sábado, janeiro 24, 2009

Repensar o desenvolvimento

Agora que o pais investe o que tem e o que não tem numa tentativa de salvar o que se pode de uma crise financeira e económica cuja dimensão ainda ninguém conhece, talvez merecesse a pena reflectir sobre o modelo de desenvolvimento que tem sido adoptado.

Se há verdade indesmentível sobre o que se tem passado na nossa é o constante aumento das desigualdades. Se há crescimento a prioridade está em aumentar a competitividade externa à custa dos rendimentos dos que trabalham, se a crise regressa a mezinha utilizada é a mesma, a contenção salarial é uma imposição pois dela depende a competitividade.

Nada tem sido feito para alterar um modelo económico que gera desigualdades e cuja viabilidade depende dessas mesmas desigualdades. Os pobres até poderão viver um pouco melhor, o salário mínimo até poderá aumentar dez ou quinze euros, mas os pobres continuam pobres, se comparados com os mais ricos até estão muito mais pobres, a diferença entre o vencimento do presidente da CGD e um funcionário de balcão do mesmo banco é hoje infinitamente maior do que em 1973.

Sócrates tem tentado provar que o seu governo é de esquerda porque aumentou este ou aquele apoio social, mas a verdade é que estas medidas poderão dar a ilusão estatística de que há menos pobreza mas não resolvem o problema, ainda por cima são financiadas por impostos cobrados à classe média, principalmente à classe média baixa. Nenhuma destas medidas resulta na redução da pobreza, apenas iludem a realidade.

Porque hão-de os mais pobres fazerem sacrifícios se sabem de antemão que serão excluídos dos benefícios do crescimento económico quando este regressar. Afinal de contas a diferença entre o salário mínimo e o subsídio de desemprego nem é assim tão grande, o mesmo sucedendo com o rendimento mínimo.

A solução passa por uma visão global do problema do desenvolvimento, não bastando esperar que o desenvolvimento tecnológico ou o investimento na educação resolverão problema por si. De que serve a escolaridade passar para os 12 anos se o Estado posta em grandes obras públicas que requerem trabalhadores pouco qualificados? De que serve apostar na educação dos filhos se serão os que têm melhores rendimentos a ocupar as vagas das boas universidades, precisamente as públicas onde as propinas são simbólicas?

Desde os anos 70 que em Portugal se confunde intencionalmente crescimento com desenvolvimento com os resultados cada vez mais desastrosos que estão à vista de todos.