segunda-feira, junho 22, 2009

Qual crise?

Ainda é cedo para falar em retoma económica mas já começa a ser evidente que muita gente errou nos prognósticos relativos às consequências da crise financeira. A crer nalgumas previsões mais pessimistas por estas horas deveríamos andar todos de alpargatas, o que não sucedeu. O aspecto mais negativo da crise foi o aumento do desemprego, mas muitas das empresas que encerraram as portas eram empresas debilitadas que ao primeiro empurrão teriam dificuldades.

Onde estão os ideólogos que viram nesta crise a Páscoa a prova de que os seus conceitos elementares de marxismo são ciência certa? Não faltaram os que viram nesta a mãe de todas as crises, a grande crise que poderia desencadear a mudança dialéctica do modelo económico, nem mesmo Manuela Alegre, animado pelo seu namoro com a extrema-esquerda, hesitou em ver na crise a prova de que o seu romantismo político tinha fundamentos sólidos no chamado socialismo científico.

Onde estão os que viram nas dificuldades no acesso ao crédito uma boa razão para abandonar as grandes obras públicas? Ainda Manuela Ferreira Leite defendia que o dinheiro que iria ser destinado às obras (dinheiro que frequentemente diz não existir) deveria ser distribuído pelos pobrezinhos e já muitos dos ilustres economistas da praça, alguns deles são grandes responsáveis pelo atraso económico do país, diziam que as obras públicas iriam consumir uma boa parte do crédito que deveria ser para as empresas. Dizia-se que os concursos deveriam ser adiados porque os concorrentes não conseguiam mobilizar os necessários financiamentos. Entretanto, mudaram de ideias e fazem abaixo-assinados a pedir uma reflexão sobre as grandes obras.

São dois bons exemplos de como neste país os problemas são discutidos de forma ligeira e, não raras as vezes, de forma oportunista. Perante a gravidade dos cenários da crise financeira foram muito poucos os que procuraram soluções ou deram a cara por propostas, a regra foi a dramatização e as falsas propostas, como a ideia peregrina exposta nos cartazes do PSD, de que a crise deveria ser superada com os fundos comunitários.

Os ideólogos deixaram de reflectir sobre as teoria marxista das crises económicas e foram para banhos, os economistas dedicam-se a abaixo-assinados para decidirem o futuro do país à margem da representação dos portugueses, na linha de iniciativas como o defunto Compromisso Portugal.