quarta-feira, maio 12, 2010

Não é preciso ser economista

Não é preciso ser economista para perceber que a situação financeira do Estado é preocupante, que os défices sucessivos agravarão a dívida pública, que uma reacção negativa dos mercados resulta num aumento do custo dessa dívida agravando-a, que o sucesso fiscal assente na cobrança de dívidas se esgotou e agora resta uma máquina fiscal que não é tão moderna ou bem gerida como se disse e que a generosidade estatal com o objectivo de reduzir a pobreza nas estatísticas tem custos crescentes.

Não é preciso ser economista para se perceber que a crise internacional ainda não se dissipou, que a recuperação económica portuguesa será posterior à dos nossos parceiros, que as previsões de crescimento são “zipadas” e que com estes níveis de crescimento o desemprego continuará a aumentar e com isso aumentam os custos com o subsídio de desemprego e diminuem as receitas dos impostos sobre o rendimento e sobre o consumo.

Não é preciso ser economista para perceber que sem investimento não há crescimento económico, que a primeira condição para que haja investimento é a confiança na economia, que o mercado financeiro desconfia da capacidade do país para controlar as contas públicas, que essa desconfiança onera o acesso ao crédito e que isso tem por consequência o aumento dos custos de investimento.

Não é preciso ser economista para perceber que os investidores receiam investir num país onde os tribunais levam uma década a decidir, que a bandalhice nos nossos tribunais está a criar uma poderosa classe de vigaristas profissionais que criam dificuldades aos que cumprem as regras, que os nossos magistrados estão mais preocupados em abater políticos que incomodem os seus interesses corporativos do que fazer com que os tribunais funcionem.

Não é preciso ser economista para se perceber que os investidores desconfiam num país onde os partidos da direita se aliam à extrema-esquerda e onde esta representa quase 20% dos deputados, onde os sindicalistas profissionais da Administração Pública exigem aumentos superiores a 4% com o país à beira de uma situação de bancarrota, onde os sindicalistas não hesitam em pôr em risco a viabilidade de uma empresa como a Autoeuropa só para afirmar a influência política de um partido.

Não é preciso ser economista para se perceber que não se pode confiar em decisores económicos que em três meses passam as previsões do défice público de 5% para 8%, que uma política económica que em poucos meses aprova um OE, um PEC, um congelamento de obras e um PEC2 não inspira confiança.

Não é preciso ser economista para perceber que a quebra da receita fiscal foi muito superior à do crescimento económico e que não pode ser explicada apenas por este, que as medidas simpáticas para com quem não paga ao fisco destrói a crdeibilidade do fisco e estimula o incumprimento, que há nos gabinetes quem estaja mais preocupado em melhor a sua imagem como advogado do que em combater a evasão fiscal, que se dantes se falava de sucesso do fisco agora deve admitir-se que, afinal, este não é tão eficaz como se dizia.

Não é preciso ser economista para se perceber que algo vai mal na política económica e na gestão do fisco e que serão os portugueses a pagar pela incompetência ou oportunismo de alguns, que serão os portugueses a pagar pela bandalhice da justiça, que ser esses mesmos portugueses a suportar o prejuízo que muitas corporações estão a impor ao país.