sábado, junho 20, 2009

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Tatro Nacional de São Carlos, Lisboa

JUMENTO DO DIA

Luís Campos e Cunha

Seria normal que o professor Luís Campos e Cunha assumisse um papel de liderança da oposição se não tivesse sido membro do Governo e partilhado o seu programa. Assim o professor pode ficar com a afama de ressabiado.

AVES DE LISBOA

Pato-real [Anas platyrhynchos]

FLORES DE LISBOA

Monsanto

MOSCAS MORTAS

«Esta coisa do amor do povo é tramada - como o amor em geral, de resto. No período de enamoramento, nada há que o ser amado faça que não deslumbre - até matar uma varejeira com a mão. Uns tempos depois e aparecem os defeitos: "Viram como ele matou a mosca com a mão e nem sequer a foi lavar, ficou ali sentado? Que nojo." Ou: "Que pessoa insensível e casca grossa, olhem o exemplo que dá às crianças, matar assim um animal e rir-se por cima." E no fim: "Quer tanto saber daquela mosca como de nós. Só pensa nele"; "É mesmo típico, mata uma mosca e pensa que fez uma grande coisa"; "Aposto que fez questão de que aquilo passasse na TV para mostrar ao povo que é uma pessoa normal, mata ele as suas próprias moscas, pffff." Isto tudo com a mesma mosca morta. E talvez a mesma pessoa. » [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A INÚTIL E ABSURDA MOÇÃO DE CENSURA

«A moção de censura ao Governo, apresentada por Paulo Portas, apenas favoreceu José Sócrates. As frivolidades do chefe do CDS-PP são extremamente fatigantes. O que poderia ser divertido começou a transformar-se num bocejo. Sócrates desbaratou-os a todos, num terreno que lhe é propício. O registo atingiu, por vezes, as raias da agressividade. Porém, o estilo tornou-se vulgar. Ainda há dias, Vítor Constâncio, com razão ou sem ela, chamou ignorante a Nuno Melo, durante as cansativas declarações ao Parlamento sobre actividades do Banco de Portugal.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

Baptista Bastos gostaria de ser líder da oposição e coordenar a actuação dos partidos da direita e da extrema-esquerda de forma a derrotar Sócrates.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Baptista Bastos se está apaixonado por Manuela Ferreira Leite.»

O RENOVAMÓMETRO

«Paulo Rangel e Pacheco Pereira afirmaram claramente: o PSD precisa de renovar muito fortemente as suas listas de deputados. Parabéns por isso. E o mesmo poderá ser dito por qualquer dos outros partidos. Espero que todos o digam e depois passem das palavras aos actos, após o que os parabenizarei, como dizem os nossos irmãos brasileiros.

O sistema partidário português nunca precisou tanto de renovação porque nunca esteve a um nível tão baixo. O episódio recente da lei de financiamento dos partidos (que publicamente pedi que fosse vetada e, por isso, grato fiquei ao Presidente da República) surgiu como apenas mais um exemplo do estado de desagregação do sistema que há muito entrou em processo de entropia negativa.

As causas são conhecidas, como já por várias vezes referi. Hoje em dia, os militantes activos dos partidos correspondem aos eleitos por esses partidos para os vários escalões políticos, desde as freguesias ao Parlamento. Vivem disso e para isso e, como é evidente, organizam-se para evitar que surjam quaisquer valores novos que venham tentar competir pelos lugares escassos que ocupam.

A única forma de penetrar no sistema - para além de alguns nomes excepcionais que são exibidos nas campanhas eleitorais e para os quais é forçoso abrir algumas vagas - é entrar quase adolescente para as organizações de juventude. Aí podem insinuar-se pelo esforço e pelo trabalho junto de uma figura grada, fazer campanhas, integrar um gabinete autárquico ou nacional, tornar-se políticos profissionalizados antes de terem qualquer profissão. Depois, com alguma sorte e muita intriga, podem ir subindo gradualmente; até porque se abrem sempre algumas vagas, pois a partir de certa idade alguns políticos afastam-se para actividades mais rentáveis para que são contratados devido à notoriedade, aos contactos e à experiência de sobrevivência num mercado muito competitivo.

Este cursus honorum sem diversidade é muito negativo para o sistema. Por um lado, porque formata um tipo de político que não tem experiência da vida, que vive em circuito fechado, que depende dos chefes e da carreira e, por isso, não tem ou não usa o espírito crítico, não se orienta por valores ou ideologia, mas tão-somente pela sua carreira pessoal. Por outro lado, porque não se abre a candidatos à vida política que tenham essa atracção mais tarde, quando ou depois de já terem exercido uma actividade profissional. Este outro tipo de candidatos traria diferenciação e novidade ao sistema, no que seria uma espécie de reforço da ecologia política baseada na diversidade e na complementaridade.

