terça-feira, novembro 11, 2008

O que é feito do proletariado?


Uma das consequências da crise financeira mundial foi ajudar-nos a conhecer melhor o país que somos, enquanto o mundo debate soluções por cá assistimos a uma batalha carnavalesca em que até houve quem descobrisse que Marx tinha razão. Apetece-me dizer que quem não teve razão foi Lenine pois os únicos países comunistas sobreviventes são aqueles em que a revolução comunista foi liderada por camponeses e por cá o PCP está a ensaiar a substituição do proletariado pelos professores.

Apetece-me fazer a pergunta que serve de título a este post: o que é feito do proletariado, a classe que para Lenine tinha as mesmas virtudes que as virgens têm para os cristão, e que por isso mesmo a classe impoluta capaz de resistir às tentações e levar o mundo ao comunismo. Vão longe os tempos da gloriosa “cintura industrial de Lisboa”, agora a cidade deixa de ser invadida por fatos de macaco, o proletariado deu o papel da liderança aos professores, aos polícias, aos sargentos da Armada, aos motoristas da Carris, ao pessoal de bordo da Transtejo, aos magistrados do Ministério Público e aos oficias de justiça.

O único proletário conhecido é mesmo Jerónimo de Sousa e mesmo esse há muito que não mexe numa chave inglesa, a não ser para afinar o carro, está para as classe sociais portuguesas como o tigre da Tasmânia estava para a fauna australiana.

É curioso como a luta de classes em Portugal morreu, deu lugar a uma luta entre funcionários e o Estado, no sector privado quase não há greves, só se dá pela presença dos sindicatos quando alguma fábrica fecha, Carvalho da Silva aproveita os minutos da comunicação social enquanto os seus funcionários cobram o dízimo aos trabalhadores despedidos por conta da sua defesa futura. O Estado paga o ordenado dos sindicalistas e os trabalhadores despedidos financiam os sindicatos com uma percentagem do pouco que recebem graças à preciosa ajuda dos juristas do sindicato.

No meio desta baralhada ideológica em que as grandes conquistas sociais são substituídas pela luta contra a avaliação dos professores ou a isenção fiscal dos subsídios de renda dos juízes Manuel Alegre dá razão a Marx, Jerónimo de Sousa acede a que Louça tenha um estatuto de observador na esquerda e o líder do BE aparece a liderar as manifestações da CGTP.

Talvez Marx tenha razão, mas se o mundo que conheceu tivesse sido o Portugal de hoje nem sequer teria escrito “ O Capital”, escreveria “O Orçamento de Estado”. Em vez do “Manifesto do Partido Comunista” manteria o blogue “O Estado do meu umbigo”.