segunda-feira, outubro 12, 2009

Umas no cravo e outras tantas na ferradura

FOTO JUMENTO

Baixa de Lisboa

A MENTIRA DO DIA D'O JUMENTO

O Jumento conseguiu fotografar Ferreira Leite e Pedro Santana Lopes no momento em que o casal partia para andarem por aí-

JUMENTO DO DIA

Francisco Anacleto Louçã

O Chico Anacleto está a perder qualidades, não conseguiu dizer que o BE foi o vencedor das eleições nem, num golpe de mágica de retórica, demonstrou que os votos que não chegaram para eleger Fazenda, o candidato que ele acompanhou como se fosse menor de idade, foram importantes para impedir a maioria abosluta de Costa

Louçã apresentou-se nestas autárquicas para impedir maiorias absolutas à esquerda e à direita e acabou transformando o BE numa minoria absoluta. Parco em imaginação Louçã aproveitou a sua declaração para dar uma das suas homilias, deu uma seca aos portugueses.

Vimos a versão mais deprimente do Chico Anacleto, alguém arrogante que é incapaz de digerir uma derrota e remeterse à sua dimensão.

DIREITA POUCO RESPEITADORA DOS PRINCÍPIOS

A entrevista dada no domingo de manhã foi muito mais do que umas palavras de circunstância, foi um apelo descarado ao voto. Aliás, Portas não foi o único a exceder-se, o apelo desesperado de Pedro Santana Lopes para que todos fossem votar cheirou a mais do que o apelo tradicional ao cumprimento do dever cívico e as declarações de Manuela Ferreira Leite de que contava com uma vitória também não é muito próprio de um partido como o PSD.

É bom que se saiba que apesar de as sondagens serem divulgadas após o fecho das urnas ao longo do dia as empresas que fazem sondagens à boca da urna vão recolhendo os dado hora a hora pelo que muito antes do encerramento das urnas os partidos conseguem saber o resultados. Isto é, quando alguns candidatos vão votar já têm conhecimento das primeiras projecções. Por exemplo, uma das empresas de sondagens já tinha dados para Lisboa às 13 horas, António Costa tinha 35% dos votos, contra 29% de Santana Lopes. Compreende-se o apelo desesperado de Santana Lopes ao voto os lisboetas, mais do que uma declaração foi um apelo desesperado, com estes números nem com uma fraude eleitoral se safaria.

A direita tentou fazer campanha no dia das eleições.

ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

Se nas eleições legislativas todos os partidos se auto afirmaram como vencedores, mais fácil será fazê-lo nas autárquicas, uns ganham por terem mais câmaras municipais ou freguesias, porque têm mais mandatos, porque aumentaram os mandatos ou, como no caso do BE, porque conseguiu meia dúzia de mandatos.

Falar de vitória do PSD em Santarém é uma evidência, mas dizer que é uma vitória de Manuela Ferreira Leite é uma falsidade. Mas o mesmo não se poderá dizer da derrota de Santana Lopes em Lisboa, essa derrota é totalmente de Ferreira Leite que não só escolheu o candidato com base num negócio feito debaixo da mesa, como se empenhou pessoalmente na campanha. Até a vitória em Faro teve o sabor amargo da derrota em Tavira. Como se isso não bastasse perdeu Leiria onde a escolha da candidata foi sua.

O Bloco de Esquerda não só perdeu como foi esmagado nestas eleições, depois de quase ter chegado aos 10% nas legislativas viu o PCP remetê-lo para as dimensões típicas da extrema-esquerda. Não só ficou muito aquém do pretendido como desapareceu na CM de Lisboa. Francisco Louça começou a queda no debate com José Sócrates e ainda não travou a queda.

A CDU pode falar em vitória, não só poderá ter saído reforçada como pôs o BE no seu lugar.

Duas semanas depois de umas legislativas realizadas num contexto muito adverso e com os partidos da oposição a prolongar com as autárquicas o discurso usado anteriormente o PS reafirma-se como o maior partido, mesmo sem ter recorrido a coligações (a excepção será Lisboa mas a coligação foi feita no seu espaço eleitoral) resistiu e ainda conseguiu algumas autarquias, como Beja ou Leiria. Além disso, infligiu em Lisboa uma derrota pesada a Louça e a Ferreira Leite.

AVES DE LISBOA

Hora do banho na Quinta das Conchas

FLORES DE LISBOA

Medronheiro na Quinta das Conchas

MAIS UM PRÉMIO

«O PÚBLICO de ontem teve o mérito de cobrir todo o espectro de reacções possíveis ao Nobel de Obama. Eu bem esgaravatei, a ver se sobrava um nicho onde eu pudesse aninhar-me, mas estava tudo ocupado. Posso só dizer que sou da opinião de Mário Soares: que foi a melhor decisão possível? A única coisa que não foi dita é a óbvia: as pessoas dão uma grande importância aos prémios Nobel. Discutem-nos como se fossem prémios atribuídos por toda a raça humana. Quando se desiludem com uma escolha, sentem-se traídos. Dá sempre a ideia que há uma raivinha de não terem sido consultados.

