terça-feira, dezembro 30, 2008

2008: O ano dos banqueiros


Há muito que sabemos que os banqueiros são empresários à parte, beneficiando de um receio reverencial por parte de todos os poderes e usando o seu poder financeiro para manipular a democracia e obterem quase tudo o que pretendem. O ano que agora termina mostra que o fenómeno tem dimensão internacional e que não só a banca influencia o poder político como beneficia de uma quase total impunidade.

O conflito entre o BPI e o BCP mostrou como a banca tem um tratamento especial por parte dos poderes públicos, foi evidente o envolvimento de todos os órgãos de soberania em todo o processo, incluindo o desfecho final. O próprio Procurador-Geral da República que agora afirma que os cidadãos são igualmente tratados pelo Ministério Público chegou a conceder uma entrevista inédita a Paulo Teixeira Pinto quando este tomou posse da presidência do BCP, um banco que estava envolvido na Operação Furacão. Quantos presidentes de empresas têm este privilégio?

A bem dos mercados os bancos não estão sujeitos às regras de mercado, não podem dar prejuízo, não podem falir, fazem o que querem mesmo debaixo do nariz do Banco de Portugal. Ganham em comissões absurdas, em spreads abusivos, até nos arredondamentos mas quando as coisas correm mal é o dinheiro dos contribuintes que é usado para os salvar, mesmo quando a situação de falência resulta de falcatruas ilegais, como se viu agora.

Nem mesmo quando os negócios são suportados por um aval concedido em nome dos seus contribuintes alteram as suas práticas, no mercado exigem um tratamento especial porque são indispensáveis à economia, mas nas suas práticas de gestão a única regra é a da maximização dos lucros mesmo que isso signifique abusar de regras ou actuar nos seus limites.

As regras do mercado é coisa dos outros sectores como a agricultura, o próprio ministro da Agricultura não perde uma oportunidade para dizer aos agricultores que exigem uns trocos em subsídios de estão sujeitos ao mercado. Já em relação à banca o discurso é bem diferente, concedem-se benefícios fiscais à medida dos interesses da banca, adoptam-se normas fiscais por encomenda, fecham-se os olhos às relações estranhas entre os bancos e alguns serviços do Estado, tudo para que a bem do país a banca mantenha sempre uma notável saúde financeira. Quando as coisas correm mal o mercado parece ser coisa para agricultores e pescadores desesperados, à banca o Governo mete a mão por baixo, como Deus faz com o menino e o borracho.

O ano de 2009 foi o ano dos banqueiros, ao ano em que todos percebemos que a economia está tão dependente do seu bem-estar que não só podem beneficiar da impunidade, como são apaparicados por todos os poderes.