sexta-feira, setembro 18, 2009

Isto é muito grave

Vale a pena ler a notícia do DN aqui reproduzida no essencial pelo Jornal de Notícias:

«Fernando Lima, assessor de Cavaco Silva, é apontado como o responsável pela notícia do Público a sugerir que a presidêncida da República suspeita que está a ser escutada. No jornal que avançou a notícia, em Agosto, cresce também "a suspeita" de ingerência dos Serviços Secretos.

Fernando Lima, assessor de longa data de Cavaco Silva, é apontado como o homem que sugeriu ao jornal “Público” a ideia de que a presidência da República suspeitava estar sob escuta do Governo ou do PS. A informação terá sido divulgada ao editor de política daquele jornal, Luciano Alvarez, numa conversa num “café discreto da Avenida de Roma”, em Lisboa, em Abril de 2008.
O DN apoia-se num email, supostamente enviado por Luciano Alvarez ao jornalista Tolentino Nóbrega, correspondente do Público na Madeira, a contar a história, datada de 23 de Abril de 2008. Mais de uma ano depois, a notícia chegou à primeira página do “Público”, porque “outras fontes revelaram novos dados de uma história que ainda não está toda contada” disse José Manuel Fernandes, director de o “Público”, em declarações à rádio Antena 1.

Considerando que não era possível alguém ter acesso ao email, José Manuel Fernandes levanta a “suspeita” de que o jornal “Público” possa estar sob escuta dos Serviços Secretos. “Não sei se há em Portugal muita gente com capacidade técnica e de meios para fazer isso”, disse, hoje de manhã, à Antena 1.

“Agora, é preciso saber a quem interessa que esta informação tenha chegado a vários jornais”, disse, apontando as suspeitas ao Governo e ao PS.

No email que o DN replica na página 2, com frases sublinhadas a amarelo, Luciano Alvarez conta a Tolentino Nóbrega que recebeu um telefonema de Fernando Lima a solicitar um encontro, que aconteceu, no dia seguinte ao primeiro contacto, num café em Lisboa. “Foi direito ao assunto, estava ali para falar comigo a pedido do presidente da República”, lê-se no documento publicado pelo Diário de Notícias.

“O presidente da República acha que o gabinete do primeiro-ministro o anda a espiar”, escreve Alvarez a Tolentino, “e a prova grande disso terá sido dada na Madeira”. Surge, assim, a justificação para o caso ser tratado pelo jornalista na Madeira, “para não parecer que não foi Belém que passou esta informação, mas alguém ligado ao Jardim”, lê-se ainda no documento, que Alvarez, contactado pelo DN, diz ser forjado. Nóbrega não quis comentar, mas, em editorial, o DN diz que “a autenticidade” do documento foi “confirmada por um dos destinatários”.

No email, Alvarez revela que Fernando Lima levanta suspeitas sobre Rui Paulo Figueiredo, assessor jurídico de Sócrates, que viajou para a Madeira na comitiva de Cavaco aquando da visita ao arquipélago governado por Jardim. O editor de política do Público revela a Tolentino Nóbrega algumas das perguntas sugeridas pelo assessor de Cavaco Silva, que terá facultado, ainda, um dossiê sobre Rui Paulo.

“Isto pode ser paranóia do PR e do Lima, mas, mesmo sendo paranóia, não deixa de ser grave que o PR pense isto e que ande a passar a informação ao Público”, pode ainda ler-se no suposto email de Alvarez para Nóbrega. “O Lima sugeriu que tratasse com ele desta história por email porque estão com medo das escutas”, lê-se ainda.»

Da notícia resulta o envolvimento claro de um assessor do Presidente, senão mesmo de Cavaco Silva na tentativa de criação de um facto político que criasse a suspeita em relação ao comportamento democrático do primeiro-ministro. Uma estratégia montada a partir de Abril que encaixa na perfeição no tema preferido de Manuela Ferreira Leite, a suposta asfixia democrática.

O envolvimento de Cavaco Silva e dos seus assessores na tentativa de levar Manuela Ferreira Leite a São Bento concentrando no PSD cavaquista o poder da República não passou apenas, percebe-se agora, pelo envolvimento de assessores de Belém e votos comprados na eleição de Ferreira Leite para a liderança do PS, pela colaboração na elaboração do programa ou nas insinuações que Cavaco tem lançado, esse envolvimento inclui também o assassínio político de José Sócrates.

