quinta-feira, janeiro 21, 2010

Os nossos políticos são como o vinho


Ao olhar para a nossa classe política concluo que os nossos políticos são como os vinhos, há anos bons e anos maus, os anos excepcionais são raros, no caso dos políticos são mesmo muito raros. Se no caso do Vinho do Porto de vez em quando há uma colheita que dá lugar à produção dos Vintage, já com os políticos há muito que não há uma colheita de que se possa dizer “benza-te Deus!”, a última geração digna dessa distinção foi a de Mário Soares, Sá Carneiro, Álvaro Cunhal (acabei de engolir um sapo a título de aperitivo) ou Amaro da Costa.

Daí para cá se os políticos fosse vinho só se aproveitavam para fazer vinho branco para fins culinários da marca Pingo Doce, e já estou a ser simpático pois bem engarrafado o branquito do Pingo Doce bem embrulhado ainda inspiraria muitos odores nos narizes de muitos enólogos amadores da Bica do Sapato. É um pouco como o José Seguro, o vinho branco do Pingo Doce engarrafado com uma garrafinha moderna e o rótulo de VQPRD teria direito a destaque na lista de vinhos dos nossos restaurantes de luxo, até porque as papilas gustativas de uma boa parte da nossa burguesia abastada é tão exigente como uma boa parte dos militantes dos nossos partidos.

Na nossa classe política há vinhos para todos os gostos, desde os brancos aos mais tintos, veja-se o caso de Manuel Alegre que com aquela voz de vinho encorpado anda a praguejar porque José Sócrates é rosé demais para o nosso gosto. Alegre assume-se como um tinto encorpado mas com taninos suaves para evitar as alergias. Aliás, a condição para alinhar com alegre é ser tinto, quanto mais tinto melhor, palhete nem pensar e rosé só mesmo para as ocasiões., aquilo não é um MIC, é uma adega do Ribatejo.

Se no PS o problema é haverem mais marcas de vinho do que de cerveja na Bélgica, cada morgadio dá direito a uma marca nova, no PSD o problema é ainda mais grave a filoxera deu cabo da vinha e a adega começa a estar vazia, a última garrafa que abriram estava há tanto tempo abandonada na garrafeira que acabou por se revelar vinagre. O problema do PSD é ainda a indefinição da marca, passam a vida a dizer que são rosé mas na hora da colheita só têm castas de branco. E como se sabe os brancos não têm grandes aptidões para envelhecer, perdem gosto e aroma, Cavaco e Ferreira Leite são um bom exemplo disso.
Santana bem se esforça por dizer que é da velha colheita, Passos Coelhos afirma-se como um vinho jovem produzido em modernas cubas de aço inoxidável, mas a verdade é que a adega está repleta de velhos cascos de carvalho que deixam o vinho com sabor a bafio.

Resta-nos o Louçã que é como o vinho de Lagoa, é a dar para o rosé mas com uma graduação bem acima dos tintos e o Jerónimo de Sousa que insiste em apresentar-se em velhos garrafões da Camilo Alves enrolados em vime. Resta-nos o Paulo Portas que se afirma como um vinho a martelo engarrafado em garrafas de chateau francês com rolha de plástico.