sábado, junho 26, 2010

Só os pobres são portugueses?

Neste mundo globalizado, com mobilidade de capitais, off-shores para todas as facilidades começa a ser difícil falar em nação, a não ser que seja a propósito da bola e, mesmo assim, isso começa a ser difícil com treinadores como Queiroz, que acham que a selecção é daqueles que o apoiam. Dantes a justificação do capitalismo assentava no pressuposto de que capitalistas e trabalhadores concorriam para um mesmo objectivo nacional uns dando o seu trabalho, outros contribuindo com o capital.

Agora, no domínio da economia apenas os que trabalham entram no conceito de nação, há trabalhadores nacionais enquanto o capital é internacional. Poderão dizer-me que tal como há livre circulação dos capitais também existe livre circulação de trabalhadores. Mas não é bem assim, enquanto o capitalista pode dar uma ordem ao banco e segundos depois o seu capital é investido algures no mundo, o trabalhador não pode fazer o mesmo, aliás, sai mais caro a um trabalhador sair de Portugal para ir procurar trabalho na Alemaha no que investir em acções na Wall Street. Em limite, todos os capitais poderiam migrar para praças financeiras no estrangeiro enquanto tal cenário é impossível para os trabalhadores, os primeiros têm mobilidade total e quase instantânea, os segundos têm raízes e limites da mais diversa ordem.

O país é forçado a adoptar políticas de austeridade para tranquilizar os investidores e como alguns dizem, com razão, são os que trabalham que pagam a crise. A realidade é pior ainda, as poupanças de muitos dos portugueses ricos estão aplicadas nos grandes bancos internacionais e quando se diz que os investigadores seguem os conselhos das empresas de rating esquecemos que muito provavelmente entre esses investidores estão capitais exportados por portugueses, que os aplicaram na banca internacional, directamente ou via off-shores.

Isto é, enquanto os trabalhadores portugueses sofrem com a crise, alguns dos nossos capitais são melhor remunerados quando emprestados ao próprio país graças à especulação promovida pelas empresas de rating. Assim sendo temos três tipos de capitalistas portugueses, os que exigem a liberalização do despedimento para investirem, os que ajudam o país a afundar-se exportando os capitais e beneficiam dos ataques especulativos e os outros, que são cada vez menos.

Se apenas o trabalho assume objectivos nacionais independentemente da saúde da economia portuguesa e os capitais portugueses são investidos depois de transvertidos de crédito externo teremos de questionar se os donos desses capitais serão portugueses. Poderão sê-lo de um ponto de vista administrativo, nasceram cá e têm direito à nacionalidade, mas não o são enquanto nação, tal como o seu dinheiro não têm bandeira.