sábado, abril 10, 2010

Culto da personalidade

Sinal do nosso subdesenvolvimento ou um resultado da influência das organizações comunistas na nossa sociedade ou mesmo uma herança do culto do salazarismo, o culto da personalidade é uma prática comum a todo o espectro partidário. Louçã é a última Coca-Cola do da Serra do Caldeirão para os bloquistas, Jerónimo de Sousa é o operário da metalomecânica que na melhor tradição marxista-leninista simboliza a vanguarda do proletariado na liderança do Partido, Sócrates é o timoneiro que sabe para onde vai e a que todos devem obedecer mesmo que ninguém perceba muito bem qual é o rumo, Portas é o político machão de que a direita precisa.

Vale a pena abstrairmo-nos do debate político-partidário e observar como em relação a Pedro Passos Coelho está em curso uma grande operação de promoção do culto da sua personalidade, aquele que há poucos meses era um político vulgar a quem ninguém prestava grandes atenção, um funcionário de Ângelo Correia aconselhado por Nogueira Leite, um Sócrates de segunda como o consideravam os cavaquistas ou o que, em minha opinião, foi o mais parecido com Sócrates que os militantes do PSD conseguiram encontrar, é agora promovido a predestinado, rigoroso nas contas, gestor de sucesso e até nas “gajas” era o maior.

A ingenuidade dos seus gestores de imagem, oficiais ou oficiosos, profissionais ou voluntariosos, estão a criar a imagem de um Passos Coelho que é uma mistura de D. Juan e de menino Jesus que na idade adulta se transformou num yuppie de sucesso. Em menino só gostava de discutir com os mais velhos como fazia Jesus que fugia de casa para discutir com os sacerdotes do templo, em adolescente era o engatatão eficaz mantendo a preferência infantil pelo mais experiente o que o levava a ser uma amante eficaz ao aprender com namoradas mais velhas, em adulto mostrou a Cavaco que era digno da sua admiração de professor, foi o melhor aluno do curso, não se sabe bem se em Harvard ou na London School of Economics e Political Science.

Até apetece perguntar a este país, começando pelos militantes do PSD, onde estava com os olhos para não ter percebido que Deus se tinha lembrado da existência deste povo martirizado e nos tinha enviado um Messias. Mas enfim, pelo menos não foram precisos séculos para aparecer um imperador Constantino para o cristianismo se transformar na religião do império, os portugueses têm a sorte de ter um Ângelo Correia com olho para o negócio e que viu no engatatão de Vila Real a solução para o país.

Esta idolatração apressada e forçada de Pedro Passos Coelho, transformando-o em poucos dias de um clone de Sócrates “made in China” no político capaz de nos salvar pode ser o princípio do fim do dirigente do PSD. Vejam bem o que o Público, ansioso de se ver livre de Sócrates para vingar o seu patrão que por falta de generosidade do primeiro-ministro não o ajudou a comprar a PT a preço de saldo, caracteriza Passos Coelho, é um artigo que pode muito bem candidatar-se ao Guiness pelo recorde mundial de adjectivos e elogios a um líder partidário, nem o Granma foi tão longe em relação a Fidel Castro, só duma penada recebe mais títulos do que o Kim Jong-il.

Compreendo que o >Público tenha feito o melhor possível para agradar ao patrão, mas esta promoção do culto da personalidade pode ser tão exagerado que corre o risco de transformar o Pedro Passos Coelho num Enver Hodja transmontano, só falta mesmo assegurar que o líder usa sapatos melhores do que os Prada de Sócrates e do papa.