Os prémios Nobel são prémios como outros quaisquer. O livroOs Meus Prémios de Thomas Bernhard diz tudo o que há a dizer sobre prémios, fazendo-nos morrer de riso. Só porque dão mais dinheiro do que outros - dinheiro que cresceu graças à invenção da dinamite, esse poderoso químico da paz -, não quer dizer que sejam mais importantes. É um prémio concedido por cinco gajos e gajas que não conhecemos de parte nenhuma, nomeados pelo Parlamento norueguês. Toda a gente adora a Noruega, mas calma aí no alvoroço. São cinco incumbidos, coitados. E todos os anos fazem o melhor que podem.

Deixem-nos estar. Reagir como se esses cinco louros representassem a humanidade é representar mal a humanidade. Todos os prémios Nobel são prémios tão banais como os outros prémios. Que lindo seria se só pudéssemos ler os escritores que ganharam o prémio Nobel ou o da Dyrup, se tiver um. » [Público]

Parecer:

Por Miguel Esteves Cardoso.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A ESPUMA E A ÉTICA

«Os habituais descodificadores de enigmas políticos têm andado agitados. O que é compreensível: ao chamado "caso das escutas", com os seus irresistíveis ecos de intriga palaciana, não faltam ingredientes para excitar o apetite interpretativo dos especialistas em dissecar jogos de poder. Mas pode o leitor ficar descansado: não é nossa intenção adicionar uma nova perspectiva à abundante variedade de explicações políticas sobre o "caso". Muito pelo contrário.

Este artigo é antes uma tentativa de recuperar um episódio circunscrito - um "caso" dentro do "caso" -, cuja gravidade foi eclipsada pela voragem de interpretações mais ou menos confusas sobre as movimentações e motivações dos actores políticos supostamente envolvidos na trama.

Referimo-nos à publicação, na edição de 18 de Setembro doDiário de Notícias, de correspondência privada trocada entre dois jornalistas do PÚBLICO. Embora as análises do "caso das escutas" contenham frequentes referências aoe-mailem causa, indicando o reconhecimento implícito da relevância factual da respectiva publicação peloDiário de Notícias, a verdade é que tais referências raramente alimentaram um mínimo de reflexão sobre o significado desse facto jornalístico nos planos ético e deontológico.

Agora que o "caso das escutas" ameaça dissolver-se rapidamente, a oportunidade de uma reflexão desse tipo pode perder-se definitivamente, arrastada pela espuma em que toda esta história parece destinada a transformar-se. E é isso que importa evitar.

A publicação da mensagem de correio electrónico enviada por um jornalista do PÚBLICO a partir da sede do jornal para o seu colega na delegação da Madeira é muito grave a vários títulos. Num plano ético mais genérico, trata-se de uma flagrante, grosseira e injustificável violação da privacidade. Só em circunstâncias excepcionalíssimas é lícito promover a exposição pública de correspondência privada. Se pensarmos em correspondência envolvendo figuras públicas, pode ser eticamente aceitável que se opte pelo sacrifício da privacidade, desde que a opção seja justificada por um claro benefício público decorrente da divulgação e apoiada numa cuidadosa ponderação dos seus efeitos.

No caso doe-mailpublicado no Diário de Notícias, os intervenientes não são figuras públicas, não se vislumbra o interesse público da respectiva divulgação e parece evidente que os seus efeitos - com excepção dos efeitos sobre as vendas do jornal do dia - não foram devidamente ponderados. Assim sendo, estamos perante um acto de descarada promoção de voyeurismo gratuito da pior espécie.

Mas há mais. Os códigos deontológicos que regulam a actividade dos jornalistas em qualquer parte do mundo insistem na necessidade de assegurar a protecção das fontes. O jornalista que expõe a identidade de uma fonte que não o autorizou a fazê-lo põe em risco a relação de confiança entre fontes e jornalistas, prejudicando assim o acesso à matéria-prima da investigação jornalística. Ao divulgar a correspondência privada entre dois jornalistas do PÚBLICO a respeito de uma investigação em curso, oDiário de Notíciasexpõe publicamente uma fonte dessa investigação, nominalmente identificada noe-mail privado que decide publicar. Se a publicitação não autorizada da identidade da própria fonte é um atropelo deontológico grave, o que dizer da exposição abusiva de uma fonte de colegas de um jornal concorrente? Estamos perante um acto de terrorismo jornalístico da espécie mais desleal.

O dia 18 de Setembro fica como um dia negro na história recente do jornalismo português. Mais negro será se não aprendermos nada com o que se passou. » [Público]

Parecer:

Por Joaquim Trigueiros Negreiros.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «JTN tem toda a razão mas desta vez os jornalistas envolveram-se num golpe e ao fazê-lo ultrapassaram o papel de jornalistas e passaram a ser interveniente, pelo que as questões deontológicas há muito que estavam relegadas para um segundo plano.»

EMIL AGAEV

DENTSU