quarta-feira, julho 15, 2009

O partidos portugueses: o PCP (3)

O PCP é o único partido português com princípios ideológicos que não mudam em função das circunstâncias e com um projecto político que o define enquanto partido. Afirma-se claramente como um partido marxista-leninista, ainda que evite assumir em público todas as consequências práticas dessa afirmação, designadamente, os conceitos leninistas de tomada do poder ou o modelo político de sociedade. Entre a evolução e o regresso ao conservadorismo o PCP compreendeu um partido comunista só o é se for conservador, isso permitiu que o PCP que tenha sido o único a sobreviver no mundo ocidental. A opção do PCP é em tudo semelhante à da Igreja Católica, as duas instituições perceberam que só fazem sentido se evitarem a modernização, quando mudam diluem-se e tendem a desaparecer.

O regresso à ortodoxia proporciona aos seus militantes uma grande segurança ideológica, tal como os cristãos ou muçulmanos conservadores assentam os seus princípios em dogmas inquestionáveis, a ideologia estrutura-se em torno de escritos que ainda que desenquadrados do mundo actual são considerados verdades absolutas, intemporais e inquestionáveis. Isso permitiu contar com uma nova geração de militantes indiferentes à história, à realidade social do que resta do mundo socialista, certos da sua verdade tratam os que ousam questioná-los como anti-comunistas primários, da mesma forma que os muçulmanos fundamentalistas olham com ódio todos os que caricaturam Alá.

Dizer a um jovem militante do PCP que a Coreia do Norte é uma sociedade absurda gerida por uma monarquia de tarados é o mesmo eu tentar convencer Bin Laden de que Alá não existe. Enquanto os velhos comunistas que passaram pela prisões e foram contemporâneos da URSS ainda tinham dúvidas e hesitavam em exibir Estaline como um modelo de virtudes, a nova geração de militantes do PCP, que não passou por nenhuma prisão nem foi contemporânea das invasões da Checoslováquia e da Hungria, assume como não se via no PCP desde o XX Congresso do PCUS a admiração por Estaline.

Derrotadas as correntes moderadas que existiam no PCP o partido assumiu claramente a liderança dos comunistas portugueses, a própria extrema-esquerda que o acusava de revisionista cedeu às fragrâncias do capitalismo e desfez-se numa coligação multicolor que esconde os velhos símbolos e ideologias para disputar ao CDS os jovens que num passado recente eram da JC. Esta manobra cosmética dos nossos trotskistas, estalinistas e maoistas acabou por dar resultados eleitorais, mas a verdade é que o BE vai estar tanto tempo na moda como estiveram as calças boca de sino.

A direita e as corrente social-democratas não perceberam esta mudança do PCP e passados trinta e cinco anos desde o partido saiu da clandestinidade este não só sobreviveu como está mais forte do que nunca. A direita que passou décadas a exorcizar o país dos males do gonçalvismo chega agora a fazer visitas de solidariedade a estruturas sindicais controladas pelo PCP e que são fiéis aos princípios leninistas do sindicalismo.

Chegámos ao ridículo de ver uma direita de cócoras e incapaz de convencer os eleitores de que e uma alternativa a aplaudir oposição conduzida pelo PCP na esperança de sobrarem os votos necessários para os dois septuagenários do PSD controlarem o poder. É uma aliança temporária, a social-democracia está entre a direita e o poder da mesma forma que, com as suas políticas sociais, é o inimigo número um dos fundamentos ideológicos dos comunistas que asseguram que

a felicidade colectiva e o bem-estar dos pobres só chega com a ditadura do proletariado.De um partido comunista que consegue ludibriar a direita ao ponto de contar com o seu apoio implícito dos seus dirigentes, beneficiando mesmo do apoio logístico das suas autarquias para transportar manifestantes, só se pode dizer que é um partido conduzido por gente inteligente.