segunda-feira, agosto 31, 2009

Presidente pela graça de Deus?

Desde aquela famosa intervenção de Cavaco Silva de que os portugueses tiveram conhecimento graças a uma dica dada por um dos seus assessores anónimos ao jornal Público que sinto um calafrio sempre que Cavaco Silva diz que vai falar. Não porque dê muita importância às suas intervenções, mas porque desde que decidiu intervir activamente no curso político do país que as suas atitudes merecem a minha desconfiança.

Cavaco Silva está a usar como nenhum outro presidente o prestígio da Presidência da República para engrandecimento da sua pessoa e até da sua família. Cavaco ainda não parece ter percebido a diferença entre uma monarquia do século XVII e uma república do século XXI. Só isso explica o tom paternalista com que passa a vida a ameaçar que vai falar ou o ambiente de suspense que antecede as suas intervenções públicas.

Sempre que algo o incomoda Cavaco Silva ou diz que não fala ou deixa no ar ameaça de que se for necessário fala. Parece que as suas intervenções são anunciadas como uma ameaça de raspanete a alguém que se portou mal. E di-lo com um ar de quem pensa que os portugueses vão suster a respiração enquanto o ouvem.

Só que vivemos numa república, ainda que a foto de família nos jardins de Belém no dia do seu aniversário nos faça pensar que o país é um principado e a família Silva é o equivalente luso da Casa de Grimaldi, do Mónaco. Tal como o presidente da minha junta de freguesia Cavaco Silva foi eleito com os votos dos portugueses para exercer as suas funções com independência e ao serviço de todos os portugueses, algo que não tem sucedido. Cavaco não é presidente pela Graça de Deus, mas sim eleito pelos votos dos mesmos portugueses que nas próximas presidenciais poderão escolher outro presidente.

Há muito que Cavaco deixou de ser um factor de estabilidade e a escolha de Ferreira Leite só veio transformar estas legislativas na primeira volta das presidenciais e a forma como ele e os seus assessores se têm comportado só evidencia que Belém está mais emprenhado nestas eleições do que muitas secções do PSD.

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Alfama, Lisboa

JUMENTO DO DIA

Alberto João

Só mesmo o Alberto João para admitir implicitamente que Manuela Ferreira Leite comprou o seu apoio ao programa eleitoral com a garantia da alteração da lei das finanças regionais em caso de vitória do PSD.

O ENDURECIMENTO DO DISURSO DE DIREITA DE FERREIRA LEITE

O programa já tinha levado o PSD mais para a direita, tendência que foi confirmada com o discurso da líder do PSD na Universidade de Verão. Manuela Ferreira Leite pretende alinhar o discurso com Cavaco Silva ou num cenário de derrota já está a disputar os votos do CDS?

AVES DE LISBOA

Ganso-do-Egipto [Alopochen aegyptiacus]
Local: Quinta das Conchas [2009-08-30]

FLORES DE LISBOA

VOT, OBVIAMENTE, PSD

«Com a vitória de Junho, parecia ter-se instalado a dinâmica mínima necessária para conduzir o PSD à liderança do Governo. Infelizmente, muito do que tem acontecido desde então voltou a trazer incerteza ao resultado final. Nomeadamente, o processo de escolha de candidatos a deputados e as suas sequelas (por exemplo o affaire Moita Flores), as declarações estratégicas avulso e desconexas de muitos dirigentes e, menos, o conteúdo do programa eleitoral ontem apresentado.

As listas de candidatos foram escolhidas unilateralmente pela líder e seus colaboradores. Legalmente, cumprindo os estatutos, legitimamente, porque nunca prometeu - ao contrário de mim próprio - inverter as regras e dar poder ao país e às bases. Não enganou ninguém. Todavia, levou longe de mais esse exercício. A exclusão de Passos Coelho, Miguel Relvas, Rui Gomes da Silva, foi um disparate político; a inclusão de António Preto uma opção errada; a imposição de alguns cabeças de lista sem nexo aparente com os ciclos eleitorais um exercício sem sentido. Até o facto de existirem muitos filhos de políticos nas listas - talvez em excesso - só ganhou relevância dado o clima de fractura escusadamente criado. Esta questão parasitará, negativamente, todo o processo em curso.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Luís Filipe Menezes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

DEIXEM-NAS ARROLHAR

«A época de caça às rolas abriu no dia 15. Desde esse dia que as rolas que pousavam na antena da nossa casa não fazem o cru-cru-cru que faziam todos os dias. Ou o tur-tur-tur latino que fez com que sejam conhecidas por Streptopelia turtur. Os ingleses interpretaram bem o turtur e, no mesmo espírito, chamaram-lhe turtle doves, apesar de terem (um) pouco a ver com as tartarugas.