O problema agrava-se por uma razão histórica. Quando em 1974 se iniciou o processo democrático, abriram-se oportunidades para uma geração que tinha na altura entre 15 e 35 anos (e que agora tem entre 50 e 70 anos), que ocupou tudo o que havia disponível e que dominou durante este tempo o processo político, afeiçoando-o aos valores, objectivos e preocupações que ao longo dos tempos foram assumindo: agressivos, aguerridos e corajosos nos anos 70, ambiciosos nos anos 80, ávidos nos anos 90 e conservadores na primeira década do nosso século. O que significa que, para além da entropia que resulta da inexistência de factores de diferenciação, a classe política não se renovou geracionalmente, está instalada, agarrada como lapa à rocha, e não disposta a modificar as regras do jogo, aspirando apenas a manter as suas pequenas e grandes sinecuras.

Veja-se o exemplo - que tantas vezes referi sem que até hoje nem um único partido nem um único político alguma vez tenha ousado discordar de mim - do excesso de freguesias e de câmaras municipais, que contribuem para a tragédia do ordenamento do território, para o aumento dos custos do Estado e até para uma cultura de ociosidade política. Não é possível reduzir o número de autarquias porque isso tornaria a luta pelos lugares, mais escassos, ainda mais dura e agressiva; e, evidentemente, os políticos profissionais preferem ter mais lugares para distribuir do que ter de lutar ainda mais por eles.

Não nos equivoquemos: na classe política existem pessoas com imensa qualidade e a inexperiência política é algo que se paga caro. A actividade política é talvez a profissão mais exigente e difícil para aqueles que a ela se dedicam em full time e com seriedade. Não me canso de afirmar que a política é a profissão mais nobre e importante que conheço.

Acresce que Portugal atravessa dificuldades que colocam em risco a nossa sobrevivência, apesar de ainda não o estarmos a perceber bem: veja-se a esse título o que os trabalhadores da Autoeuropa fizeram a António Chora, um dos sindicalistas mais qualificados e esclarecidos que conheço e que tão bem sabe lutar com realismo pelos interesses que representa.

A dimensão dos desafios tem de aumentar o sentido de responsabilidade das elites, dos que muito ganharam com 30 anos de democracia e crescimento económico e que pouco ou nada deram ao Colectivo e ao Bem Comum. Existe, por isso, uma janela de oportunidade para a renovação do pessoal político nas próximas eleições legislativas e autárquicas. Espero que os partidos sejam capazes de candidatar mais mulheres (até porque a lei o exige), mais pessoas com experiência da vida real e que estejam com uma idade em que voltam a ter mais tempo para dedicar a causas sociais e colectivas, mais pessoas que tenham estado à esquerda e à direita envolvidas em combates cívicos, numa palavra, portugueses que vão para a política para servir e não para se servirem.

Estou convicto de que na hora de votar os portugueses vão analisar este tema e medir qual o partido que mais tenha sido capaz de renovar as suas listas. Espero até que a Critical Software ou a Y Dreams inventem um renovamómetro que permita medir instantaneamente a renovação, para assim nos ajudarem a escolher em quem votar. E, mais do que isso, nos ajudarem a decidir ir votar.» [Público assinantes]

Parecer:

Por José Miguel Júdice.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

FINALMENTE UMA BOA NOTÍCIA

«O indicador da actividade económica melhorou em Maio, interrompendo "o forte movimento descendente" iniciado um ano antes, anunciou hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE).

A Síntese Económica de Conjuntura, elaborada pelo INE, informa que o indicador de clima económico melhorou para 2,5 pontos negativos em Maio, comparativamente aos 3 pontos negativos verificados em Abril.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Pelos vistos não o foi para a miserável oposição que temos, até parece que os seus líderes preferem ver o país afundar-se.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Solicite-se um comentário aos líderes dos partidos da oposição.»

RIBEIRO E CASTRO CAI NO REGAÇO DE PORTAS

«No mesmo dia em que censurou o Governo, o presidente do CDS anunciou vários cabeças de lista do partido às legislativas, entre eles Teresa Caeiro por Lisboa e José Ribeiro e Castro pelo Porto. O ex-líder centrista, que foi um dos maiores críticos de Paulo Portas, viu no convite que lhe foi feito, e que aceitou, um "sinal de união" do partido. As mesmas palavras utilizadas por Portas a justificar a decisão, depois de o ter excluído da lista às eleições europeias em nome da "renovação".» [Diário de Notícias]

Parecer:

à falta de melhor um lugar da Assembleia da República dá jeito.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Ribeiro e Castro se Portas o convidou através do Centro de Emprego onde se inscreveu depois das europeias.»

EDUARD ZENTSHIK

HONDA