sábado, março 21, 2009

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Praça do Campo Pequeno, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Themba Hadebe/Associated Press]

«A woman balancing a container on her head walked past a poster of Pope Benedict in Luanda, Angola, Friday. Tens of thousands of Angolans lined the pontiff’s motorcade route to welcome him. More than 60% of the Angolan population is Christian. He urged Angolans to continue on the path of reconciliation after nearly three decades of civil war.» [The Wall Street Journal]

JUMENTO DO DIA

Responsáveis da Antena 1

É bem possível que a ideia do anúncio da Antena 1 tenha partido exclusivamente da empresa de publicidade, mas os responsáveis daquela rádio têm a obrigação de saber o que é ou não legítimo para uma estação de rádio e este anúncio era inaceitável.

Todavia, o cidadão comum não partilha de alguma indignação que por aí vai, não foram poucas as manifestações organizadas mais com a intenção de prejudicar a vida dos cidadãos do que para passar uma mensagem. O mesmo sucede, por exemplo, com as greves de uma hora nos transportes públicos, solução que a CGTP gosta muito de promover quando quer aumentar o descontentamento da população.

AVES DE LISBOA

Toutinegra-de-barrete-preto [Sylvia atricapilla]

O PAPA E O PRESERVATIVO

«Cada vez que o Papa se pronuncia sobre a contracepção, e nomeadamente contra o uso do preservativo, o mundo, em especial o Ocidente, entra em convulsões. Desta vez, foi numa viagem a África e desde a França à última ONG ou à última consciência humanitária ninguém se esqueceu de protestar. O Papa é um irresponsável e um criminoso. O Papa é uma espécie de encarnação do Mal. Há aqui com certeza um equívoco. Suponho que ninguém estava à espera que em África, sobretudo em África, Ratzinger não dissesse uma palavra sobre o assunto e, dizendo, dissesse qualquer coisa diferente da doutrina ortodoxa da Igreja. Muito pelo contrário, do ponto de vista dele, era ali, numa situação extrema e manifestamente ambígua, que devia reafirmar o que julga ser a verdade.

Para quem combate (ou simplesmente conhece) a epidemia de sida em África, a posição do Papa não tem desculpa. Recomendar a abstinência e a fidelidade (e ainda por cima, a título profiláctico) nunca serviu de nada em parte alguma. E em África muitas populações resistem ao preservativo não apenas por ignorância mas porque ele nega ou ameaça a sua cultura e a própria organização da sociedade. A palavra do Papa vem dar força a essa resistência (que, de resto, não beneficia o catolicismo) e provoca directamente milhares, se não milhões, de mortes. A fúria universal contra Bento XVI não custa a compreender. Só que o Papa não se guia nem age por uma lógica "prática" e científica. Aceita, presumo, as vantagens do preservativo. Só que não o pode aprovar sem trair a Igreja.

Os valores de Bento XVI não são os valores de um governo, de uma ONG ou de um indivíduo que tenta limitar o imenso desastre da sida em África. São valores de outra ordem. São valores de uma ordem religiosa, que cada vez menos se percebem ou respeitam no Ocidente. Não vale por isso a pena discutir a moral sexual da Igreja (e do Papa). Vale a pena garantir que ela não invade a esfera da liberdade civil. Ora Ratzinger não andou por África a pedir que se proibisse o preservativo. Pediu aos católicos que prescindissem dele, em nome de uma perfeição que os católicos escolheram procurar. A influência dele é, neste capítulo, deletéria? Inegavelmente. Convém que ela não alastre em África (e na Europa)? Sem a menor dúvida. Mas sem esquecer que o Papa está no seu direito e no seu papel. » [Público assinantes]

Parecer:

Por Vasco Pulido Valente.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A TRIPOLARIZAÇÃO

