segunda-feira, maio 25, 2009

Notas de campanha para as europeias (1)

Na perspectiva dos partidos políticos portugueses as eleições europeias estão para a luta política como a taça da liga está para os clubes de futebol, os deputados que elegem de pouco mais servem do que para serem exibidos na vitrina tal como a taxa da liga, os lucros daí resultantes não dão para as despesas da campanha.

O único aliciante é funcionarem, pelo menos aparentemente, como embalagem para as campanhas seguintes, designadamente, as legislativas, daí que o discurso publicitário nada tenha que ver com a Europa. Resta saber se os eleitores que castigarão o partido do governo manterão o seu voto em futuros actos eleitorais ou usarão estas eleições para darem um raspanete a Sócrates.

Mas a luta política a que se assiste não se centra apenas no Governo, na verdade há dois combates políticos, entre o PSD e o PS a pensar no poder e entre o PCP e o Bloco de esquerda a lutarem pela hegemonia na esquerda conservadora, pela primeira vez o PCP poderá ser ultrapassado pelo Bloco o que para Jerónimo de Sousa será uma profunda derrota política, mesmo que o seu partido cresça na votação. Um partido comunista é na acepção do marximo-leninismo o líder do proletariado, se o PCP perde em relação ao Bloco sofre um grande golpe no seu próprio estatuto.

As opções do PCP e do Bloco para iniciarem a sua campanha foram condicionadas por esta luta. O PCP tentou fazer uma grande exibição de força sabendo que o Bloco, um movimento anarco-trotskista-leninista, é incapaz de organizar uma quermesse, 85.000 manifestantes exibiram ao do Bloco a grandeza do PCP. O Bloco respondeu na sua moeda e foi exibir a sua bandeira com a estrela internacionalista afeminada num território que o PCP considera uma coutada, enquanto Jerónimo exibia os seus dotes de grande líder em Lisboa Louça e Miguel Portas roubavam-lhes os votos no Alentejo. A escolha de Miguel Portas não é casual, foi líder da UEC e um menino bonito do PCP, partido do qual saiu em rotura suave, sem despertar o ódio dos seus militantes.

Por sua vez o PSD comporta-se nesta campanha como os pequenos partidos que vão a eleições só para conseguirem tempo de antena, Paulo Rangel e Manuela Ferreira Leite falam de tudo menos das europeias, num dia aproveitam a campanha para pensarem nas autárquicas, no outro preocupam-se com as legislativas. O discurso baixou de nível e voltou ao tempo da tanga, com os outdoors a imitarem os que foram feitos no tempo de Durão Barroso. Ferreira Leite luta desesperadamente por votos e por resultados nas sondagens.

O PS parte para a campanha tão convencido da vitória e opta por uma mensagem cinzenta e oficialona, os seus cartazes mais parecem uma campanha de venda de títulos de pré-reforma, com os jovens encostados aos velhotes. É uma campanha com cabelos brancos, bem penteada e de gente convencida da sua superioridade. O PS pode pagar cara a arrogância dos seus candidatos.

Por fim, o CDS junta-se nesta campanha aos pequenos partidos sem expressão eleitoral, Portas luta desesperadamente pelo seu futuro e apesar da sua boa perfomance como líder partidário não consegue votos, fala, fala mas os eleitores já não acreditam nele. O CDS arrisca-se a desaparecer depois das europeias.