sábado, setembro 26, 2009

Umas no cravo e outras na ferradura

TERMINOU A CAMPANHA ELEITORAL

SUGESTÕES PARA OS NOSSOS POLÍTICOS RELAXAREM

Para que os nossos políticos se relaxem (os que já não são relaxados) durante o dia de reflexão:

Cavaco Silva: Dire Straites/Making Movies

Paulo Portas: Eric Clapton/Cocaine

Manuela Ferreira Leite: Folclore algarvio/ Tia Anica de Loulé

Francisco Louçã: Pink Floyd/Another Brick In The Wall

Jerónimo de Sousa: Música da Guerra Civil de Espanha/¡Ay Carmela!

José Sócrates: Paco de Lucia/Entre dos aguas

FOTO JUMENTO

Arruada do PS no Chiado, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Jewel Samad/Agence France-Presse/Getty Images]

«President Barack Obama and first lady Michelle Obama welcomed Italian Prime Minister Silvio Berlusconi to the G-20 dinner in Pittsburgh Thursday. Mr. Berlusconi, currently chairman of the G-8, urged that the two forums be kept separate amid calls for the G-20 to take on a more prominent role.» [The Wall Street Journal]

A MENTIRA DO DIA D'O JUMENTO

Graças ás escutas feitas pelo SIS aos assessores mais desbocados do Palácio principalmente, principalmente os que costumam rondar a redacção do Público, O Jumento conseguiu apurar que tudo o que se passou, incluindo a demissão de Fernando Lima, não passou de uma encenação de Cavaco Silva para assegurar o apoio do PS e a vitória nas próximas presidenciais.

Tal como já tinha sucedido com a candidatura de Fernando Nogueira a primeiro-ministro Cavaco achou que deveria afundar a campanha de Ferreira Leite, isto porque sempre achou que o PSD dificilmente conseguira pôr os ovos todos no mesmo cesto. Aliás, a escolha de Ferreira Leite justificou-se porque agora Cavaco pode dizer à sua velha amiga que ao promover a sua derrota estava a fazer-lhe um favor pois pode finalmente ter um descanso merecido e tempo para o netinho.

O Jumento só não conseguiu apurar se tudo estava combinado com Sócrates ou se estamos perante um gesto de generosidade institucional, as escutas foram interrompidas porque no momento em que o assessor de Cavaco ia explicar se o presidente lhe tinha mandado dizer que o Sócrates estava feito com a manobra passou o José Manuel Fernandes, um feroz adversário do cavaquismo e fez-se silêncio.

JUMENTO DO DIA

Cavaco Silva

Quando se esperava que Cavaco Silva ficasse calado o semanário Expresso vem dizer que fontes de Belém dizem que Cavaco está mesmo convencido de que houve escutas. Depois de ter enterrado a sua velha amiga, Cavaco Silva tenta salvar a face. De asneira em asneira Cavaco Silva caminha para a renúncia do mandato.

ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA

Ao ouvi-lo a comentar a campanha eleitoral na SIC Notícias achei que se em vez dele estivesse um balão de oxigénio ligado ao PSD não se teria notado a diferença. É uma pena que estes comentários não sejam novamente ouvidos depois das eleições.

Só que os nossos AJT ainda não perceberam que os eleitores já não lhes ligam, já não confiam neles.

AVES DE LISBOA

Felosa-comum [Phylloscopus collybita]

FLORES DE LISBOA

No Parque Eduardo VII

RECTA FINAL

«Ocupados como estamos com a campanha eleitoral, com os discursos dos candidatos e os episódios mediáticos que têm marcado estas duas últimas semanas, quase nem nos apercebemos de que o mundo continua a girar à nossa volta.

Progressivamente vão-se consolidando os sinais de uma retoma económica ainda frágil, mas que vai chegando a vários quadrantes geográficos e sectores económicos. No final desta semana ocorre a terceira reunião do G20, ocasião para fazer o balanço das políticas de estabilização financeira e de combate à crise, bem como de dar um impulso à nova arquitectura financeira global, para a qual foram dados importantes contributos pelas propostas sobre regulação e supervisão divulgadas pela Comissão Europeia.