«Há muitos, muitos anos, era eu (quase...) uma criança, algum PPD queixava-se das "infiltrações de Direita" no partido. Era a época em que o partido andava à deriva, alguns consideravam que a sua matriz ideológica era socialista e que o posicionamento político tinha de ser no centro-esquerda. Escrevi bastante sobre isso e tive intensas polémicas sobre o tema.
Esta espécie de flashback surgiu-me ao ler uma crónica de Ferreira Fernandes (um dos comentadores que - como diz o Guia Michelin - "valem a viagem") em que Strecht Ribeiro falava das "infiltrações de Direita" no PS. Preocupação - reconhece-se - mais legítima do que a de há 30 anos, desde logo porque o PSD de então - esquizofrenicamente - queria ser de esquerda, mas garantindo todos os votos de direita...

Seja como for, o tema merece reflexão, ainda que se desconte a época de caça aos votos que já abriu. Admito que me vá repetir, pois nos últimos anos várias vezes tenho dito o que se resume facilmente e que vem agora a propósito de novo: como antecipei pouco tempo depois das eleições de 2005, 1) os partidos à esquerda do PS podem obter 20% a 25% dos votos; 2) o PSD e o CDS não devem conseguir alcançar mais de 35% a 40%; 3) o PS pode aspirar, portanto, a algo entre 45% e 35%.

A primeira conclusão a retirar é a mais importante para Portugal e para o futuro do sistema político: depois de 30 anos de bipolarização (e, com algum orgulho, recordo que fui, a partir de 1977/8, quem esteve mais activo na teorização e na defesa desse modelo para o desenvolvimento político português), estamos provavelmente a entrar numa fase de tripolarização, em que três blocos políticos se guerreiam, é difícil entre eles realizar alianças e coligações e a instabilidade e a ingovernabilidade se acentuarão.

A segunda conclusão é que o sonho de Mário Soares, nos idos de 75/6, se está a realizar: o PS está a tornar-se no "partido natural de Governo". O tempo da bipolarização (devido à incapacidade que o PS e o PCP tiveram em colaborar, contra o que sempre defendi dever nesses tempos ocorrer) foi dominado pelo PSD, em coligação ou solitário (de 1979 a 2005, esteve sempre no Governo, com excepção dos anos do consulado guterrista, que foi, aliás, o primeiro ensaio, prematuro, de tripolarização) e o novo tempo vai ser dominado pelo PS... se certas condições se reunirem.

A terceira conclusão é que a tripolarização altera as fronteiras do combate político. Realmente, na bipolarização, as batalhas importantes fazem-se pela conquista do "centro", entre dois exércitos, sendo o resto meras escaramuças; foi, aliás, essa a principal razão para que sistemicamente eu defendesse esse modelo organizacional do espaço político. Na tripolarização, pelo contrário, o partido central, e por isso o partido natural de Governo, tem de batalhar à esquerda e à direita, como aconteceu ao conde duque de Olivares que, para não dividir tropas entre Portugal e a Catalunha, optou por esta última, ninguém podendo saber se teria podido ganhar dos dois lados.

A quarta conclusão é que a conformação do sistema político para os próximos anos ainda depende do PS e, por enquanto, só depende deste partido, podendo vir a depender de Cavaco Silva. O que também se resume com facilidade: 1) o PS pode optar entre ser o partido liderante de esquerda e fazer o combate só à direita; 2) pode optar por ser o tal partido natural de Governo; 3) ou pode optar por tudo e ficar sem nada.

A primeira opção dará boa imprensa, mas maus resultados, a curto prazo (fuga de votos do centro) e a médio prazo (o BE, o PCP e as rosetas deste mundo passarão a valer tanto como o PS, pois a esquerda consistentemente não vale mais de 40% a 45%). É fazer as contas, como diria Guterres.

A segunda opção dará má imprensa e pode levar ao esvaziamento do PS, se perder as eleições legislativas deste ano; mas provavelmente (e devido a Sócrates), assegurará a vitória e até pode chegar à maioria absoluta se os medos da ingovernabilidade e da presidencialização cavaquista levarem franjas de esquerda e de direita, por razões opostas, a votar no cavalo vencedor, criando uma self fullfiling prophecy.

