segunda-feira, março 30, 2009

Quatro explicações para o caso Freeport

O Caso Freeport teve o mérito de explicar aos portugueses o que sofrem os investidores neste país, a via sacra de pareceres e o enxame de moscas que rodeiam o dinheiro dos investidores. Tem servido também para os portugueses perceberem que os nossos jornalistas não são muito melhores eticamente do que o enxame de moscas que rodeiam o prato de dinheiro, sob a capa do jornalismo de investigação têm orientado as notícias para a hipótese que gostariam de ver concretizada, o envolvimento de José Sócrates.

Só que a hipótese de envolvimento do então primeiro-ministro não é a única e até ao momento os sinais são contraditórios, começando pelas orientações jornalísticas que num dia recorrem à insinuação apontando para os sinais de riqueza de Sócrates e no outro insinuam o financiamento ilegal do PS. Já tudo foi esmiuçado, deve o rigor técnico da decisão até à honorabilidade de todos os intervenientes no processo, só se esqueceram de avaliar a honorabilidade dos outros intervenientes, os denunciantes, os intermediários e até os actuais donos da Freeport, a Carlyle, uma empresa muito íntima da direita, representada em Portugal por gente do PSD.

Uma segunda hipótese a considerar é a de os intermediários lusos da Freeport se terem “abotoado” com uns milhões para além das comissões habituais. A corrupção não era nenhuma novidade para a Freeport, para além de os ingleses não nos terem (a nós e a todos os que não são ingleses) em grande conta basta ler um jornal português para se ficar a pensar que por aqui as coisas são piores do que em África. Já ouvimos o senhor Smith dizer que pediu uma reunião com Sócrates porque uns advogados lhe estavam a pedir dinheiro, na gravação aparece a dizer que Sócrates é corrupto o que, entretanto, desmentiu. A melhor forma de ganhar algum dinheiro extra é dizer que foi um político a exigi-lo, ninguém se vai lembrar de ir pedir a confirmação do político.

Uma terceira hipótese a considerar é o envolvimento de “voluntários” que se oferecem para facilitar as decisões, habitualmente não ajudam nada mas aproveitam-se da intimidade com o poder para saberem da evolução dos processos e aparecem junto dos empresários como intermediários de supostos favores políticos. Não faltam por aí os juristas que oferecem perdões fiscais ou que asseguram decisões a troco de ajudas financeiras para “o partido”. Bem também há os políticos que recebem os financiamentos partidário e ficam com a sua parte porque nisto dos financiamentos ilegais o segredo e a ausência de contas é a regra, “o partido” é sempre o argumento para extorquir dinheiro.

A quarta hipótese é ninguém ter recebido dinheiro mas confesso que por aquilo que se tem dito e pela “qualidade” de alguns intervenientes considero-a a hipótese menos provável. A não ser que os denunciantes não tenham lançado a suspeita com objectivos políticos mas por despeito, por nada terem recebido quando pensavam que outros tinham enriquecido. Não seria a primeira vez que a “dor de corno”, esta doença tão tipicamente portuguesa fazia das suas.