No domingo, mais de 80 milhões de alemães vão a votos e as sondagens indicam que o perfil político do futuro Governo não está ainda estabilizado, oscilando entre uma grande coligação e um acordo de partidos do centro-direita.

E faltam apenas oito dias para que os irlandeses decidam do destino final do Tratado de Lisboa, através de novo referendo.

Algumas incógnitas importantes serão, pois, preenchidas nestes próximos dias.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por António Vitorino.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

CUSPIR NO VOTO QUE PEDEM

«Há duas semanas, aqui, espantei-me com a fórmula com que Francisco Louçã se apresenta, agora: "Sou socialista, laico e republicano." Perguntei: então, quando é que deixou cair o "revolucionário"? É que eu não me lembro de ele ter declarado essa passagem, de revolucionário para ex-revolucionário, corte que marca um antes e um depois, e que permitiria, por exemplo, ser um leal membro de um governo a que ele, ainda há pouco, chamava burguês. Faltava a Louçã - dizia eu, então -, "a ele, que dá tanta importância à ideologia, que o diga na teoria, antes de ser definitivamente comprovado, na prática, que mudou." Repito: gostava de ouvir Francisco Louçã dizer já não ser revolucionário e que acredita que eleger deputados para a Assembleia da República (esta mesma, a democracia representativa) é a melhor forma de governar (já sabemos, eu, Churchill e mais uns quantos, que má, mas a melhor). Sim, Louçã? Alguns portugueses precisam, com urgência (até domingo), que Louçã tire isso a limpo. Digo alguns porque eu, não. Não preciso, ouvi o cabeça de lista do Bloco de Esquerda por Castelo Branco, onde o BE pode eleger um deputado, dizer que "a democracia representativa está falida". Então, está a candidatar-se a quê? » [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A DEMOCRACIA DESPREZADA

«Factos: a 18 de Agosto, o Público lançou em manchete uma "notícia" sobre a "suspeita" de que a Presidência estaria ser vigiada/escutada pelo Governo. A "notícia", toda baseada nas afirmações de uma fonte anónima "da Casa Civil", nada apresentava como evidência das "vigilâncias" e não continha sequer contraditório - nomeadamente o dos "acusados", PS e Governo - prosseguindo no dia seguinte com a descrição de como um adjunto do PM teria, na viagem presidencial à Madeira em 2008, "espiado" o pessoal da presidência sentando-se em mesas "para onde não tinha sido convidado" e crimes da mesma estirpe.

As duas "notícias" do Público foram reproduzidas em todos os media sem desconstrução (no peculiar mecanismo de câmara de eco do sistema mediático), sob o silêncio esmagador da Presidência. A 9 deste mês, durante a entrevista "íntima" que deu à SIC, Louçã acusou Fernando Lima, assessor de Cavaco para a comunicação, de ser a fonte das "notícias". A SIC ignorou, no noticiário, a existência de tais declarações e todos os media, à excepção do DN, que pegou no assunto dois dias depois, fizeram o mesmo. A 13 de Setembro, porém, surgia a primeira coluna do Provedor do Leitor do Público sobre o assunto. Nesta, Joaquim Vieira afirmava ter investigado o caso e concluía não só pela inexistência de contraditório e consubstanciação nas "notícias" como revelava que estas tinham surgido a partir de uma única fonte em Belém, através de um contacto mais de um ano antes; que a única investigação efectuada no caso, pelo correspondente na Madeira Tolentino de Nóbrega e que infirmava a tese das vigilâncias, tinha sido ignorada; que apesar de a "denúncia" ter mais de um ano, o único "espião" citado, o tal adjunto do PM, não tinha sido ouvido pelo jornal. Vieira anunciava voltar ao assunto na semana seguinte, mas o que dizia era já muitíssimo grave: "Salvo melhor prova, tudo não passa de um indício, sim, mas de paranóia, oriunda do Palácio de Belém. Só que tal manifestação é em si já notícia, porque revela a intenção deliberada de alguém próximo do PR de minar a relação institucional (ou a "cooperação estratégica") com o governo."

