sexta-feira, junho 25, 2010

Igualdade estatística

Segundo as estatística eu sou rico, por viver em Lisboa partilho dos rendimentos da PT, sou possuidor de uma parte da fortuna da família Espírito Santo e ainda tenho uns trocos gentilmente cedidos por Belmiro de Azevedo, por conta da actividade das suas empresas em Lisboa. Em contrapartida, um grande armador da Póvoa do Varzim é um pobretanas ao meu lado, quando me cruzo com ele na auto-estrada ainda posso gritar-lhe desde a janela do meu velho Hyundai (estou a mentir, acabei de comprar um Honda) “então seu grande teso, quando manda esse chasso de Mercedes SL S AMG para a sucata?”.

É por eu ser rico que quando vou a São Domingos de Rana tenho que pagar portagem na auto-estrada de Cascais, mesmo não havendo alternativa, enquanto que se ele for passar a noite com a amante num apartamento na Foz beneficia de uma borla em nome da solidariedade a que a condição de rico estatístico estou obrigado. No fim ficamos os dois mais ou menos na mesma, ele deixa de ser estatisticamente rico à conta das borlas pagas pelos meus impostos que, nesta situação, desempenham na plenitude o seu papel distributivo. Além disso, o país conseguiu o milagre, sem criar riqueza acabou com a pobreza!

Esta forma generosa e cega de distribuir dinheiro recorda os velhos métodos de aplicação dos adubos, para adubar a terra onde se encontra a semente espalhava-se adubo à volta, desperdiçando-se uma boa parte dos fertilizantes, gastava-se mais, produzia-se o mesmo ou menos e ainda por cima os terrenos ficavam intoxicados.

Neste país em vez de se pensar em criar riqueza perde-se a maior parte do tempo a discutir um cada vez maior esquema de borlas que servem para que a riqueza de uns vá parar à mão de outros, com a agravante de a máquina burocrática do Estado enquanto faz a gestão dessa redistribuição de riqueza consumir uma boa parte dos recursos. À conta da borla generosamente dada ao nosso armador da Póvoa do Varzim, há uma imensidão de administrativas, técnicos assessores principais, subdirectores-gerais e directores-gerais que fazem estudos preciosos para que o nosso amigo não só não pague a portagem como não seja incomodado no momento em que beneficia do direito inalienável à solidariedade nacional. Isto é, não só se consegue combater a riqueza como ainda se cria emprego, se algum dia um político se lembrar de acabar com isso terá a forte oposição dos sindicatos que nunca aceitarão a eliminação dos empregos estatais e muito menos que esses funcionários sejam deslocados para outros locais de trabalho.

Não sou contra a ajuda aos que mais necessitam e que devido a circunstâncias aceitáveis não estão em condições de atingir um patamar de rendimento que lhes assegure uma vida com dignidade. Sou a favor de ajudas ao rendimento a regiões que, por serem interiores ou por quaisquer outro motivo são penalizadas na competitividade, concordo que se deve usar o investimento público para promover o desenvolvimento de regiões desfavorecidas.

Mas a forma como o Estado polvilha regiões e grupos sociais com dinheiro fácil a título de ajuda não só não resolve os problemas de pobreza como gera injustiças, o que motiva muito dos argumentos oportunistas que nestes dias temos ouvido a propósito das SCUT. Há gente pobre que depois de pagar a casa e os impostos tem menos rendimento disponível do que muitos dos que recebem casa do Estado e rendimento mínimo, há empresas de Lisboa menos competitivas do que as dos interior mas que têm que suportar custos elevados na capital.

Esta cultura de oportunismo estimulada a todos os níveis, famílias, empresas e regiões, terá como resultado a preguiça nacional o que, aliás, é evidente no debate político dos últimos dias. Num país em crise em vez de vermos os políticos a discutir a melhor forma de criar mais riqueza, andam todos embrulhados a discutir a melhor forma de se dar o pouco que se tem ou, pior ainda, o que nem sequer se tem pois uma boa parte da generosidade estatal está a ser financiada com dívida externa.

Portugal é um país de políticos idiotas, doidos e irresponsáveis.