Ontem recomeçaram. Se calhar, os caçadores cansaram-se. Ou pararam por respeito. Um desgraçado de um pai matou um filho de 16 anos quando caçavam rolas. Deve ser como envenenar involuntariamente um filho com uma batata frita, quando se leva o rapaz à Luz para ver jogar o Benfica. Quer-se partilhar e ensinar e incluir, mas, por azar, acaba-se por excluir para sempre a pessoa amada.

De qualquer modo, as rolas estão lixadas. Um relatório de 2007 diz que a população de rolas caiu 62 por cento nos últimos anos. Mesmo assim, o estatuto de conservação que lhes atribuem é o mais "quero lá saber" de todos. É "LC": least concern. É a categoria das aves com que menos se preocupam.

A carne das rolas é magra e pouca e precisa da gordura de outros animais para ser minimamente saborosa. A fome é muita. Mas serão as rolas que ajudam a resolvê-la?
Uma vez comi uma canja de pombo; outra vez um arroz de tordos. Em ambos os casos paguei uma fortuna e fiquei, para além de gastronomicamente desiludido, pesaroso e culpado. Será que não podemos deixar as rolas cantoras em paz?»
[Público assinantes]

Parecer:

Por Miguel Esteves Cardoso.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

FERREIRA LEITE MAIS À DIREITA DO QUE NUNCA

«Por outro lado, acrescentou, "criou-se um ambiente de intriga e de falsas verdades, diluíram-se pilares da sociedade como a família e o casamento, para impor a vontade da lei onde devia prevalecer a liberdade individual", a coberto de "proteccionismos pseudo-esclarecidos" e entrando-se no "declínio e na erosão dos valores cívicos e éticos".» [Diário de Notícias]

Parecer:

Estas declarações são a versão partidária do veto presidencial à lei das uniões de facto.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Ainda bem.»

TRATAR O CÃO COM O PÊLO DO PRÓPRIO CÃO

«"Quando se não quer comentar, não se comenta. Quando se comenta, alimenta-se a polémica." Assim comentou, por sua vez, o dirigente socialista Ricardo Rodrigues as palavras de ontem do Presidente Cavaco, que classificou a questão das "escutas" a assessores de Belém como tentativas de "desviar as atenções dos reais problemas do País" . Cavaco frisou ainda que, "no tempo em que vivemos", não fará comentários com conotações político-partidárias.

Os socialistas parecem, no entanto, reenviar a bola para o campo do Presidente, sublinhando que a polémica começou em Belém. Outro dirigente socialista, José Lello, é ainda mais directo. "Acho que a declaração do Presidente é uma crítica à sua Casa Civil, porque a situação foi criada por fontes anónimas de lá oriundas. O Presidente deveria, talvez, preocupar-se com isso", disse Lello ao DN.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Este assunto só merece uma gargalhada.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a devida gargalhada.»

SANTANA REAPARECEU

«"Está na altura de parar e olhar, para as pessoas não dizerem sempre as mesmas coisas nos programas. É por isso que eu gosto do programa da doutora Manuela Ferreira Leite, é contido e não diz aquilo que não pode, nem diz aquilo que não sabe", afirmou Santana Lopes, no último jantar-conferência da Universidade de Verão do PSD, que termina no domingo.» [Diário de Notícias]

Parecer:

O afastamento de Santana Lopes parece justificar-se pelo facto de o candidato a Lisboa não querer ser prejudicado com a colagem à imagem da líder. O mesmo parece suceder com Manuela Ferreira Leite.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Ferreira Leite se vai aparecer ao lado de Santana antes das autárquicas.»

SASCHA HUTTENHAIN

PROJECTO QUIXOTE

domingo, agosto 30, 2009

Semanada

A semana trouxe-nos o programa eleitoral do PSD e a primeira conclusão que se pode tirar é que os assessores de Belém são gente muito mais fraquinha, mais vocacionados para a calhandrice do que para elaborar programas eleitorais, o que explica o fraco desempenho oratório do marido da dona Maria. Convenhamos que para fazer aquele programa nem era preciso ajuda dos assessores canídeos de Belém, bastaria a Manuela Ferreira Leite pedir ajuda a Sócrates que o resultado seja o mesmo. O programa eleitoral do PSD não só é um elogio a Sócrates como se trata de um grande frete ao PS.

O marido da dona Maria falou finalmente, mas para dizer que nada diria, o que se entende, o homem não tem nada para dizer e a concluir pelas suas últimas intervenções ou sai mosca ou sai asneira. Agora deixou de fazer insinuações, passa o tempo a ameaçar que vai falar aos portugueses se necessário. O problema é que o faz como ameaça e com tiques de paternalismo, parece que o marido da dona Maria acha que o país é um imenso infantário onde lhe cabe o papel de educadora.

