terça-feira, julho 14, 2009

Os partidos portugueses: o PS (2)

Do ponto de vista organizacional o PS é uma combinação estranha entre os clãs medievais, as castas indianas e um bordel espanhol. Mais do que partilharem uma ideologia os militantes do PS assumem valores semelhantes e organizam-se em torno de líderes de clãs que ora se guerreiam, ora se unem para fazer face ao inimigo externo. Só quando o inimigo está nas suas fronteiras é que reúnem forças, mesmo assim, lembrando o jogo de alianças das tribos árabes no tempo das cruzadas, é possível ver um Manuel Alegre juntar-se ao BE e namorar o PCP para compensar a falta de forças para dominar os restantes clãs.

No PS não se sobe por mérito, não existe o conceito de militante de base, adere-se ao partido e entra-se directamente para as fileiras de um dos senhores feudais, o futuro político do militante depende do sucesso do seu senhor. O caso de Manuel Alegre exemplifica bem esta característica do PS, uma boa parte dos militantes que apoiam as ambições e o exercício de vaidade pessoal de Manuel Alegre estão dispostos a abandonar o PS para fundarem o PRD alegrista no dia em que o chefe decidir. Para os militantes de Alegre formar um novo partido não é mais do que declarar a independência de um principado.

Esta organização em torno de clãs, ou mais precisamente de principados, leva a que o PS seja um partido fortemente classista, quase organizado em castas. Os herdeiros dos príncipes entram directamente para altos cargos, deputado ou assessor ministerial, os outros servem para fazer número nos comícios e arruadas. São estes tiques monárquicos que justificam a rápida ascensão de algumas personalidades, João Soares é o exemplo mais emblemático disso.

Num partido onde o mérito é desprezado em favor nas relações pessoais e da cor do sangue é natural que a consideração pelos eleitores não seja muita, o eleitor é o cidadão comum que de vez em quando vai votar e cuja opinião pode ser manipulada por meia dúzia de outdoors. Os senhores dos clãs sentem-se donos de quotas de eleitores, é o caso de Manuel Alegre que ainda hoje anda armado em dono da vontade dos eleitores que votaram nele nas eleições presidenciais.

Compreende-se facilmente a desorientação e o desânimo que se instalou em muitos militantes do PS com o resultado das eleições europeias, organizado em clãs o partido é incapaz de reagir colectivamente à adversidade. Os militantes de base esperam ansiosamente pelas ordens do chefe do seu clã e muitos destes chefes ainda não decidiram se apoiam Sócrates ou se, por mera vingança depois de se terem sentido prejudicados com a partilha dos despojos da última batalha eleitoral, o deixam entregue à derrota.

A verdade é que o PS ganha mais eleições graças ao apoio de independentes que mobilizam a sociedade do que pela competência e prestígio dos seus dirigentes. Independentes que rapidamente são esquecidos na hora da partilha dos cargos governamentais ou, como sucedeu no tempo de Guterres, são acusados de todos os males.