sexta-feira, outubro 31, 2008

Silêncios

Há uns meses um professor. Ex-deputado, do PSD chamou “filho da puta” a Sócrates e uma boa parte das personalidades do PSD quase o transformaram num herói da democracia por ter apanhado um processo disciplinar instaurado por uma senhor da DREN. Só faltou o PSD propor o nome do professor Charrua para ser condecorado com a Ordem da Liberdade ou mesmo para que recebesse o prémio Sakharov.

Agora que Portugal ficou a saber da maior operação de devassa da vida privada, com o Inspector-Geral de Finanças a atropelar a Constituição e a abusar das suas competências para tentar identificar quem andava a incomodar do dr. Macedo o PSD ficou calado. Porquê? Por uma razão muito simples, todos os envolvidos ou são do PSD ou foram nomeados pelo PSD, até o secretário de Estado veio directamente do governo de Santana Lopes par o de Sócrates, bastou-lhe levar uns borrifos na pia baptismal das Novas Fronteiras.

O PS, que quando formou o governo não se cansou de falar de ética republicana e fica calado quando o ministro das Finanças despreza toda e qualquer tipo de ética, permitindo ao inspector-geral de Finanças gastar o dinheiro dos contribuintes a para devassar a vida íntima dos mesmos funcionários que tanto têm ajudado Teixeira dos Santos a ser um ministro bem sucedido. Porquê? Porque o inspector-geral de Finanças foi chefe de gabinete de Durão Barroso e os negócios privados estão acima dos direitos constitucionais dos cidadãos.

E porque está calado o Provedor de Justiça, não terá lido os jornais?

De fora deste silêncio fica o Procurador-Geral da República pois a devassa da vida privada é crime previsto no Código Penal, mas para sua tranquilidade não é um crime público, portanto a abertura de um processo exige queixa. Como é lógico nenhum funcionário do fisco vai apresentar queixa contra um inspector-geral, para além do medo isso custa dinheiro, funcionário que ousasse fazê-lo ficaria no fim de todas as listas. Além disso o Procurador-Geral também não deve estar muito interessado em mexer num tema que cheira mal pois o MP deixou-se envolver nesta vendetta macediana.

Mesmo na comunicação social foram muitos os órgãos de comunicação social que falaram do tema com o mesmo empenho que fizeram no caso Charrua. Falar do assunto obrigava a falar do BCP e isso é mau em tempos de crise, o orçamento publicitário daquele banco é indispensável às sopas (e não só) de muitos jornalistas. No dia em que a notícia foi publicada as agências de comunicação que trabalham para o BCP não devem ter tido sossego, lembrando os tempos em que promoveram o Macedo, essa figura cinzenta, a herói nacional.

Portugal, mais do que um país de medos como alguns dizem, é um país de silêncios, silêncios cobardes, silêncios comprometedores e silêncios oportunistas, enfim, silêncios para todos os gostos.

É por isso que os blogues incomodam tanta gente, por aqui é mais difícil calar quem pensa diferente e nem sempre a Interpol pode ajudar.

PS: Se o dr. Macedo pensa que está esquecido desengane-se, para a semana O Jumento vai sugerir ao administrador do BCP como no exercício das suas funções, incluindo a devassa dos maisl dos seus funcionários, pode ajudar o país, principalmente no combate à evasão fiscal.