sábado, outubro 03, 2009

Que alianças?

É uma ingenuidade pensar que em Portugal são possíveis alianças políticas, mesmo em nome do país e por maior que seja a crise que este tem de enfrentar. A classe política te o seu bem-estar garantido e cada um vez o interesse nacional sob a perspectiva do seu bolso ou da sua ideologia.

A esquerda mais romântica sonha com uma grande maioria de esquerda como se fosse possível o PCP aceitar uma coligação onde o BE teria um maior peso em função dos últimos resultados eleitorais ou em que o PS se esqueceria das declarações de Louça ao Público onde divulgou o seu projecto pessoal de destruir o PS. O ódio dos comunistas às correntes social-democratas tem um século e uma longa história de crimes, para o PCP e para o BE a destruição do PS significa destruir o maior obstáculo ideológico ao seu projecto político. Qualquer aliança com o PS estaria condicionada a esse projecto.

À direita tudo é aparentemente mais fácil ainda que o crescimento eleitoral do CDS tenha complicado o jogo e alianças, tal como sucede na extrema-esquerda em consequência do crescimento do BE. Enquanto o PCP se considera o legítimo representante da esquerda conservadora, o PSD julga-se o titular desse estatuto na direita, O PCP precisa de se desenvencilhar do BE para crescer, da mesma forma que o PSD precisa de se livrar do CDS.

Aliar-se ao PSD de nada serviria para Paulo Portas pois não o levaria ao poder, em contrapartida significaria deixar que os seus novos eleitores se diluíssem no eleitorado do PSD. Para representar a direita como deseja Paulo Portas, o CDS terá de crescer e esse crescimento só será sustentado se crescer com votos da direita, isto é, do PSD.

Mas se o PCP e o BE teriam de se unir primeiro para depois negociarem uma coligação, já na direita isso não seria possível já que uma aproximação do CDS ou do PSD ao PS significaria uma rotura na direita. Por outro lado, uma aproximação significaria a marginalização do outro partido, pelo que CDS e PSD avaliarão a estratégia um do outro antes de uma decisão.

Se Portas ajudar Sócrates pode exigir contrapartidas e apresentar-se ao eleitorado da direita cobrando as medidas que conseguisse fazer passar. Tal perspectiva seria dramática para um PSD que teme a evolução do Caso BPN, o ideal seria uma aliança com o PS se a contrapartida fosse abafar o caso. Mas Sócrates não põe ajudar o PSD já que tudo depende do PGR depois do que o PSD e Cavaco Silva lhe fizeram nos últimos tempos, para além das vária campanhas que lhe foram movidas, estará muito interessado em saber quem são as personalidades do PSD (ou os familiares) que serão envolvidas no caso BPN.

Se Portas viabilizar um governo do PSD este partido ficará em maus lençóis e para os lados de Belém haverá quem faça contas ao dinheiro que se ganhou com as acções da SLN. Por isso não me admiraria nada se nos próximos dias Manuela Ferreira Leite acorde com uma imensa preocupação com o interesse nacional e venha dizer que tudo fará para assegurar a estabilidade do país no momento em que enfrenta uma grave crise.

É evidente que no actual contexto parlamentar os partidos da oposição estão mais preocupados com o parceiro eleitoral do que com o outro e até que as sondagens apontem para a inversão dos resultados das eleições nenhum partido estará interessado em ajudar ou derrubar Sócrates. Mas não é certo que as alterações das intenções de voto beneficiem a a oposição ou todas as forças da oposição. Se, por exemplo, o CDS cair Paulo Portas não estará interessado em eleições legislativas, o mesmo sucederá na esquerda conservadora se o BE perder votos.

E o que se fará do caso BPN? Bem, como é sabido, a Procuradoria-Geral investiga estes casos pontualmente com cinco anos de atraso, Cavaco Silva até poderá concluir o segundo mandato sem que ninguém lhe volte a explicar qual foi a mão amiga que o ajudou a ganhar uma pequena fortuna com um misterioso negócio de acções não cotadas.