quinta-feira, novembro 27, 2008

Tempo de autos de fé


A democracia está a passar um momento de excepção, parece que voltamos ao tempo do pós-25 de Abril, quando na ausência de lei reconhecida o MFA emitia declarações a assegurar que cidadãos nunca tinham sido informadores da PIDE. Agora não há ninguém a emitir declarações, mas fazia falta.

Ainda há algum tempo Jerónimo de Sousa entendeu que lhe cabia declarar se o BE é ou não de esquerda e não nenhuma edição do Avante que não dedique a um artigo a assegurar que Manuel Alegre não é, porque é farinha do mesmo saco de José Sócrates.

Vemos nas manifestações muitos professores declararem, como se estivessem num auto de fé, que votaram no PS mas prometendo que nunca mais irão pecar. Aliás, são raras as manifestações em que a CGTP está envolvida em que não aparecem estes arrependidos.

Dias Loureiro, que andou meses calado, decidiu andar de porta em porta declarando a sua inocência no caso BPN, como prova da sua inocência até exibe um diploma de ignorância em contabilidade, assegura que não sabe nada do deve e haver com a mesma convicção dos votantes do PS que manifestam o seu arrependimento.

Na ausência de um MFA que garanta a sua inocência nas trafulhices do BPN, incluindo nas compras de empresas fantasma em que participou, Dias Loureiro teve um privilégio raro nos portugueses desta república, num dia pediu a audiência ao Presidente da República, no dia seguinte foi recebido e passado mais um dia o próprio Presidente emitiu em público um certificado de inocência. Agora já se pode apresentar no parlamento e na justiça com um valioso certificado de inocência, mais eficaz do que os certificados de qualidade que obedecem às normas ISO. Nem a ASAE se vai arriscar a dizer que cheira mal.

O próprio Presidente da República, como não tem ninguém a quem pedir uma declaração de inocência, teve ele próprio de emitir um comunicado onde garantia a sua inocência em relação aos negócios do BPN.

Algo está errado nesta democracia que se alimenta de autos de fé em público, onde a política é feita com golpes baixos e a justiça anda a reboque dos acontecimentos, mais com o objectivo de dizer que faz algo do que com a intenção de o fazer.