sexta-feira, março 12, 2010

As outras escutas

Parece que as escutas tornou-se algo tão normal em Portugal como os bufos do tempo da ditadura, sem sequer o Presidente da República as condena. Escuta-se intencionalmente, escuta-se por acaso, escuta-se por engano, basta alguém falar para se recear estar a ser escutado, até dizem que a PJ tem aparelhos que escutam através das paredes, a psicose das escutas até terá chegado a Belém, houve o receio de que Sócrates não escutasse o presidente apenas à quinta-feira.

Conhecidos jurisconsultos defendem a legitimidade das escutas e a sua divulgação, o presidente escutou o sindicalista dos magistrados a propósito de uma conversa que este escutou aos investigadores do Caso Freeport, as escutas tornaram-se uma regra a bem da democracia.

Se as escutas são saudáveis para a democracia todos temos o direito não apenas às escutas de alguns mas de todos, em nome da verdade e para que se apure toda a verdade temos o direito de saber algumas conversas que deverão ter ocorrido nos últimos tempos em Portugal. Por exemplo, eu gostaria de ter escutado ou de ter acesso à reprodução das seguintes conversas:

Se tivéssemos ouvido as conversas entre Cavaco Silva e Fernando Lima acerca dos receios de escutas a Belém ficaríamos a conhecer todos os contornos do processo, se Fernando Lima é apenas um desbocado ou se cometeu qualquer crime , se Cavaco está tão inocente neste processo como o tem afirmado com a voz embargada.

O conhecimento das escutas ao senhor Palma ajudaria o país a conhecer os contornos da acção de um sindicato que se farta de intervir na política e que não faz sindicalismo.

Ouvir as conversas entre Felícia Cabrita e os amigos do Ministério público permitir-nos-ia propor os nomes de alguns heróis desconhecidos para receberem das mãos de Cavaco Silva a Ordem da Liberdade, em nome da gratidão dos portugueses pelo que fizeram pela democracia ao entregarem à jornalista cópias de diversos processos judiciais, designadamente aqueles que nos últimos anos visaram sempre o mesmo, decapitar a liderança de um grande partido democrático.
Se as conversas de Manuela Ferreira Leite tivessem sido gravadas ficaríamos a saber quem soube primeiro do negócio da PT com a Media Capital, se ela ou se o primeiro-ministro.

Se um mero mail ia fazendo com que Cavaco Silva fosse despachado para Boliqueime o que seria se os portugueses em vez saberem apenas o que a Felícia Cabrita ou a Manuela Moura Guedes querem que se saiba, soubessem de tudo? Ou será que só o José Sócrates é que fala? Enfim, todos falam e só o pardal é que é gravado...