segunda-feira, janeiro 19, 2009

Vira o disco e toca o mesmo


Não é preciso ser economista e muito menos bruxo para adivinhar que no princípio da próxima legislatura estaremos mais ou menos na mesma que estávamos no princípio da actual, mais um ou menos um por cento e mesmo sem a certificação de Vítor Constâncio o défice vai ser mais ou menos o menos o mesmo, com a agravante de a dívida pública ter continuado a subir, o défice comercial estar agravado, o número de desempregados ser ainda maior.

Por agora só não é possível prever a dimensão do “buraco”, ninguém é capaz de prever a dimensão da recessão, o ministro das Finanças não sabe até quando a recuperação das dívidas ao fisco vai alimentar a receita fiscal pois as dívidas por cobrar são cada vez mais de cobrança difícil e é muito cedo para ter certezas quanto à recuperação económica.

Há qualquer coisa de errado no discurso económico, durante três anos fomos sujeitos a um empobrecimento forçado para recuperar as contas públicas para evitar a crise, agora tratamos a crise com défice das contas públicas. E quando a crise partir, talvez em 2010, voltaremos a nova dieta de emagrecimento para reequilíbrio das contas públicas para enfrentar melhor crises futuras.

O discurso oficial tem razão ao dizer que agora estamos em melhores condições para enfrentar a crise, só que durante três anos a austeridade foi justificada pela necessidade de evitar a crise. Entramos num círculo vicioso, passamos fome para evitar a crise e voltaremos a passar fome quando a crise passar, por mais incrível que pareça só teremos tréguas durante a crise.

Há qualquer coisa de errado nisto tudo, diziam-nos que o reequilíbrio das contas públicas era indispensável para evitar a crise e retomar o crescimento económico. Se agora resolvemos a crise com desequilíbrio nas contas públicas não é difícil de adivinhar que quando a crise partir retomaremos a política de austeridade para voltar a retomar o crescimento.

E como estamos combatendo a crise?

Auxiliando banqueiros gulosos e incompetentes, lançando obras que empregam serventes de pedreiros, de preferência que sejam emigrantes ilegais, desregulamentando os grandes contratos do Estado pondo fim a regras que visavam combater a corrupção. Combatemos a crise vendendo ilusões.

Resta saber como é que o governo que tivermos em 2010 vai recuperar as contas públicas, isso no pressuposto de que a crise parte. Aumentará o défice violando as regras comunitárias ou apertará o cinto provocando uma contracção do crescimento económico de que resultará uma redução das receitas públicas e, consequentemente, um aumento do défice.

Tenho muitas dúvidas.