terça-feira, dezembro 23, 2008

Hipocondria política

Em Portugal há muita gente que parece sofrer de hiponcondria política, comportam-se em relação aos factos políticos e mesmo em relação a todos os tipos de acidentes ocorridos no estrangeiro da mesma forma que um hipocondríaco que mal ouve falar de uma doença fica convencido que tem os seus sintomas.

Se há um tsunami na Ásia começam logo a teorizar sobre a falha tectónica a sudoeste do Cabo de Sagres e a adoptar contra um eventual tsunami como o que ocorreu em 1755, mas, tal como os hipocondríacos que acabam por esquecer os sintomas e a doença que os afligia, quando o tema passa de moda esquecem o assunto e preocupam-se com outrsos problemas, como o arrefecimento global ou o esgotamento do stock de carapau na costa portuguesa. Se os funcionários municipais de Nápoles fazem uma greve e a cidade fica cheia de lixo imaginam logo um conflito entre António Costa e os cantoneiros lisboetas com resultados similares.

Quando os jovens dos arredores de Paris lançaram a confusão na capital francesa escreveram-se dezenas de artigos prevendo ou manifestando o receio de igual fenómeno em Lisboa, alguém se recordou do "arrastão" da praia de Carcavelos e já se imaginava o maralhar da Cova da Moura a invadir a Lapa e dar cabo de carros e jardiins privados.

Agora não faltam as personalidades a lançar alertas para o risco de suceder em Portugal os acontecimentos de Atenas, só falta alguém pedir a um polícia que mate um jovem da Pedreira dos Húngaros para que a capital se transforme num imenso laboratório social, uma prova de que a revolução está aí à porta, ainda que isso obrigasse a reescrever o marximo e a reformar o leninismo.

Aliás, por falar em marxismo, é de notar que são mais os políticos e comentadores que se sentem vocaionados para a sociologia (ainda bem qu não lhes dá para se armarem em médicos...) que fazem esta abordagem, os movimentos políticos que fazem da revolução o seu programa político são bem mais responsáveis pois sabem que destes movimentos não resulta nada de novo para além de um país de pernas para o ar.

O lamentável é que muitos destes hipoocondríacos da política não escondem o secreto desejo de virem a ter razão, talvez porque vivem confortavelmente em zonas residenciais que escapariam à destruição ou porque têm recursos para irem passar umas férias fora, tal como sucedeu quando Lisboa ficou sem água num mês de Julho do ínício dos anos 80.