Inesperadamente, o programa eleitoral ganhou um admirador, o antigo delfim de Álvaro Cunhal que parece apostar em conquistar a simpatia do PSD. Depois de a Iberdrola ter perdido alguns concursos e de ter permitido a Manuela Moura Guedes atirar-se a Sócrates, compreende-se que Pina Moura tente conquistar as graças da direita. Poder-se-ia dizer que os ratos são os primeiros a abandonar o navio, mas neste caso é possível que se venha a aplicar a velha máxima de que Roma não paga a traidres.

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Alfama, Lisboa

JUMENTO DO DIA

Pina Moura

Há muito que o presidente da Iberdrola, um dos piores ministros do governo de Guterres, se aproxima da direita, só isso explica que enquanto presidente da TVI tenha dada roda livre ao casal Moniz. Não admira que o ex-delfim de Alvaro Cunhal aposte agora na direita em defesa dos seus interesses na Iberdrola, só se lamenta que ataque as políticas sociais alinhando com Manuela Ferreira Leite.

Em Portugal o oportunismo de algumas personagens não tem limites.

AVES DE LISBOA

Juvenil de Carriça [Troglodytes troglodytes]
Local: Belém

FLORES DE LISBOA

Em Belém

SERVIDOS CEDO DEMAIS

«Para depois do 27 de Setembro está-nos reservado uma de muitas sopas de letras. Ou PS saboroso ou PS aguado ou PSD em caldo farto ou PSD desenxabido ou PS+CDS ou PSD+CDS ou PS+BE ou PS+PCP ou PS+BE+PCP ou PS+BE+PCP+CDS ou PSD+BE ou PSD+PCP ou PSD+BE+PCP ou PSD+BE+PCP+CDS ou essa sopa de pedra, com todos, PS+PSD+CDS+BE+PCP ou todas as variantes desta última com um dos ingredientes recusando-se em se meter no molho... E aí vão as permutações possíveis, que eu em ementas não sou sectário, leio-as até ao fim. Muitos e variados pratos. Mas, como em todas as sopas há sempre um líquido, em cada uma das variantes de próximos Governos há esta constante: sozinhos ou juntos, há sempre PS e PSD. Pelo menos um deles, sempre. Nas eleições todos são iguais, mas nas nossas há dois mais iguais que os outros. Poderá filosofar-se sobre o assunto, mas o essencial do assunto é isto: é assim e ponto final. Daí que para mim, com todo o respeito que tenho pelos outros chefs, exista um debate: José Sócrates contra Manuela Ferreira Leite. Vai ser a 11 e vou votar a 27. É como estudar a ementa duas semanas antes de me sentar para comer. » [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A DIREITA APOSTA NA CRISE POLÍTICA

«O ex-líder do PSD Marcelo Rebelo de Sousa disse hoje que o programa do partido é "inteligente e eficaz" e um "programa para duas eleições", considerando "plausível" a realização de legislativas antecipadas dentro de dois anos.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Marcelo foi claro como a água.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Vote-se numa situação estável.»

PROCESSO FREEPORT QUASE CONCLUÍDO

«Tal como o DN adiantou ontem, a investigação ao caso está praticamente concluída, sendo que, até agora, não foram recolhidos elementos que indiciem o envolvimento do primeiro-ministro, José Sócrates, em práticas ilegais. Os procuradores Vítor Magalhães e Paes de Faria concentram as atenções no actual grupo de arguidos, considerando-os como os principais responsáveis em todo o processo de licenciamento do caso Freeport. À cabeça estará Carlos Guerra, antigo presidente do Instituto de Conservação da Natureza (ICN), o organismo que, aliás, tomou a iniciativa de, em 2001, propor a alteração dos limites da ZPE. Carlos Guerra, segundo informações já vinda as público, está indiciado pelo crime de corrupção passiva para acto ilícito. Isto porque, já em 2004, Carlos Guerra foi trabalhar para Manuel Pedro, um dos arguidos do processo e antigo sócio da empresa Smith&Pedro, recebendo um adiantamento de 75 mil euros. Terá sido esta a contrapartida? "Trabalhar para alguém não é crime", disse ao DN fonte próxima de Manuel Pedro. Nesta linha "encaixa" ainda José Manuel Marques, antigo quadro do ICN e da Câmara de Alcochete: este técnico conseguiu uma avença de mil euros/mês com o Freeport, estando indiciado no processo judicial por corrupção passiva. "Ele estava autorizado a trabalhar para a Freeport", sublinhou a mesma fonte.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Cheira-me que a constituição de Carlos Guerra como arguido sem prova de qualquer crime apenas serve para tapar um fiasco. De qualquer das formas conclui-se pela inocência de Sócrats o que significa que toda a campanha fomentada por fugas ao segredo de justiça apenas visou uma alteração do governo em benefício de algumas corporações.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Pinto Monteiro se vai pedir a demissão.»

DAVE HARE

THE WORLD MARCH FOR PEACE