quarta-feira, maio 19, 2010

Estou a ficar farto de tanta ética

Num país que apodrece lentamente a ética é palavra mais usada pelos nossos políticos, tornou-se tão banal que já se tornou quase um adjectivo. A moda começou com a famosa “ética republicana” do PS, daí a haver ética para tudo foi um passo. Agora há ética para todos os gostos, até Cavaco Silva já aderiu à moda e na sua comunicação infeliz em que explicou que não queria perder os votos dos homossexuais escondeu os seus princípios ultra-conservadores atrás da ética da responsabilidade.

Confesso que já não sabia o que queriam dizer com “ética republicana”, não sei muito bem se estão a comparar a ética dos políticos portugueses de hoje com os políticos monárquicos do século XIX ou se nos estão a dizer que em Portugal temos valores éticos na política que os ingleses, espanhóis ou dinamarqueses desconhecem. Como não sei muito bem onde está a ética dos dias de hoje, não me recordo o que se passava por cá nos tempos da democracia e não me parece que os nossos políticos tenham mais ética do que os das democracias europeias com regimes monárquicos fico sem perceber o que se pretende com tanta afirmação da ética republicana, só se for para dizerem que somos melhores que os zulus.

Também não percebo muito bem o que será a ética da responsabilidade, sei o que é ser responsável o que é tomar decisões com responsabilidade, não percebo que forma superior é a ética da responsabilidade. Será que se não houvesse ética da responsabilidade Cavaco Silva ter-se-ia recusado a promulgar o diploma por entender que tal decisão tomada com responsabilidade violava os princípios da ética da responsabilidade?

O comentário de Jorge Lacão a propósito da decisão de Cavaco Silva é um bom exemplo desta banalização da ética, se Cavaco invocou a ética da responsabilidade o ministro dos Assuntos Parlamentares não ficou atrás e afirmou que à ética da responsabilidade o governo acrescentou a ética da convicção, enfim, mais uma.

Agora há éticas para tudo e mais algumas coisa, será que haverá também uma ética da falta de paciência para assistir a um debate político tão pobre? O governo era a favor do casamento de pessoas do mesmo sexo, propôs a sua legalização e o parlamento aprovou, Cavaco entende que o casamento pressupõe pipi e pilinha pelo que tentou chumbar o diploma gastando o dinheiro dos contribuintes com doutos pareceres e o seu envio para o Tribunal Constitucional, perante o aval deste tribunal optou por evitar uma derrota parlamentar e enfrentar o ódio dos gays em tempos pré-eleitorais e decidiu promulgar o diploma contra a sua vontade. Onde é que está a ética disto tudo?