quarta-feira, junho 02, 2010

São todos muito competentes

Leio hoje no DN que o governo decidiu não reconduzir no cargo o presidente Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) sem que, todavia, sejam dadas mais explicações quanto à decisão. A mesma notícia refere que o presidente do IHRU decidiu recentemente anular um concurso a meio das provas de avaliação onde, coincidência das coincidências, o seu genro tinha sido reprovado por ter tido 7,5 valores na prova escrita.

É um caso inédito que revela coragem e pouca vergonha, coragem do júri por ter dado 7,5 valores ao genro do presidente do instituto e pouca vergonha deste por ter anulado o concurso argumentando que "não se incluírem na avaliação das competências técnicas ao exercício de determinada função”. Diz o responsável que a decisão nada teve que ver com o chumbo do genro que até falou " várias vezes com o júri (que é interno) e pedi para toda a gente passar à segunda fase, até porque tecnicamente havia perguntas profundamente erradas na prova de conhecimentos". Temos, portanto, um dirigente muito empenhado na qualidade das provas de avaliação e que não só interferiu nas decisões do júri como decidiu anular o concurso ainda antes de concluído e sem qualquer recurso ou queixa formal.

Daqui a uns tempos tudo será esquecido e os únicos prejudicados serão os que concorreram e viram goradas as expectativas em consequência do zelo do dirigente do serviço, a rir ficará o seu genro que poderá voltar a concorrer.

Este é um caso inédito, mas mesmo assim os portugueses, os tais que com os seus impostos pagaram os vencimentos e mordomias do presidente do IHRU, ficarão sem saber das causas da não recondução no cargo que, note-se, nem chega a ser demissão. Teoricamente estaremos perante uma mera falta de confiança e daqui a uns tempos veremos o homem noutro alto cargo porque foi amparado por outro ministro, por outra facção do partido ou mesmo por outro partido depois de convenientemente se ter mudado devido a conflitos ideológicos insanáveis.

Ficamos sem saber quem o nomeou para um alto cargo, com base em que competências o nomeou, porque mudou de ideias quanto à sua competência ou porque deixou de ter confiança, o presidente vai à sua vida descansado e o político responsável fica incólume e à vontade para continuar a nomear amigos, afilhados ou, muito simplesmente, “gajos” do partido. Numa Administração Pública que gasta uma boa parte das suas energias a avaliar funcionários os dirigentes entram em saem sem qualquer avaliação, chega-se a dirigente sem se saber como e sai-se sem se perceber porquê, é bem mais difícil passar nas provas de admissão de alguns serviços do Estado do que chegar ao cargo de presidente de um instituto ou a director-geral.

Nos Estado todos os dirigentes são, por definição, altamente competentes, os serviços podem afundar-se, podem funcionar mal, podem gastar exageradamente, mas os seus dirigentes limitam-se a acrescentar currículo e mesmo quando saem isso só sucede no fim dos mandatos e sem a mais pequena nódoa que os impeça de assumir novo cargo.

São todos muito competentes , pelo menos enquanto o povo português não perder a paciência. OS portugueses são tratados como accionistas de uma empresa chamada Estado em que os políticos combinaram impedir que possam ter opinião independentemente de serem chamados a sucessivos sacrifícios para suportar as consequências de tanta incompetência e oportunismo. Um dia destes os "acccionistas" do Estado vão ser obrigados a acabar com este imenso "esquema".

Ver a notícia do DN:

«O presidente do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), Nuno Vasconcelos, soube ontem que a ministra do Ambiente e Ordenamento do Território, que tutela o organismo, não o reconduz no cargo. A decisão foi tomada por Dulce Pássaro num momento em que a polémica está instalada no IHRU devido à decisão tomada por Vasconcelos de anular parte de um concurso para o preenchimento de 11 postos, no qual o genro foi chumbado.

Neste concurso, aberto a 4 de Setembro de 2009, para a carreira de técnico superior, o genro do presidente do IHRU, Vasco Mora, chumbou a prova escrita de conhecimentos com 7,6 valores. O que lhe impossibilitou a passagem à prova oral, a última etapa do concurso. Segundo documentação a que o DN teve acesso, nesta fase foram aprovados dois candidatos, com mais de 16 valores. Só que por despacho, de 12 de Maio de 2010, a que o DN também teve acesso, Vasconcelos, determina a anulação do concurso a partir da prova de conhecimentos, questionando algumas questões nela contidas "não se incluírem na avaliação das competências técnicas ao exercício de determinada função". »