais com regularidade e mais paciência, os próprios jornalistas deixam de rezar para que ocorram incêndios ou assaltos que lhes assegure trabalho, os políticos estão aí (excepto Manuela Ferreira Leite) para os alimentar de novas notícias.

A um ano de eleições é tempo de reflexão, de avaliar o que foi feito já que pouco de novo vai suceder, o Governo está mais ocupado em conferir as promessas do que em lançar novas reformas. Durante esta semana vai ser tempo de avaliar o que foi feito nalguns sectores, ensino, saúde, justiça, Administração Pública e agricultura e pescas estarão em foco.

Mas antes de uma avaliação sectorial importa também proceder a uma avaliação global de um governo que chegou a São Bento quase aos trambolhões com, aliás, sucede com a generalidade dos nossos governos. O PSD e o PS não sabem estar na oposição e quando são forçados a essa “travessia do deserto” entram em crise, não foi o caso do PS durante a última legislatura pois ainda antes de qualquer movimentação interna alguns magistrados encarregaram-se de assegurar que Durão Barroso e Paulo Portas governassem se qualquer oposição política.

Aconteceu com este PS o que aconteceu com quase todos os nossos governos, na maioria dos casos é uma escolha de última hora que dá lugar a um novo primeiro-ministro. Por isso a maioria deles chegam ao governo sem conhecimento profundo dos dossiers, sem projectos consolidados, limitam-se a ter uma leve ideia do que pretendem. Foi o que sucedeu com Sócrates e aquilo que se está a passar no PSD mostra que mais tarde ou mais cedo voltará a suceder.

Por cá um líder da oposição que esteja quatro na bancada da oposição é um líder derrotado antecipadamente, muito antes de ir a eleições legislativas será vencido por sucessivas sondagens. As clientelas não suportam uma legislatura na oposição quanto mais o medo de voltarem a estar mais quatro anos. Entre a estabilidade governativa e a crise todas as oposições optam pela crise, uns porque isso faz parte da sua “ideologia científica”, outros porque quatro anos sem acesso ao dinheiro do Estado é demasiado tempo. Todos preferem que as legislaturas seja reduzidas a metade e quando isso não sucede aparecem as sensações de claustrofobia democrática, até Pacheco Pereira começa a sentir falta de ar.

O governo de Sócrates foi um governo inexperiente,que nasceu com promessas e premissas erradas, o desconhecimento dos dossiers deu lugar a equívocos eleitorais. Chegado ao governo o PS optou por reformar tudo, por pôr o país em obras, ainda que não existissem projectos consistentes. Fizeram-se estudos à pressa, misturam-se as conclusões desses estudos com as conclusões evidentes mais as opiniões pessoais dos ministros e deu-se início a uma vaga reformadora.

Reformou-se tudo e mais alguma coisa hostilizando-se todos os que não entenderam as reformas ou desconfiaram delas por não respeitarem o seu modo de vida, em nome do futuro pediram-se sacrifícios aos sacrificados do costume sem que em troca nada lhes fosse garantido, ou se era pelas reformas ou se estava contra o progresso. Este foi o erro de muitos membros do governo, esqueceram-se que os cidadãos não são apenas eleitores que se pronunciam de quatro em quatro anos, são também os agentes do progresso que nunca poderiam ter sido esquecidos pelos novos reformadores.

A um ano das eleições a dúvida está em saber se Sócrates será ou não capaz de perceber que cometeu muitos erros e que muitos dos votaram no PS foram as primeiras vítimas desses erros.