A terceira opção será a aposta na indefinição e na confusão. César, dizia-se, era o homem de todas as mulheres e a mulher de todos os homens. Fosse ou não, o PS se quiser ser tudo e o seu contrário perderá votos dos dois lados e, o que não é menos grave, a própria alma.

Em minha opinião - e por enquanto -, ainda acho que a presidencialização do regime deve ser evitada. Por isso me resignei à tese da tripolarização. Mas não nos equivoquemos, o sucesso deste modelo instável depende de coligações: no estado em que está o país, no estado em que estão os partidos, o PS, por si só, nunca ganharia eleições sozinho, e muito menos em maioria absoluta.

Há muitos anos, escrevi que o PS tinha uma coligação com António Guterres, manifestamente, e como bem recordou Ferreira Fernandes, um "infiltrado de direita". Há mais de um ano, defendi que o PS deveria fazer uma coligação com Manuel Alegre, tese que agora ganhou foros de cidade ao ser proposta por António Costa. E alguém tem dúvidas de que Sócrates está politicamente à direita e estrategicamente muito à frente do PS? Pois não é óbvio que o país há quatro anos que tem um Governo de coligação entre o PS e Sócrates?

Sem Sócrates, o PS perderia as eleições clamorosamente. Sem Alegre, pode não as ganhar com resultado tão relevante quanto o modelo da tripolarização exige. Por isso é que o futuro do PS e o conteúdo da evolução provável do sistema político exige que os dois homens se entendam e que as tropas socialistas, que pouco ou nada têm a ver com isso, aguardem em ordem unida as instruções seguintes. É chato para barões e sargentos. Mas é assim.» [Público assinantes]

Parecer:

Por José Miguel Júdice.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

É PERIGOSO ANDAR DENTRO NAS CIDADES

«O relatório anual de sinistralidade rodoviária que é hoje apresentado indica que a maioria dos acidentes rodoviários registados no ano passado ocorreu dentro das localidades, tendo o número de mortos aumentado 7,3 por cento (mais 25 vítimas mortais) face a 2007 nestes acidentes.

Segundo o documento, 71 por cento dos acidentes e 62 por cento dos feridos graves ocorreram dentro das localidades em 2008, enquanto o número de vítimas mortais foi superior fora das localidades (53 por cento).» [Diário de Notícias]

Parecer:

É uma consequência do oportunismo das autarquias que se especializaram na caça à multa de estacionamento.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Questione-se a CML sobre quantas multas de estacionamento e de desrespeito das passadeiras aplicou durante o corrente ano.»

QUEM QUER CASAR COM UMA "VIÚVA MÁRTIR" DE GAZA?

«O movimento islamita Hamas está a oferecer cerca de dois mil euros aos homens que casarem com mulheres que perderam o marido na última ofensiva militar na Faixa de Gaza.

De acordo com o Hamas, a medida visa melhorar as condições de vida e garantir o futuro das chamadas "viúvas de mártires", mas a proposta tem suscitado polémica.» [Jornal de Notícias]

MONIZ DEFENDE A ESPOSA

«O director-geral da TVI, José Eduardo Moniz, reagiu ontem com duras críticas a um comunicado divulgado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). A autoridade dos media portugueses informou estar a analisar "várias queixas" sobre "a alegada violação de princípios éticos ou legais" por parte do Jornal Nacional, transmitido às sextas-feiras pela estação televisiva de Queluz de Baixo, que nesses dias tem um registo diferente e é apresentado por Manuela Moura Guedes.

