quinta-feira, março 12, 2009

Os antecessores

No Estado quem toma posse num cargo dirigente ou de uma pasta governamental a primeira afirmação de competência que faz é dizer que tudo o que foi feita foi fruto e da incompetência e as primeiras decisões vão no sentido de destruir o que foi feito. Ainda antes de fazerem alguma coisa os dirigentes destroem o que os antecessores fizeram, comportam-se como os leões, quando conseguem expulsar o macho dominante matam as crias assegurando a sua descendência genética.

No Governo de Durão Barroso isso foi levado tão a sério que, por exemplo, Bagão Félix passou uma boa parte do seu mandato a averiguar os processos em que o Governo anterior e, em particular, Ferro Rodrigues interveio. Mas estas práticas não são nem exclusivo dos governos do PSD nem ocorrem apenas quando muda o partido do poder. Recordo-me, por exemplo, que quando Maria de Belém abandonou a pasta da Saúde no Governo de António Guterres a sua sucessora pouco mais fez do que desfazer o que tinha sido feito pela antecessora como prova da sua suposta incompetência.

O resultado deste tique nacional é destruir-se permanentemente muito do que vai sendo feito, é por isso que neste país todo o Estado está em permanente reestruturação, Governo que se preze reestrutura tudo. Aliás, os programas eleitorais já costumam ter dois capítulos, o que se vai fazer e o que se vai desfazer.

O conflito entre António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e o actual ministro da Administração Interna, que o sucedeu na pasta, é um bom exemplo deste tique, a questão do encerramento da esquadra do Rêgo é apenas um argumento, a oportunidade de António Costa para se vingar das mudanças ocorridas no ministério.

Tanto quanto sei há muito que a esquadra do Rêgo estava em ruína, na sala onde os cidadãos eram recebidos o tecto era suportado por uma barra de ferro, todo o edifício estava em degradação acelerada. Tanto quanto sei o então ministro António Costa não tomou qualquer decisão no sentido de resolver o problema, enquanto esteve no cargo foi mais notícia pela reestruturação das polícias, que até foi feita com base num estudo encomendado, do que pela preocupação pelos recursos materiais das forças de segurança.

É evidente que o edifício chegou a um estado de descalabro que o actual ministro teve de a encerrar, aproveitando para poupar mais uns cêntimos acabando com mais um serviço. O resultado foi desastroso, num bairro onde João Soares mandou construir vários bairros de realojamento com graves consequências ao nível da segurança, o fim da esquadra revoltou os cidadãos.

Preocupado com as eleições António Costa, que se julga dono do país só porque é o número dois do PS, decidiu matar três coelhos com uma cajadada, desfez no seu antecessor que ousou dispensar alguns dos que faziam parte da equipa anterior, desmarcou-se do Governo à custa do ministro da Administração Interna e apareceu como autarca empenhado aos olhos dos cidadãos que tinha esquecido como ministro e como autarca.

Este incidente entre António Costa e o ministro da Administração Interna ilustra bem a forma de fazer política em Portugal.