As declarações de José Manuel Fernandes, director do jornal Público são, no mínimo patéticas, diz que o mail foi forjado e ao mesmo tempo insinua que o Público também estará sob escuta, lança mesmo a insinuação de envolvimento dos serviços de informações. O director do Público, que em breve vai abandonar a direcção do jornal e, ao que parece, vai para assessor de Durão Barroso, parece ter pouca consideração intelectual pelos portugueses. Se o mail foi forjado para que seria necessário os envolvimento dos serviços de informações? Como pode garantir que esse mail não chegou a ninguém de fora do jornal? Porque razão não solicita uma investigação à PGR se acha que houve um crime de intrusão no sistema informático do jornal.

Porque razão sai esta notícia neste momento? É evidente que esta notícia ajuda a desmontar a teoria da asfixia democrática, não faz sentido falar de asfixia democrática quando os assessores do Presidente da República tratam os portugueses como idiotas e tudo fazem para transformar o país numa república das bananas. Mas também o é que sai num momento em que a campanha de Manuela Ferreira Leite entra num impasse com o esgotamento da sua imagem e dos seus argumentos, desta forma as eleições legislativas são transformadas naquilo que sempre foram, a primeira volta das presidenciais.

Qual o papel de Cavaco em tudo isto? É evidente que Fernando Lima nada fez sem o conhecimento, apoio ou mesmo inspiração de Cavaco Silva, é evidente que as notícias do jornal Público foram lançadas quando os assessores do Presidente entenderam ser conveniente, a crítica de dirigentes do PS ao envolvimento de uma assessora de Cavaco Silva na elaboração do programa do PSD foi apenas uma oportunidade que surge no momento certo. Uma oportunidade idiota mas mesmo assim uma uma oportunidade, o que passou foi as supostas dúvidas de Belém em relação ao governo.

Porque sai esta notícia num momento crítico da campanha eleitoral para as legislativas? É provável que tenha sido agendada segundo os critérios jornalísticos do Diário de Notícias, mas também se pode sugerir que obedece a uma campanha negra.

O PS pouco ganha com esta notícia num momento em que as sondagens e o comportamento dos dirigentes do PSD evidenciam dificuldades por parte deste partido. Mas isso não exclui a possibilidade de ou a Presidência ou o PSD estar interessado neste debate, neste caso teremos de concluir que perante o receio de derrota de Manuela Ferreira Leite os homens de Belém tenham decido meter “toda a carne no grelhador”, com esta notícia Ferreira Leite desaparece e a disputa eleitoral passa a ser entre José Sócrates e Cavaco Silva, a líder do PSD não passa de uma marioneta do cavaquismo.

De qualquer das formas é evidente que o grande candidato a primeiro-ministro não é Manuela Ferreira Leite, há muito que Cavaco Silva lançou o tema da ingovernabilidade, o termo é dele e foi lançado quando muito antes das legislativas já falava que ia reunir com os partidos para discutir a situação de ingovernabilidade que sairia das eleições legislativas. A própria Manuela Ferreira Leite apontou como objectivo político da sua candidatura retirar a maioria absoluta a José Sócrates, ou seja, dar o poder e o protagonismo político ao Presidente da República.

É cada vez mais evidente que a candidatura de Manuela Ferreira Leite não passa de uma encenação cavaquista, o seu governo não passaria de um governo de assessores do Presidente, o seu programa mais não seria do que o ditado pelos interesses desses assessores e dos sectores empresariais do cavaquismo, de que o BPN e o BPP são dois bons exemplos.

Os objectivos políticos de Manuela Ferreira Leite são claros, lançar a crise política devolvendo o poder a Cavaco Silva e salvar o cavaquismo e todos os interesses que ao longo de mais de duas décadas nasceram, cresceram e viveram à sua sombra.

Os cavaquistas não hesitam em pôr em causa os fundamentos da democracia portuguesa para defenderem os seus interesses. Cabe agora aos eleitores decidir que querem uma democracia ou um caudilho.