sábado, novembro 08, 2008

Alguém ouviu falar do Orçamento de Estado?


Quase ninguém, ainda o debate parlamentar não se tinha iniciado e já o assunto estava esquecido, José Sócrates vai ter um ano pré-eleitoral com um orçamento feito à medida da ocasião o que não é nada de novo, Sócrates está a ser um excelente aluno de Cavaco Silva.
Sócrates tem sido um exímio gestor da agenda política, aparece e desaparece sucessivamente e quando estamos a discutir um assunto já ele colocou outro na mesa. Nos últimos tempos tem sido ajudado pela crise financeira, pelas eleições americanas e, mais ainda, por Manuela Ferreira Leite.

Desde que assumiu a liderança do PSD Manuela Ferreira Leite é o principal tema da política portuguesa, a sua estratégia de comunicação leva a que seja ela o centro das atenções, estando sob avaliação permanente, o que não a favorece nada. Começou por manter o silêncio para, quando as sondagens começaram a ser-lhe negativas, passar ao banzé.

Quando Manuela Ferreira Leite estava calada a expectativa não estava em saber qual seria a sua posição e não no que iria dizer. EM situações de crise com as das lotas ou dos camionistas ficou calada à espera da evolução dos acontecimento, a partir daí ninguém os portugueses deixaram de se questionar sobre quais seriam as suas propostas, a notícia era se falava ou não falava.

Depois de mudou de estratégia, o silêncio transformou-se em banzé, a líder do PSD deixou de gerir o seu calendário, passou a falar sem reflectir, sempre que a oportunidade aparece a líder do PSD diz logo o que lhe vem à cabeça. Foi o que sucedeu com o Orçamento de Estado, mal a famosa pen drive chegou ao parlamento e ainda sem ter tido tempo para ler ou reflectir sobre o documento já estava a dizer que o OE era uma desgraça e o PSD votava contra. O resultado foi o PSD ter perdido todo o protagonismo no debate orçamental, o tema ficou encerrado naquele momento. Aquele que há meses que era apresentado como o grande momento de Manuela Ferreira Leite esvaziou-se em minutos, com uma posição extemporânea e irresponsável.

Enquanto o debate orçamental se arrastava no parlamento a líder da oposição andou atrás dos acontecimentos, condicionada por sucessivas asneiras políticas, como ter designado a crise financeira como “crisesinha” ou ter permitido a Santana Lopes chamar a si o protagonismo político, com a sua escolha mal amanhada para candidato a Lisboa. Agora Santana Lopes já diz que não se vai candidatar à liderança do PSD o que faz supor que Manuela Ferreira Leite fez com ele um acordo manhoso.

Como se não bastassem as asneiras de Ferreira Leite a crise financeira e as eleições americanas lá têm ou desviado a atenção do debate nacional ou remetido a líder do PSD para uma posição em que anda atrás dos acontecimentos. Lá mandou a mensagem a Obama, mas todos sabemos que uma boa parte do PSD preferia McCain, quanto mais não fosse por ser o candidato mais à direita e apoiado por um Bush de quem muitos dos amigos de Ferreira Leite eram admiradores, como é o caso de Pacheco Pereira.

Com a crise financeira Manuela Ferreira Leite tem-se limitado a ser comentadora e, como sucedeu com as garantias aos bancos, apoiante retardatária das medidas adoptadas pró Sócrates. Ainda por cima, teve o azar de ter sido o BPN a estoirar, afinal aquele banco ser nem mais nem menos a alma financeira de muitos cavaquistas, antigos colegas dela no governo de Cavaco Silva. Manuela Ferreira Leite foi colega de Oliveira e Costa no ministério das Finanças do XI Governo Constitucional. Assumiu esse cargo em 9 de Janeiro de 1990, era Miguel Beleza o ministro das Finanças.

Se a estratégia de comunicação se Sócrates visa evitar o debate político sério, sendo gerida de forma que sejam lançados assuntos sucessivos sobre a mesa, a desastrosa actuação de Manuela Ferreira Leite tem sido uma ajuda preciosa já que a líder do PSD, com as suas asneiras e inflexões, tem ocupado uma boa parte das atenções, que estão mais interessadas em identificar os seus disparates e trapalhadas do que em avaliar a qualidade das suas propostas que, por revelarem objectivos meramente eleitoralistas nem sequer têm merecido atenção. Foi o que sucedeu agora com o seu apoio às reivindicações dos professores, promoveu uma montagem que pareceu ter reunido com professores do PSD para tomar uma posição atrasada, cuja sinceridade não convenceu ninguém.