sexta-feira, dezembro 12, 2008

Porque não estou de acordo com os professores


Defendo que os bons professores devem ser melhor remunerados, dignificando a profissão e premiando os que melhor a desempenham. Mas os professores não estão de acordo comigo, querem ganhar todos o mesmo aceitando apenas a diferenciação em função da antiguidade. Defendo que não é a mesma coisa leccionar matemática ao quinto ano e leccionar ao décimo segundo mas os professores não estão de acordo, devem ganhar o mesmo independentemente do esforço exigido.

Defendo escolas bem geridas, cabendo a gestão pedagógica aos professores e a gestão administrativa a profissionais qualificados, ainda que dando prioridade a professores com habilitações adequadas para aderir a uma carreira de gestores escolares. Mas os professores não parecem estar de acordo, preferem que as escolas sejam bem ou mal geridas em função das aptidões dos que se disponibilizam a participar nos conselhos executivos e mesmo que daí possam resultar favoritismos.

Defendo que as escolas devem ter a possibilidade de fixar os professores que deram provas das suas aptidões. Mas os professores não concordam, defendem concursos alargados em nome da igualdade, mesmo que isso possa significar o desemprego de bons professores que são substituídos por alguém com mais antiguidade. Defendo que s concursos devem ser por escola e envolver uma avaliação das suas capacidades e do seu currículo. Mas os professores não concordam, preferem concursos nacionais em que apenas se considera a nota de curso e a antiguidade.

Defendo que as escolas devem ser geridas segundo objectivos e que estes sirvam de padrão para a avaliação dos professores. Mas os professores não concordam, defendem um modelo de auto-avaliação sem quaisquer consequências para além do conhecimento por parte dos resultados.

Defendo uma escola ao serviço da comunidade e dos alunos, mas os professores discordam, entendem que a escola que melhor serve a comunidade e os alunos é aquela que começa por melhor os servir.

Também não concordo inteiramente com a ministra da Educação da mesma forma que ainda concordo menos com as medidas do ministro das Finanças, mas se não me passa pela cabeça que sejam os funcionários do ministério das Finanças a decidir pelo ministro também não posso aceitar que sejam os professores e muito menos o Mário Nogueira a substituir a ministra da Educação. É tão inaceitável que o Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos decida a política fiscal quanto o Mário Nogueira decidir a política educativa ou a gestão dos recursos humanos ou financeiros das escolas.

Mas, acima de tudo, concordo com as regras da democracia e também neste ponto os professores não estão de acordo comigo, acham que têm uma democracia privativa da sua classe profissional, que a sua “maioria” se pode substituir à vontade dos portugueses e dos contribuintes, incluindo a minha e dos que pensam como eu. Ora, neste ponto não posso nem devo transigir, muito menos quando se recorre à ameaça e à intimidação. A suposta gestão democrática das escolas não se pode substituir à democracia.

Se é verdade que os professores têm razões para estar descontentes e é legítimo que lutem pelos seus direitos, também é verdade que alguns sindicalistas, a que se juntaram os “independentes” (independentes do quê?), há muito que conduzem as reivindicações dos professores no sentido do confronto político, numa tentativa clara de fazer vergar a democracia, para que as escolas sejam uma excepção ao regime democrático, onde devem ser os sindicalistas da FENPROF a governar. Não sei se os todos os professores estão de acordo com isso ou se o aceitam para defesa dos seus interesses, mas eu não estou, da mesma forma que não receio o ambiente de intimidação que alguns tentaram criar em torno desta luta.

A luta dos professores é cada vez mais uma luta entre a democracia da rua e do braço no ar e a democracia segundo os princípios da Constituição, a Constituição de Abril que muitos dizem defender, mas que só aceitam quando e na medida e segundo a interpretação que lhes convém. Não admira, são os mesmos que em tempos cercaram a Assemleia Constituinte que estava precisamente a redigir a Constituição de Abril.