Apesar da gravidade inusitada destas acusações, voltou a reinar nos media o silêncio sobre a matéria. Até sexta-feira passada, quando o DN publicou a evidência daquilo que Vieira denunciara, com o nome da fonte: Fernando Lima. Só perante essa prova inquestionável se espalhou a coragem para dizer o óbvio: que é inaceitável um jornal fazer o que o Público fez e que ainda o é mais que o Presidente da República o tenha permitido. Como se existisse um temor reverencial por tudo o que emana ou parece emanar da Presidência, um temor que impede de dizer o que está a nu. E um temor não menos brutal de ser suspeito de "defender" o Governo. Ora isto não é asfixia, é anóxia, e não é pequena ou média, é enorme e nada tem de democrática. Que haja quem, perante isto, tenha a suprema desvergonha de querer virar o bico ao prego e acusar as vítimas e os que denunciaram a tramóia é apenas, infelizmente, expectável. Sabemos o que sucedeu, sabemos quem despreza a democracia. Saibamos desprezá-los na exacta medida do seu desprezo por nós. » [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

"O MISTERIOSO CASO DE BELÉM"

«O impecável e severo dr. Cavaco, com o propósito de não interferir na eleição do próximo domingo, deixou cair um romance policial no meio da campanha - um romance policial daqueles que, segundo a propaganda do género, "não se conseguem largar" ou "não se devem a ler à noite". A campanha, evidentemente, acabou. Ninguém já fala da miséria que aí está e por aí vem. Não se juntam dois portugueses que não seja para discutir "O Misterioso Caso de Belém". Não há debate na televisão que não deslize, no primeiro minuto, para os tremendos pormenores da intriga. E os comentadores, a julgar pelo que escrevem, não pensam noutra coisa. Nenhum Presidente mudou até hoje a situação política do país com tanta eficiência e tanta rapidez como o dr. Cavaco.

Portas, Sócrates, Louçã e Jerónimo tentaram não pegar na batata quente (desculpem a mistura de metáforas). Todos se recusaram - por enquanto - a dizer uma palavra sobre o assunto. Sócrates, por exemplo, instruído pelo melodrama da Freeport, declarou a coisa "uma brincadeira de Verão". Mas Manuela Ferreira Leite, que é inexperiente e do PSD, e ainda por cima amiga de Cavaco, caiu na asneira de levar a sério cada versão e digressão da história e, quando deu por ela, tinha manifestamente perdido qualquer autoridade para se pronunciar sobre fosse o que fosse e muito menos sobre o pobre estado da economia e das finanças. O prestígio de pessoa séria e prudente que ela pouco a pouco adquirira não resistiu às lendas sobre "escutas" nem ao tropo obrigado da "indignação democrática", em que ela, sinceramente, não se distingue.

As consequências disto para o dr. Cavaco são imprevisíveis. Em primeiro lugar, neste momento o PSD com certeza que não lhe agradece o esforço. Em segundo lugar, o comportamento errático de um Presidente da República (como Eanes lhe explicará) não se desculpa com facilidade. Do Presidente da República, o grosso do país quer um "sim" ou um "não". E Cavaco, às vezes, pareceu achar que sim, que o andavam a vigiar (não desmentiu nada e prometeu um inquérito aos serviços de informação); e às vezes pareceu achar que não, que não o andavam, de facto, a vigiar, e demitiu Lima, o fidelíssimo Lima, presumivelmente como autor único e provado de "O Misterioso Caso de Belém". Claro que só se vai saber a verdade na última página. Entretanto, ficaram vários cadáveres pelo caminho.» [Público]

Parecer:

Por Vasco Pulido Valente.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

DOUG WINSOR