Moniz prometeu mesmo travar "um combate sem quartel" se os membros do conselho regulador da ERC, presidido por Azeredo Lopes, "alguma vez aceitassem ser cúmplices do amordaçamento da comunicação social ou servos do poder". Moniz diz recusar-se a acreditar que os responsáveis da ERC assumam esse papel, mas afirma que se tal acontecer "seria gravíssimo". » [Público assinantes]

Parecer:

A verdade é que se o jornal da Manuela Moura Guedes fosse feito por um líder da extrema-direita não seria muito diferente. Raramente vejos notícias numa estação pública porque gosto de espírito crítico, mas Manuela Moura Guedes ultrapassa todos os limites e só ligo a TVI à sexta-feira por engano.

Quanto aos bons princípios de Moniz vale a pena recordar que quando tomou conta da TVI concorreu com a SIC e a RTP recorrendo a doses cavalares de filmes pornográficos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pelo fim da paciência dos donos da TVI, mais tarde ou mais cedo vão fartar-se da família Moniz.»

JAIM SILVA QUER MATAR O NEMÁTODO DO PINHEIRO COM SILÊNCIO

«Os protocolos que foram assinados em Dezembro com as associações florestais para a marcação e eliminação de pinheiros-bravos, no âmbito do programa de acção de luta contra o nemátodo, inclui uma cláusula de sigilo sobre os dados. O assunto foi revelado pelo PSD, que considera que a exigência é "inaceitável." O Ministério da Agricultura diz que esta é "uma norma habitual em processos de contratação em que estejam em causa questões sanitárias".» [Público assinantes]

Parecer:

Desconhecia que o bicharoco se dá melhor com barulho.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Jaime Silva como chegou a tão brilhante conclusão e recorde-se o PSD, que agora protesta, que no tempo de Cavaco Silva a doença das vacas loucas foi tratada com a mesma receita.»

RONALDO PREFERE AS ESPANHOLAS

«Es uno de los mejores futbolistas del mundo y también uno de los más deseados entre la mujeres.

Su carrera deportiva la compagina con su faceta de modelo y con sus continuas conquistas que protagonizan semana a semana las portadas de los tabloides británicos. Sin embargo, aunque son muchas las féminas que han pasado por sus brazos, según los medios de comunicación, Cristiano Ronaldo tiene muy claro cuáles son sus preferidas: las españolas y las brasileñas.» [20 Minutos]

RECEITAS FISCAIS ESTÃO EM QUEDA

«O boletim de execução de Fevereiro mostra que entraram menos 560 milhões de euros nos cofres públicos em receitas fiscais do subsector Estado, face a igual período do ano anterior, num período em que as receitas de IVA desceram quase 300 milhões de euros.

Este ritmo de queda é bastante superior ao previsto no Orçamento do Estado para 2009, que prevê uma descida de 0,4 por cento no conjunto do ano para a receita de IVA.

A DGO diz que o abrandamento da actividade económica justifica este recuo de 10,2 por cento na receita do IVA, factor que também se reflectiu na descida da receita do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP).

Este último imposto viu a sua receita recuar 15,7 por cento.

As receitas do Imposto sobre o Tabaco voltaram a descer (21,5 por cento), penalizadas pela actividade económica mas também pelo efeito de base registado em Janeiro de 2008, segundo a DGO.

O IRS, o segundo imposto que mais pesa nas receitas fiscais (só atrás do IVA) viu a sua receita estagnar, mas o IRC rendeu menos 139 milhões de euros (queda de 57,5 por cento).

Esta descida elevada do IRC não representa a tendência para o conjunto do ano porque está enviesada pela falta da autoliquidação e dos pagamentos por conta, lembra a DGO, mas está afectada pelo aumento da despesa com reembolsos, derramas e transferências para as regiões autónomas.» [Jornal de Notícias]

Parecer:

É um aviso ao Governo que se convenceu de que o sucesso se devia à magia do ministro das Finanças e anda a maltratar os funcionários da Administração Tributária.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Alerte-se Sócrates para os riscos que corre.»

ERUPÇÃO SUBMARINA PERTO DE TONGA [Link]

LORA PALMER

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